Rio - Os oito lados do octógono mais famoso do mundo ganharam cor — seis para ser mais exato. Após a primeira luta feminina do Ultimate, em fevereiro, o evento dá um passo ainda maior na democratização do MMA e, sem querer, hasteia a bandeira do orgulho gay, cravando-a no preconceito que ainda há no esporte.
A missão de fazer a primeira luta assumidamente homossexual do evento está nas mãos das ativistas da causa Jessica Andrade e Liz Carmouche. Assumidamente lésbicas, elas se enfrentam no UFC on Fox 8, dia 27, dispostas a provar que o sexo frágil ganhou músculos e é persistente em seus ideais.
A americana Liz, de 29 anos, faz questão de carregar consigo as cores do arco-íris. Seja num protetor bucal ou camiseta, ela é uma militante feroz em abrir espaço para que outras meninas possam segui-la.
“Faço tudo para mostrar quem eu sou e que superei as dificuldades. Quero que as pessoas saibam que também podem fazer isso”, afirmou a americana ao site da ESPN, em fevereiro, dias antes de perder o título dos galos para Ronda Rousey.
Num tom não tão chamativo, mas não menos engajado, a brasileira Jessica Andrade, 21 anos, está num relacionamento homossexual e se diz feliz por assumir o que é. O discurso é de guerreira que se orgulha de andar de cabeça erguida a despeito do preconceito.
“Defender minha própria opção sexual me deixa feliz. Estou bem assim, pois escolhi assumir publicamente. Quando a gente faz uma escolha, não temos que ter vergonha de sermos nós mesmos”, decreta, completando. “Nunca sofri preconceito, pois minha opção sexual nunca interferiu em minha profissão”.
A qualidade das mulheres dentro do cage cativou o até então tido como homofóbico Dana White, presidente do UFC. Antes de dar o braço a torcer, em 2012, ele afirmava que não havia meninas realmente boas no MMA. E vez por outra usava frases preconceituosas nas redes sociais. Mas os tempos são outros.
“Sei que as pessoas acham que sou homofóbico. Mas é a coisa mais distante disso”, ponderou o chefão. “Existem muitos atletas gays por aí, atletas, atrizes... É preciso ser corajoso para sair e admitir isso”, completou.
Com tanta confiança vinda de cima, Jessica sabe o que precisa fazer para não deixar passar a chance da sua vida. “O mundo vai ver que nossa opção sexual não muda caráter nem personalidade e, muito menos, nossa capacidade profissional”, decreta, hasteando a bandeira da igualdade.
Meta: manter a rotina de nocautes e finalizações
Nove vitórias e duas derrotas em um ano de 10 meses como profissional e experiência acumulada como se fora uma veterana do esporte. Diante do principal desafio da carreira Jessica Andrade espera ser paciente e saber usar a seu favor o fato de Carmouche vir de revés para a campeã dos galos, Ronda Rousey.
“Acho que cada luta é diferente da outra. Mas ela vai vir com mais cede ao pote. Porém, acredito que a Liz vai dar o melhor de si, e eu vou dar o meu melhor também”, analisa Jessica.
Uma curiosidade no cartel da lutadora é que ela jamais deixou a decisão chegar às mãos dos jurados. São quatro vitórias por nocaute e cinco por finalização.
“Minha intenção é nocauteá-la ou finalizá-la. Podem esperar uma guerreira que não desistirá facilmente”, avisou.
Bandeira gay significa diversidade
A bandeira do arco-íris, estilizada no protetor bucal de Liz, é símbolo do orgulho gay, que denota a diversidade. O artista Gilbert Baker a idealizou em 1978 com oito cores. Apenas seis, no entanto, foram mantidas: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e lilás.