Área de tecnologia e cibersegurança pode ser uma boa opção para o futuroMarcelo Camargo/Agência Brasil

Rio - O clima de renovação no começo de um novo ano desperta costuma despertar o anseio por algo novo em diversas áreas da vida das pessoas, inclusive no âmbito profissional. Atualmente, cinco em cada dez brasileiros (53%) estão pensando em mudar de emprego. Para grande parte desse grupo, o estopim foi a pandemia, que ocasionou em uma mudança de hábitos. É o que mostra uma pesquisa realizada pela Kapersky.
Apesar do desejo de mudar ser algo em comum, as motivações são variadas. O principal fator é a vontade de equilibrar a vida pessoal e profissional (50%), seguido pela busca por salários maiores (49%), desejo por uma função mais significativa (31%), assim como a redução da quantidade de tempo trabalhado (31%). Por sua vez, 14% dos entrevistados assumiram querer uma mudança pela vontade de trabalhar por prazer.
Ainda segundo o estudo, a área de tecnologia e segurança digital deve ter a maior demanda nos próximos anos, por conta da modernização dos processos e também do aumento dos ciberataques. De acordo com relatório recente da (ISC)², organização sem fins lucrativos especializada em treinamento para profissionais do setor de segurança digital, existe um grande interesse das empresas em profissionais de tecnologia, mas ainda falta mão-de-obra qualificada. Há pelo menos 600 mil vagas não preenchidas em cibersegurança na América Latina e o número de ofertas tende a continuar em ascensão.
“Há dez anos, ser o responsável pela segurança digital de uma empresa significava cuidar da instalação dos antivírus, fazer backups, atualizar os sistemas e ainda cuidar do bloqueio de acesso a sites e redes sociais. Atualmente, essa realidade é outra. A função dos profissionais de cibersegurança é saber equilibrar a necessidade de inovação da empresa com a continua proteção do negócio. Neste contexto, este profissional precisa lidar com uma novidade por dia, sejam elas tecnologias, ameaças ou técnicas de defesa. Se atualizar e se especializar é um desafio regular para acompanhar as rápidas mudanças do setor”, explicou Claudio Martinelli, diretor-executivo da Kaspersky para a América Latina.
A experiência de quem já viveu a mudança
Thamyres Vieira deixou uma carreira sólida no mundo corporativo para se tornar personal organizer - Arquivo Pessoal
Thamyres Vieira deixou uma carreira sólida no mundo corporativo para se tornar personal organizerArquivo Pessoal
Depois de passar dez anos no mercado corporativo, com um emprego estável, Thamyres Vieira realizou a vontade de mudar de área e decidiu empreender na área de organização. Ela contou que seu parâmetro mudou após a chegada dos filhos e que estava em busca de mais significado na vida profissional quando decidiu começar a Bella Organização, sua empresa de personal organizer.
"Um dia, lendo uma reportagem a respeito de uma palestra do Marcos Pingers, autor do livro “O papai é pop”, ele falava exatamente a respeito do trabalho: "Quando é preciso se ausentar para trabalhar e os filhos ficam chateados, qual é a melhor resposta? Sempre respondo para a minha filha que é para pagar as contas. Respondo o certo?” foi a pergunta de um leitor. Ele respondeu: "Você pode explicar que está indo realizar alguma coisa para as pessoas, que está contribuindo para a sociedade. Que a vida é crescer, achar um propósito e fazer algo que tenha impacto e transformação do mundo e, depois, uma vida mais satisfeita".
Confesso que isso me deixou com a pulga atrás da orelha", relatou.
"Fiquei muito tempo pensando nessa mensagem, por meses, e aí entendi que não queria simplesmente trabalhar por trabalhar, queria mesmo era fazer a diferença na vida das pessoas, mostrar aos meus filhos que o que importa é fazer o que se ama, ser feliz, e os resultados serão consequência natural.
É claro que tudo isso viria em um combo com inseguranças, julgamentos, trocar o “certo pelo duvidoso”, ter coragem e muitos desafios. Mas eu estava disposta a mudar", acrescentou.
