Elza Soares - Divulgação
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Por O Dia
Rio - Em 1953, uma Elza Soares ainda bem jovem entrava no palco do programa Calouros em Desfile, apresentado por Ary Barroso, vestida com as roupas da mãe, que era bem maior do que a menina franzina. Para evitar que as roupas caíssem, ela usou alfinetes de prender fraldas. O famoso apresentador ao se deparar com aquela figura improvável perguntou de que planeta ela vinha. A moça destemida, de voz rouca e imponente disparou: "Do mesmo planeta que o senhor, seu Ary, do planeta fome". Ali mesmo Elza soltou a voz e ganhou o programa com nota máxima.
Depois de 67 anos, Elza Soares sobe aos palcos com o disco 'Planeta Fome', que faz uma crítica social potente abordando temas como corrupção, preconceito e desigualdade social. Elza recebeu a coluna logo após um show na Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Além da voz irretocável e da atitude imponente, os alfinetes continuam no figurino, dando um toque especial e remetendo àquela menina que desbancou a arrogância.
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O seu último disco, 'Planeta Fome', aborda as questões sociais de forma muito clara. O que a Elza de hoje tem a ver com a jovem, que entrou naquele programa de calouros com as roupas da mãe para cantar?

Tudo! Tanto que a outra está aqui, continua a mesma coisa, nada mudou. A vida continua a mesma bagunça. Quando a gente pensa que o país vai melhorar, ele entra numa bagunça terrível, quando a gente pensa que o país terá uma saúde maravilhosa, vem essa bagunça. O Cristo Redentor continua de braços abertos, mas vemos muito ódio.
A sua história de vida é de muita luta, de sofrimentos, mas de uma força que é sobrenatural. Elza Soares tem medo de alguma coisa? De quê?

Não, tenho amor e agradeço por tudo o que passei e que me fez ser essa mulher.

Nas suas redes sociais você postou uma foto da década de 70. Foto linda em que aparece sem os cabelos. Que espaço a vaidade tem na sua vida?

Sou muito vaidosa porque eu me cuido para vocês, o público, e para mim. As pessoas merecem isso, me ver maquiada, bem penteada, bem cuidada.

Você não se cala, pelo contrário, a sua voz potente amplifica muitas vozes. Você já nasceu ativista? Você acha que ser artista é ser ativista?

Sim. Quem tem o microfone na mão tem liberdade de falar, então eu acho que ele tem que se expressar sempre. Calar é absurdo.

'My Name is Now' é o nome do seu documentário lançado em 2014. Quem vive de passado é museu?

Eu acho que passado é passado, meu nome tem que ser agora, o que eu tô vivendo com você agora. O que adianta eu pensar no que vivi lá atrás, se estou com você aqui e agora?

A cada duas horas uma mulher é vítima de feminicídio no Brasil e infelizmente a violência doméstica é muito presente nos lares brasileiros. O que você diria a essa mulher que sofre violência?

Eu sempre digo o seguinte: não se cale pelo amor de Deus! Não tenha medo de ir à luta, vá à frente, não se permita pancadas, não permita maus tratos, 180 é o número (fazendo referência ao telefone para denúncia gratuita e anônima de violência contra a mulher).

Você não tem idade, você vive! O que Elza Soares quer viver em 2020?

Não sei. Eu sei que quero estar aqui falando com você, falando com as pessoas e que Deus me permita se feliz.