Placa que homenageava Marielle Franco foi arrancada e rasgada por dois candidatos do PSL - Reprodução
Placa que homenageava Marielle Franco foi arrancada e rasgada por dois candidatos do PSLReprodução
Por *LUIZ FRANCO

Rio - Uma campanha de financiamento coletivo para a confecção de 100 placas de rua em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco (Psol), iguais à que foi destruída por dois candidatos do PSL nesta quarta-feira, bateu sua meta em 20 minutos e arrecadou R$ 39.743, doados por 1.569 mil pessoas.

A maior doação foi da própria plataforma em que a campanha foi feita: o Catarse doou mil reais. O dinheiro que sobrar será doado para instituições que Marielle apoiava, indicadas por pessoas próximas a ela e integrantes do gabinete da ex-vereadora, e escolhidas por todos.

A campanha foi idealizada pelo Sensacionalista, site de humor com notícias fictícias. "A primeira coisa que a gente pensou, quando viu o que aconteceu, foi em fazer uma notícia. Mas, depois, a gente achou que podia fazer uma coisa diferente, construtiva, que tivesse um simbolismo maior", diz Nelito Fernandes, um dos sócios do site. "Porque a quebra da placa não foi apenas a quebra da placa, havia um simbolismo ali, do que a Marielle representou e representa", explica.

Nelito conta que, após uma rápida pesquisa na internet, foi estimado que seriam necessários aproximadamente R$ 2 mil para fazer 100 placas. Ele diz que já esperava que as pessoas iriam se solidarizar, pelo perfil do público que acessa o site, mas não imaginava que seria tão rápido. "A gente achou que ia levar uns 7 dias para atingir a meta, mas em 20 minutos já havia batido".

O financiamento foi feito através da plataforma Catarse, que não permite que o prazo seja alterado. Como a campanha começou às 22h40, eles só conseguiram entrar em contato com a plataforma e solicitar que ela fosse cancelada no dia seguinte. "Fomos dormir com R$ 4 mil e, quando acordamos, já estava em R$ 18 mil". "Aí a gente se viu com um problema que é raro: dinheiro demais". Então, aumentaram a meta para mil placas e decidiram doar o restante.

"Foi aí que começou uma corrente de solidariedade", afirma Nelito. "Primeiro, apareceu o dono de uma gráfica, oferecendo fazer todas as mil placas pelo preço de custo", conta. "Depois, fomos procurados pelo pessoal do gabinete da Marielle, para agradecer à campanha e se colocar à disposição para ajudar a gente na distribuição".

Ele também explica que a justificativa dos candidatos do PSL para rasgar a placa original foi que ela constituiria algum tipo de vandalismo, então as novas placas serão feitas com 90% do tamanho da original, e as pessoas não serão encorajadas a colocá-las sobre placas de rua, "para evitar que a acusação ressurja e isso volte a acontecer". 

"Em momento algum o patrimônio foi depredado, o que eu fiz foi uma intervenção artística", explica a autora da placa original, uma ativista que preferiu não ter o nome revelado por motivo de segurança. "Não é nem uma pichação, é uma coisa que você pode retirar a qualquer hora". 

A ativista conta também que não sabia que a placa permaneceria lá por tanto tempo, e que ficou marcada "com a sensação de respeito com o nome" de Marielle, afinal, qualquer um que passasse por ali poderia tê-la removido.

"O que me chocou mesmo foi a forma como eles fizeram, rasgando, dilacerando a placa e postando a foto daquele jeito", ela diz. "O Bolsonaro ganhando, vai ser uma perseguição a todos que defendem os direitos humanos, é um recado que eles tão dando", conclui. 

No dia 25 de agosto, uma administradora do grupo "Mulheres contra Bolsonaro" foi agredida na porta de casa.

Nelito, do Sensacionalista, chama a atenção para a intenção publicitária do episódio: "Embora não tivessem autoridade para tal, são candidatos a deputado que fizeram um gesto marketeiro para o público deles", diz. "Pra gente, foi muito surpreendente [negativamente], mas foi mais surpreendente ainda a solidariedade das pessoas e a vontade de dar uma resposta construtiva a isso", acrescenta.

Ele conta que as mil novas placas, confeccionadas com o dinheiro arrecadado, serão distribuídas no próximo dia 14, na Cinelândia, durante um ato que é organizado todo dia 14, desde abril, pelo gabinete da ex-vereadora. 

Marielle Franco foi morta no dia 14 de março deste ano, junto com o motorista Anderson Gomes. Ela foi a quinta vereadora mais votada do Rio em 2016. Até hoje seu assassinato é um mistério para as autoridades.

*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes

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