Bianca se formou em Direito e, atualmente, trabalha para ajudar outras mulheres que passam pela mesma situação que elaReprodução

Olá, meninas!
No nosso Mulherão, vou trazer um pouco da história de uma militar transexual da Marinha que transformou a luta pelo próprio reconhecimento como mulher em um livro. Bianca Figueira é oficial superior reformada, afastada das próprias funções depois que decidiu falar para os colegas de farda sobre a própria transexualidade, em 2008. O direito pelo respeito, que deveria ser básico, se transformou em processo na Justiça e, até agora, aguarda julgamento no Superior Tribunal de Justiça.
A Bianca contou que, na época em que essas decisões foram tomadas, ela foi diagnosticada com um suposto transtorno mental provocado pelo “transexualismo”. “Eu estava lá há quase 22 anos e, de repente, no auge da minha carreira, ser mandada embora e ainda ser taxada de doente mental foi terrível. Eu não consegui na época nem me mexer. Isso tudo serviu também para me fortalecer. A gente é resiliente. E, hoje, eu sou uma pessoa forte, advogada, mestra, e tudo isso devido a essas quedas que me fortaleceram, que me ajudaram a seguir adiante".
A expressão "transexualismo", meninas, é completamente equivocada. Até 2019, ela constava na lista de Classificação Internacional de Doenças - a CID-10, da Organização Mundial da Saúde - como uma doença mental. Inacreditável, né? Somente naquele ano, a lista foi atualizada e a palavra correta para quem não se identifica com aquele sexo imposto ao nascermos, a transexualidade, foi considerada como uma condição relacionada à saúde sexual. A Bianca explica que a nova classificação é muito importante para este grupo.
“A população trans tem uma demanda de saúde pública notória. Tem o processo transexualizador, que é hormonal e precisa de médicos e endocrinologistas. Algumas também precisam de psiquiatras e psicólogos. Então, essa demanda só pode ser atendida, aqui no caso do Brasil, por exemplo, se tiver um código catalogado na CID. A transexualidade ainda está lá para proporcionar políticas públicas para essas pessoas”.
O que eu mais adorei da história de luta da Bianca é que ela se formou como advogada e, atualmente, trabalha para ajudar outras mulheres que passam pela mesma situação. Acreditem, meninas, ela não é a única. O livro Deixadas Para Trás, escrito por Bianca, reúne as histórias de outras cinco militares que passaram pelo mesmo processo de aposentadoria compulsória depois de se assumirem como mulheres trans nos quartéis. “Esse livro é fruto de uma dissertação de mestrado e traz a história das seis militares, eu me incluo, que foram reformadas das Forças Armadas sem direito ao contraditório, sem direito à ampla defesa”.
O livro veio em um momento de vitória para o público LGBTQIA+ contra a transfobia já que a Justiça Federal determinou que as Forças Armadas parem de aposentar pessoas trans compulsoriamente do quadro de servidores. “Esse livro vem coroar todo esse trabalho que está sendo disponibilizado à sociedade para que as pessoas conheçam as nossas histórias. As nossas histórias estavam escondidas, enclausuradas e, hoje, elas estão disponíveis para qualquer pessoa ter contato com a violência que sofremos. São fatos intoleráveis que não podem mais se perpetuar”.
Eu adoro essas histórias que inspiram, que nos fazem refletir sobre como estamos construindo a nossa sociedade. Graças à luta dessas que se reconhecem mulheres, podemos contar coisas boas e ecoar essas vozes tão importantes. Respeito à diversidade!