Debate dos candidatos ao governo do Rio de Janeiro, realizado nos estudios do SBT, no Rio de Janeiro, na noite desta terca-feira - Rafael Nascimento / Agencia O Dia
Debate dos candidatos ao governo do Rio de Janeiro, realizado nos estudios do SBT, no Rio de Janeiro, na noite desta terca-feiraRafael Nascimento / Agencia O Dia
Por *Cássio Bruno

Rio - Em crescimento nas pesquisas, Eduardo Paes (DEM) voltou a adotar uma postura agressiva contra Wilson Witzel (PSC) durante debate promovido pelo SBT, UOL e Folha de S.Paulo nesta terça-feira, nos estúdios da emissora, em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio.

Repetindo estratégia adotada em outros debates, Paes tentou colar a imagem do ex-juiz federal a Luiz Carlos Azenha, advogado condenado por ajudar na fuga do traficante Nem da Rocinha. Witzel, por outro lado, se defendeu criticando a corrupção e tentou associar a administração de Paes aos governos Pezão e Cabral.

Logo em sua primeira pergunta, o ex-prefeito citou uma conversa de WhatsApp entre Wilson e Azenha e indagou por quê o então juiz federal teria pedido para que o advogado pegasse dinheiro vivo em sua casa. Em sua resposta, Witzel se disse surpreso com a existência de um vídeo que sequer foi citado e fugiu da pergunta: "traficante de fuzil precisa ser abatido". Paes replicou: "não falei de vídeo nenhum (...) posando de caçador de bandidos, mas tem uma relação muito próxima a eles". Na tréplica, Wilson novamente se esquivou e reforçou o combate à corrupção.

Na pergunta seguinte, o candidato do PSC perguntou quais seriam as medidas de Paes para combater a corrupção, responsável pelo atraso de obras públicas. O candidato do DEM disse que o atraso nas obras acontecia por "incompetência de seu aliado, Crivella, e não corrupção" e defendeu a criação de uma Secretaria de Integridade Pública. As críticas à corrupção deram a tônica da postura de Witzel.

Em seguida, Paes voltou a falar da relação de Witzel com Azenha, citando também outras figuras que estariam próximas ao ex-juiz federal: Pastor Everaldo, presidente do PSC; Hudson Braga, secretário de obras de Cabral e Mario Peixoto, um dos empresários que mais investiu no governo Cabral. "Não é esquisito você deixar a magistratura pra advogar a tanta gente envolvida na Lava Jato?"

Witzel, que usava, além de um adesivo da própria candidatura, um adesivo de apoio a Jair Bolsonaro colado em seu paletó, classificou as acusações como "fake news" e rebateu: "Você já foi condenado sete vezes pelo Tribunal Regional Eleitoral pelas fake news". "Tenho relacionamento até mesmo com advogados ligados a você, apesar de você ser indiciado em dois inquéritos, lavagem de dinheiro e corrupção". Paes negou as acusações e disse que "é diferente você ser amigo de advogado, e você advogar". 

No segundo bloco, jornalistas fizeram perguntas relacionadas ao presidenciável Jair Bolsonaro aos candidatos. Paes foi questionado sobre relevar declarações do ex-capitão, e manteve a posição: "Não vi, na atitude do deputado Jair Bolsonaro, qualquer gesto de autoritarismo antidemocrático, pelo menos no convívio comigo". Já Witzel foi questionado se concorda com a declaração do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, de que atacar o judiciário é atacar a democracia, feita em resposta à fala de Eduardo Bolsonaro: "Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe: manda um soldado e um cabo". Witzel citou uma declaração feita pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) minimizando a fala do filho do presidenciável e depois reconheceu que "o STF tem sim que defender a ordem e a democracia". O candidato citou ainda uma confusão que aconteceu na porta da emissora antes do início do debate e chamou cabos eleitorais de Paes envolvidos no episódio de "gangue nervosinha". 

Ainda no mesmo bloco, indagado sobre a proximidade com os governos Cabral e Pezão, Paes resumiu a relação como uma "responsabilidade institucional" e disse que, se eleito, vai trabalhar em parceria com qualquer governo.

Quando questionado sobre sua provável política de enfrentamento nas favelas e seu discurso de que policiais devem atirar para matar, Witzel desconversou e citou a corrupção. "Vamos sim abater quem está de fuzil, mas de forma cirúrgica", se resumiu a falar.

O ex-juiz federal também foi perguntado se concorda com uma declaração de Jair Bolsonaro feita em 2008, em que o deputado federal defendeu milicianos. Após chamar a pergunta de "pertinente", Witzel não respondeu e falou sobre seu programa de segurança pública, criticando a lavagem de dinheiro. Em relação especificamente ao combate às milícias, prometeu importar um "sistema de monitoramento eletrônico semelhante ao que funciona na Inglaterra" para "patrulhar o Rio de Janeiro". 

No último bloco, em que os próprios candidatos voltaram a se perguntar, Paes questionou Witzel sobre seu auxílio moradia e outros privilégios. "Tudo que eu recebi foi legal". "Consegui chegar aonde cheguei fazendo os mais difíceis concursos públicos", respondeu o ex-juiz. 

Já Witzel aproveitou para criticar o "toma lá dá cá" de uma possível gestão Paes, citando alianças passadas feitas pelo o ex-prefeito. O candidato do DEM rebateu e falou sobre Pedro Fernandes (PDT) e Indio da Costa (PSD), derrotados no primeiro turno, que já teriam declarado apoio a Witzel em troca de cargos. "Meu governo não será loteado", replicou Wilson. 

O ex-juiz federal se comparou a Denise Frossard, juíza aposentada que ganhou notoriedade ao condenar a cúpula do jogo do bicho na década de 90 e concorreu ao governo do Rio em 2006, perdendo no segundo turno para Sérgio Cabral. Paes replicou que Denise já tinha uma história antes de concorrer, ao contrário dele.

Nas considerações finais, Witzel falou sobre "renovação na política" e Paes disse que a candidatura do ex-juiz federal é "desconhecida" e "no mínimo esquisita", ressaltando os pontos positivos de sua gestão como prefeito do Rio. 

*Com reportagem do estagiário Luiz Franco

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