A atriz Helga NemeczykVinicius Pereira
Eu sempre soube que queria ser artista. Desde pequena, minhas brincadeiras nunca eram com boneca ou videogame, mas sim vestindo as roupas da minha mãe e criando personagens, ouvindo o disco saltimbancos, do Chico Buarque e fazendo todos os personagens em frente ao espelho. A verdade é que minha mãe não tinha condições de me colocar em um curso de teatro. Ela priorizava cursos que achava essencial, como inglês, natação. Então, só pude fazer o primeiro curso de teatro quando arrumei meu primeiro emprego, aos 18 anos. Assim comecei a fazer teatro infantil e peças na praça de alimentação de um shopping do Rio de Janeiro. Aos fins de semana comecei a fazer teatro musical e assim comecei na carreira.
Não sou casada, não tive filhos, mas sou uma pessoa que dá muito valor para a família e os amigos. Sempre que posso, procuro estar junto deles. Tenho meus sobrinhos, que são filhos dos meus irmãos, que eu amo demais. Estou sempre perto deles quando tenho oportunidade, dou muito valor a isso. Acho até que não me casei, não tive filhos, porque não soube muito bem equilibrar a vida profissional com a minha vida pessoal. Sempre coloquei o trabalho em primeiro lugar, então isso é uma coisa que tenho refletido e conversado bastante na terapia. Sobre buscar esse equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal.
A música veio antes na minha vida. Aprendi a cantar na igreja e na escola eu tinha aula de música. Então, desde os 13 anos eu sei cantar. A música sempre foi um complemento na minha carreira de atriz, por conta dos musicais. Quando comecei a me dedicar à carreira artística, decidi fazer aula de dança também, pois sabia que para fazer música eu tinha que cantar, dançar, interpretar. Aí fui para Londres, trabalhei como faxineira, babá e assistente de cozinha, para conseguir pagar meu curso de teatro lá. Fiquei em Londres por um ano. Quando voltei para o Brasil, comecei de fato a fazer peças mais profissionais, de teatro musical. Foi quando percebi que deveria fazer uma faculdade ligada à carreira artística e decidi fazer faculdade de cinema. Sempre soube que ser artista não era fácil e por isso, quanto mais funções dentro da arte, melhor. Durante a faculdade, coloquei na cabeça que não seria mais atriz e cantora, que seria diretora de cinema. Mas, no último ano, meu projeto final foi um filme que escrevi, um roteiro que eu estava dirigindo. Foi quando pensei: “Caramba, eu escrevi esse roteiro para mim, eu queria estar ali fazendo essa personagem!” Aí percebi que a minha paixão era mesmo atuar. Depois que terminei o curso, entrei para a Globo e fui fazer o Zorra e fiquei 10 anos lá, fazendo também teatro musical e não fiz mais roteiros.
O Zorra Total foi uma escola para mim. Na verdade, eu não tinha a intenção de ser humorista, eu queria ser uma atriz completa, que soubesse fazer drama, humor, cantar e dançar. Eu estava fazendo um musical e o Maurício Scherman, diretor do Zorra, foi assistir. Ele gostou muito do meu trabalho e me chamou para entrar no programa. Lembro que eu perguntei para ele: “Você me viu aqui fazendo um drama, um musical. Por que está me chamando para fazer um programa de humor?”. Ele respondeu que me colocaria nos quadros musicais, só que os quadros musicais eram quadros de humor. Então comecei a fazer humor. Foi então que ele disse: “Você também é uma excelente comediante, eu vou escalar você para fazer outros quadros aqui no programa”. Assim fiquei lá durante quase 10 anos, aprendendo com grandes humoristas, aprendendo a fazer televisão, foi uma experiência incrível de aprendizado e descobertas. Eu sempre vou ser grata por esses anos que passei no Zorra, mas agora gostaria que as pessoas me dessem a oportunidade de fazer personagens dramáticos. Queria ter oportunidade de mostrar também minha versatilidade, como eu fiz lá no Show dos Famosos.
Eu comecei a me interessar pela culinária quando participei do programa Super Chef Celebridades, da Ana Maria Braga. Eu me dei muito bem e descobri que era mais um talento que eu tinha. Quando o programa terminou, fui convidada para fazer um programa de culinária no YouTube, mas aí veio a pandemia e tudo parou. Mas eu resolvi continuar cozinhando, alimentando o Instagram do meu programa, o “Cozinhando com Helga” e veio esse desejo de escrever e montar um livrinho de receitas vegetarianas. Isso depois de ter encontrado no meio das coisas da minha avó, algumas receitas dela. Ela sempre teve o sonho de ser vegetariana e não conseguiu. Então resolvi fazer como uma homenagem, para deixar aquilo registrado e fazer uma renda extra na pandemia também.
Teremos uma peça de comédia, que não é um musical. Depois de muitos anos eu vou fazer uma peça que não é um musical, então estou muito animada. Essa peça é uma comédia romântica com três atores e nós ficaremos em cartaz no Rio de Janeiro, no segundo semestre.
Eu me acho um mulherão em muitos sentidos, inclusive no sentido literal da palavra, pois sou uma mulher forte, fisicamente falando. Mas me considero um mulherão por já ter passado por muitas coisas que deixam uma mulher com a autoestima baixa e que me fizeram perder a autoconfiança por um período, como por exemplo, traições. Mas eu sobrevivi! Também passei por momentos na carreira em que eu só era escalada para fazer trabalhos que evidenciavam o corpo, então me forcei a engordar para ser escalada para outros papéis. Depois disso, passei a odiar meu corpo e não me aceitar, foi um longo processo para eu voltar a me amar. Por isso hoje o meu recado para todas as mulheres é que não se diminuam para caber em lugar nenhum, nem profissionalmente e nem emocionalmente. Somos lindas e imensamente poderosas do jeito que somos!
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