No lugar de quem já passou por essa transição, Thamyres considera o planejamento indispensável. Isso porque, é importante pensar nos riscos e em como lidar com eles, caso aconteçam. Outro ponto relevante para ela é ver sentido na nova profissão, já que isso poder ser uma segurança de que está fazendo a escolha certa:
"Com toda certeza preparo, dedicação e planejamento são fundamentais para fazer sua transição de carreira. Paralelamente ao meu trabalho clt estudei e me preparei para essa transição, analisei os riscos, o quanto isso poderia impactar na vida financeira da minha família e no melhor momento eu decidi fazer essa transição. Pelo menos era o que eu achava, logo após um mês da minha transição de carreira veio a pandemia e, ela chegou para nos mostrar que não temos o domínio e controle de nada, mas o planejamento foi importante psicologicamente falando, pois isso me trouxe mais segurança neste momento tão delicado", explicou.
"Em uma determinada situação me perguntaram: “Você faria o seu trabalho de graça? Mesmo se fosse para não ganhar nada?” e minha resposta foi: “Posso te responder de olhos fechados, com certeza, eu amo o que faço” e na sequencia ouvi: “É, você realmente ama que faz”. É claro que precisamos de dinheiro, temos nossos compromissos e precisamos honrar com eles, mas o dinheiro não esta no topo da minha lista, quero poder ajudar as pessoas, mostrar o quão transformador é a organização na vida das pessoas", concluiu. 
O que dizem os especialistas
De acordo com os especialistas ouvidos pelo O DIA, a mudança de carreira é válida, mas deve ser tomada com cuidado. O ideal é que as pessoas possam unir o útil ao agradável, ou seja, buscar algo que goste, mas que também tenha um mercado de trabalho no mínimo otimista. Isso faz com que a transição seja mais fácil, já que existirão mais oportunidades disponíveis, como ressaltou o especialista em desenvolvimento humano e CEO da Gestão GMA, Alexander Costa:
"Ao buscar uma nova área de atuação, o trabalhador deve analisar as oportunidades de mercado e comparar com o que ele já tem certo. Entender o nível motivacional que o levou a buscar algo novo e levar em consideração o nível intelectual também e, caso precise ajustar, deve buscar se capacitar para a determinada vaga. Investir no capital intelectual, que é o conjunto de todo recurso humano, habilidade e conhecimento gerado pelo ser humano, é sempre uma boa oportunidade até mesmo antes da oportunidade aparecer". 
O coro foi reforçado pela consultora de RH e especialista em carreiras Dilza Taranto. "Para escolher uma nova área de atuação, deve-se considerar o que está sendo valorizado pelo mercado e o que a pessoa gosta de fazer. Esse é o ideal, porém difícil de conciliar. Por isso deve ser uma escolha feita com cautela e no momento apropriado. Em primeiro lugar, investir bastante em autoconhecimento, para ter certeza de que a mudança na carreira é a melhor alternativa. Muitas vezes uma mudança no local de trabalho, por exemplo, pode resolver".
Planejamento é a palavra chave
Seja qual for a área, uma coisa é fato: o planejamento é o caminho mais recomendado para quem quer ir em busca de novos horizontes. "Não se deve fazer nada de forma impulsiva e emocional. É preciso manter receita e fazer a transição aos poucos, levando em consideração todos os fatores que podem influenciar na sua vida. A ajuda de um profissional especializado é altamente recomendada. Depois de ter segurança de que a mudança na carteira é a melhor alternativa, faz-se necessário um planejamento, começando com o mapeamento de mercado e mapeamento das competências que possui. Recomendamos um plano de ação e segui-lo, fazendo os ajustes necessários", argumentou Dilza.
"A melhor maneira é fazer sem pressa para não acabar ficando sem os dois. Ao analisar a oportunidade, não desistir do emprego atual antes de ter certeza que a nova vaga lhe pertence. Fazer uma autoanálise e verificar se tem conhecimento adquirido para tal intento e buscar investir no seu capital intelectual. O melhor a ser feito é pesquisar bastante a nova empresa, entender os valores daquela empresa e fazer as contas, não levando em consideração somente o salário, mas como tudo que se permeia o cargo e os benefícios e não abrir mão da sua qualidade de vida, nem tudo é o valor, o preço em cifras, analisar o valor no todo e não em partes pode levar a uma decisão mais acertada", concluiu Alexander.