Úrsula e a princesa Sophia  - Arquivo pessoal
Úrsula e a princesa Sophia Arquivo pessoal
Por O Dia

Rio - E o que você faria se te dissessem que seria necessário ficar longe de seus filhos por tempo indeterminado? No Dia das Mães, a coluna faz uma homenagem a todas elas e em especial a quatro mulheres incríveis, profissionais de saúde, que estão em ambulâncias, hospitais e Unidades de Pronto Atendimento em uma rotina intensa para proteger as nossas vidas. O preço muitas vezes é abdicar do convívio com a família porque também é importante mantê-los seguros. Para elas, este Dia das Mães será diferente de todos os outros e daqui, a distância, aplaudimos todas as Úrsulas, Thamires, Arakeines e Adrianas.

“Senti que precisava fazer algo pelo mundo” - Há 38 dias, Úrsula Brandão não segura a filha Sophia, de apenas 1 ano e nove meses nos braços. Desde que a menina nasceu, ela equilibrava as tarefas do lar com a rotina de professora de enfermagem e planejava voltar à assistência depois que a filha já estivesse maior. No entanto, ela sentiu que num momento de pandemia era necessário somar esforços para salvar vidas e depois de uma semana de isolamento social, ela voltou para a linha de frente em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e em uma unidade de resgate pré-hospitalar.

“Eu não sei explicar muito bem o que passou pela minha cabeça para tomar essa decisão, mas eu acordei e percebi que precisava fazer algo pelo mundo, algo pela minha filha, enviei o primeiro currículo e cá estou” conta a enfermeira.

A decisão se tornou mais difícil porque para proteger Sophia, Úrsula precisou hospedá-la na casa da irmã e vai passar o primeiro Dia das Mães longe da filha. A distância é minimizada pelas videoconferências diárias, mas Úrsula não pensa duas vezes quando é perguntada sobre o que fará assim que esta fase passar. “Além de abraçar e beijar Sophia? Não consigo pensar em mais nada”, derrete-se.

 “Ela me pediu um abraço de aniversário e eu não podia dar” – Em 11 de março, a técnica de enfermagem Alessandra Ladeira começou a apresentar os primeiros sintomas de covid-19: febre, tosse e ausência de paladar. Ao chegar ao trabalho, um hospital municipal de Paracambi, ela foi atendida pelos colegas, fez o teste e voltou para casa. Contar para a família foi um desafio, afinal, ela precisaria ficar 14 dias sem ter contato com o marido e os filhos.

Adriana e a família reunida antes da pandemia - Arquivo pessoal

“É muito ruim passar por uma situação dessas, o aniversário da minha filha aconteceu durante o meu isolamento e ela me disse que não fazia questão de festa, mas queria apenas um abraço e eu não pude dar esse presente para ela”, lembra a técnica.

Seguindo todas as recomendações, Alessandra superou a covid-19 e já voltou ao trabalho. Os colegas fizeram uma recepção calorosa e dia a dia ela foi vencendo a insegurança. “ Eu voltei com medo, mas meus colegas foram incríveis, me sinto segura agora e muito realizada por estar fazendo o que eu amo e ajudando o meu próximo”, disse.

“A saudade aperta e eu só vejo a situação piorando” - Para trabalhar como enfermeira no Hospital Municipal Munir Rafful, em Volta Redonda, Thamires Christina Bento Oliveira deixa a filha Sophie aos cuidados de dona Adir, sua mãe. Desde que a pandemia começou, ela decidiu se afastar das duas, Sophie tem apenas dois anos e a mãe superou um câncer, portanto, pode ser mais vulnerável à covid-19. Apesar de falar com as duas todos os dias pelo celular, a saudade vem apertando.

 

Thamires e a filha Sophie - Arquivo pessoal

“Eu amo a minha profissão, mas sabemos os riscos que enfrentamos todos os dias, então foi mais sensato me afastar, mas a saudade machuca. A gente se fala sempre pelo celular e essa semana eu decidi vê-las de longe. Foi muito difícil”, conta emocionada. Para o fim da pandemia, Thamires já faz planos de férias para curtir a filha.

“Aqui em casa somos muito unidos, não poder abraçar é desafiador” – Quanta falta faz um abraço? Arakeine Cruz do Nascimento sabe responder essa pergunta com conhecimento de causa. Depois de alguns dias com sintomas da covid-19, ela foi diagnosticada e precisou ficar 14 dias sem contato com ninguém, ontem ela cumpriu o último dia de isolamento. O marido, que é enfermeiro se revezava com a mãe dela nos cuidados diários. Alexia e Arthur, os filhos, só viam a técnica de enfermagem a quando ela passava para ir ao banheiro e dava um tchauzinho à distância.

Arakeine e os filhos dentro de um abraço - FOTOS / Arquivo pessoal

“Somos muito unidos, ficamos o tempo inteiro juntos e esse isolamento foi muito difícil. Eu aproveito para fazer um apelo a quem ainda não acredita que estamos vivendo um momento muito grave: cuide-se, se puder, fique em casa, não saia sem máscara e tome todos os cuidados. Graças a Deus eu venci a Covid-19, mas muitos colegas estão morrendo, recebemos todos os dias dezenas de pacientes e cada um de nós tem um papel fundamental para que possamos superar esta doença”, alertou Arakeine.

E no Dia da Mães, com abstinência de abraços há 14 dias, a técnica pôde finalmente matar as saudades de seus filhos com um aconchego demorado. Feliz Dia das Mães.

 

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