Por rafael.arantes
Rio - Ele não fugia do pau, era veloz como o vento, e tinha no sangue a marca do artilheiro. Não foi à toa que ganhou do inesquecível radialista Valdir Amaral o apelido de “Vendaval”. Uma metáfora, que definiu com propriedade o estilo rompedor de Roberto Miranda, que fez história no Botafogo no final dos anos 1960. Foram 12 anos marcados com a conquista de títulos importantes, como dois Rio-São Paulo (1964 e 1966), o bicampeonato carioca 1967-1968 e a Taça Brasil de 1968.
Por onde anda%3F O vendaval Roberto MirandaMárcia Vieira / Agência O Dia

Foram 154 gols em 352 jogos, o nono maior goleador do clube. Com a mesma entrega, Roberto também jogou no Flamengo,Corinthians e Seleção, antes de se aposentar aos 33 anos por causa de uma série de lesões no joelho. Hoje, aos 70 anos, o ex-jogador continua vivendo do futebol. Participa de eventos, dá palestras e descobriu uma nova paixão em Niterói, onde vive.

“As cinco da manhã vou para a academia e aproveito para malhar. Sou viciado em exercícios. Vou dormir pensando nisso. Fico até uma hora e meia na academia e ainda malho aos sábados. Tive uma ruptura do ligamento cruzado que me fez encerrar a carreira. Por causa disso o médico me orientou a pegar peso para fortalecer o músculo. Fiz tanto que não parei mais”, entrega.
Roberto se destacou no BotafogoArquivo

Quem o viu em ação sabe o motivo de tantas lesões. Raçudo, Miranda não acreditava em bola perdida, o que lhe rendeu um extenso prontuário médico com direito a rompimento do tendão de aquiles e fraturas nas costelas, braço,clavícula e queixo, além de um grave problema no joelho:

“Era meu estilo,desde o juvenil. Os técnicos sempre falavam para não dar as costas para o adversário para não apanhar. Com o tempo aprendi, mas apanhei muito e também bati tinha que me defender”.

Depois de uma passagem brilhante pelo Botafogo, se transferiu para o Flamengo onde jogou apenas 11 jogos. Após brigar com o técnico Yustrich, por pouco não voltou para General Severiano: “A gente brigava, mas ele gostava da minha entrega em campo, eu era um exemplo para os jogadores. Tanto que foi ele quem me levou para o Corinthians”.

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Trocado pelo lateral Miranda, o atacante chegou ao Parque São Jorge em 1973. Fez apenas 77 jogos até 1976, quando uma cirurgia mal sucedida abreviou sua carreira:“São setenta anos bem vividos, atingi o topo no futebol. Não tenho nada a reclamar”.
INSPIRADO NO POSSESSO E FÃ DE FRED
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Cria do Botafogo, Roberto Miranda viu de camarote a melhor safra de jogadores da história do clube. Por morar debaixo da antiga arquibancada de General Severiano, ele assistia diariamente ao treino de craques como Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo, entre outros. E foi Amarildo sua maior inspiração. “Eu me espelhei muito no Possesso, que logo foi vendido para o Milan. Gostava muito do estilo dele, era muito rápido como eu”, relembra.
Perguntado se algum jogador de hoje teria o seu estilo, Miranda responde: “ Acho que o Fred tem alguma coisa parecida na hora do gol. Mas eu voltava mais do que ele, deslocava mais”.
Roberto defendeu a SeleçãoArquivo

CAMPEÃO DO MUNDO GRAÇAS A ZAGALLO

Roberto Miranda orgulha-se de ter disputado a Olimpíada de 1964, no Japão, e de ter feito parte do grupo que conquistou o tri mundial no México, em 1970. Um título que ele jamais teria no currículo se o técnico João Saldanha não tivesse sido trocado por Zagallo: “Eu tinha uma diferença com o Saldanha desde o juvenil do Botafogo, quando me recusei a fazer uma jogada, que ele pediu. Pouca gente sabe disso”.

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Mas com a saída de Saldanha tudo mudou. “Um dia, ele foi cercado pela imprensa no treino, em General Severiano. Depois ele pediu para sair do treino. Estranhei, mas quando cheguei ao vestiário fiquei sabendo da minha convocação”.
Ele fez 18 jogos pela Seleção e marcou nove gols. Na Copa de 70, entrou apenas nos jogos contra Inglaterra e Peru: “Joguei em uma época que só tinha feras. Fui reserva do melhor jogador do mundo. Uma honra”.