Mulheres Rodadas: bloco criado há seis anos  - Foto/Berg Silva
Mulheres Rodadas: bloco criado há seis anos Foto/Berg Silva
Por Gardênia Cavalcanti

Além muito brilho e brincadeira, o carnaval pode e deve falar sobre coisa séria. A ideia de criar o bloco Mulheres Rodadas surgiu em 2014, depois que uma página do Facebook postou uma foto de um rapaz segurando uma placa onde estava escrito: Não mereço mulher rodada. O post viralizou, e numa conversa entre amigos, a jornalista Renata Rodrigues comentou que deveriam criar um bloco de carnaval com o nome “Mulheres Rodadas”. A brincadeira virou realidade, e em 2015, cerca de três mil pessoas participaram do cortejo no Largo do Machado, Zona Sul carioca. Seis anos depois daquele primeiro desfile, a coluna conversou com Renata sobre o que mudou de lá pra cá, sobre machismo e sobre a importância de falar desse assunto.

O que uma mulher precisa ser ou fazer para ser considerada rodada?

Ela precisa ter vivido muito. Sabe a frase célebre da Simone de Beauvoir, sobre tornar-se mulher? Para ser rodada, você precisa já ter se tornado mulher, o que quase sempre é dolorido, se você compreende as desigualdades implícitas a isso. Mas você precisa também ter  prazer, alegria e ser capaz de rir um pouco do machismo, do conservadorismo e da caretice.

O que melhorou e o que piorou para as mulheres no Brasil desde a criação do bloco, em 2015?

Nos últimos anos vivemos um período de ´plenitude´ dos movimentos sociais de mulheres e isso gerou um certo avanço nas políticas públicas, numa consciência um pouco maior da sociedade inteira do que é o feminismo e do que é a luta das mulheres por igualdade de direitos. Graças a isso, grupos como o Mulheres Rodadas estão na rua. No campo do feminismo, foi possível sair da academia, de partidos políticos e falar disso num bloco de carnaval, por exemplo, que não é um espaço institucional.

Por outro lado, enquanto existem grupos trabalhando por avanços e mudanças, há outros reagindo a isso. Os números sobre violência contra mulher são altos, estamos vivendo um momento de tentativa de desmonte das políticas já criadas, um retrocesso grande à própria compreensão do que é feminismo. Mas isso é um movimento de ação e reação, as mulheres continuam atentas e eu acho que vão continuar batalhando por liberdade, por direitos e por uma sociedade mais justa.

Hoje o bloco tem quantos músicos? Como é a participação dos homens?

O bloco tem cerca de 150 pessoas. Desde que foi criado o bloco teve homens, continua tendo e acredito que eles devem fazer parte dessa mudança. Toda a liderança do bloco é feminina, mas os homens estão lá para apoiar.

Vocês desenvolvem oficinas durante o ano. Como isso é feito e qual o objetivo?

As oficinas formam mulheres percussionistas, temos uma oficina de sopro e fazemos encontros de formação com debates sobre as questões feministas. Esse ano recebemos a visita da Anyelle Franco, irmã da Marielle Franco, que falou sobre o legado e trajetória de ambas.

Alguma novidade no bloco esse ano?

Teremos muitas novidades. Nosso cortejo desse ano traduz uma urgência de dizer o que precisa ser dito a respeito dos nossos direitos e também mostrará uma conexão muito forte nossa com os demais movimentos de mulheres de toda a América Latina. Vamos reproduzir a performance "Um estuprador em teu caminho". Levamos para o nosso repertório diversos gritos reproduzidos e criados nas marchas. Eu sou suspeita, mas sinceramente será de arrepiar. A gente consegue algo imprevisto, eu acho: transformar toda essa violência e opressão às mulheres em sonho, em carnaval.

 

 

 

 


Você pode gostar
Comentários