Há receio de que bolsonaristas radicais também criem confusão no dia da posseReprodução
O assunto foi discutido em conversas reservadas entre emissários de Lula e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) antes mesmo do resultado das eleições. A cúpula do Partido dos Trabalhadores (PT) teme ainda que Bolsonaro, com a caneta na mão e poder editar medidas até o fim do ano, deixe a conta de novas despesas para o sucessor pagar.
O gabinete da transição deve ser coordenado pelo ex-ministro Aloizio Mercadante, que comandou o programa de governo. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e a ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Tereza Campello também integrarão a equipe a ser instalada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Interlocutores de Lula preveem que, diferentemente de 2002, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso mandou que todas as repartições prestassem informações detalhadas, o petista vai encontrar uma "caixa preta" nesse terceiro mandato. "Nós não sabemos como estarão as contas públicas em 31 de dezembro", disse o deputado Alexandre Padilha (PT-SP), que participou de várias conversas com empresários e representantes do mercado financeiro durante a campanha.
Em 2016, quando o vice Michel Temer assumiu a Presidência após o impeachment de Dilma Rousseff, houve muitos problemas na transição de governo. Embora Temer, que é do MDB, tenha dito que a foto emoldurada de Dilma seria mantida "em todos os recintos", funcionários de gabinetes do Planalto e da Esplanada dos Ministérios tentaram retirá-la.
O presidente eleito pode indicar até 50 pessoas para ocupar cargos especiais de transição governamental, com salários que vão de R$ 2.701,46 a R$ 17.327,65. Cabe ao ministro da Casa Civil nomeá-las e, em tese, os titulares dos órgãos e entidades da administração pública são obrigados a fornecer os dados solicitados pelo coordenador da equipe.
É a primeira vez, desde a promulgação da lei, que o chefe do Executivo terá de passar o bastão para seu ferrenho opositor, após uma disputa voto a voto, embalada por um clima de violência política.
Chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas) será o responsável por abrir diálogo com a equipe de Lula e encaminhar a troca de governo. Líder do Centrão, Nogueira já foi aliado do PT. Em 2017, disse que Lula havia sido "o melhor presidente da história" do Brasil e chegou a classificar Bolsonaro como "fascista".
Desde então, o ministro se tornou um dos mais poderosos do governo e virou adversário do PT. Uma ala do partido, no entanto, aposta que o pragmatismo de Nogueira falará mais alto, fazendo com que ele se reaproxime de Lula.
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