Por bernardo.argento

Rio - Aos 80 anos, o ex-treinador Evaristo de Macedo curte a merecida aposentadoria cercado da família, amigos e de Sushi, um simpático cãozinho da raça Yorkshire, que teima em não desgrudar do dono. O futebol é uma doce lembrança em porta-retratos, troféus e medalhas espalhadas na belíssima sala de seu apartamento com vista para o mar de Ipanema.

Na galeria de relíquias, lembranças do tricampeonato estadual do Flamengo (1953, 54, 55) e dos tempos em que conseguiu a proeza de ser amado pelas torcidas rivais de Barcelona e Real Madrid. São registros de mais de meio século, que dão a dimensão exata de uma carreira admirável, que começou como atleta no Madureira, em 1950, e terminou como treinador no Atlético-PR, em 2006.

“Militei uma vida toda no futebol, desde rapazinho. Hoje tenho 80 anos e não dá mais. Parei porque tive um problema grave no joelho. Também não tinha mais paciência para viagens, concentrações. Hoje prefiro ser torcedor. Acho até que fui além dos meus limites”, diz Evaristo, que até o ano passado recebia convites para ser consultor.

Evaristo de Macedo conta as histórias sobre sua carreira André Mourão / Agência O Dia

Hoje, a rotina começa cedo com a leitura dos jornais — que diz ler de cabo a rabo —, continua com caminhadas pelo calçadão e prossegue com a administração de alguns imóveis, mas pelo computador. Sair de casa só para viagens de lazer. Semana passada, ele esteve em Recife, onde foi homenageado pelo Santa Cruz por ter sido o treinador nas conquistas dos Estaduais de 1972, 76, 78, 79. Seu próximo destino é Salvador.

“Vão fazer um jogo comemorativo para lembrar da conquista do Brasileiro de 1988 do Bahia, do qual fui treinador. O Bobô já me intimou”, brinca Evaristo, que recebeu recentemente o título de cidadão baiano. Entre tantas homenagens, o velho mestre não esqueceu de uma marca que ainda não foi superada — e que dificilmente será. Se não bastasse ter atuado ao lado de lendas, como o argentino Di Stéfano e os húngaros Puskas e Kubala, até hoje Evaristo é o maior goleador brasileiro da história do Barcelona, com 178 gols em 226 jogos.

“Já disse ao Neymar que ele é o único que pode me passar, pois é novo e vai jogar uns seis anos lá. Também já disse a ele que sou o maior artilheiro do Brasil em um jogo oficial. Fiz cinco na Colômbia (9 a 0 no Sul-Americano de 1957). Até brinquei dizendo que vou torcer para ele não fazer mais do que isso na seleção brasileira e muito menos me passar no Barça. Vou mandar marcá-lo”, promete.

Aos 80 ano, Evaristo de Macedo aproveita a aposentadoria no seu apartamento em IpanemaAndré Mourão / Agência O Dia

Barça impediu parceria com Pelé em 1958

Uma das grandes frustrações de Evaristo foi não ter feito parte do grupo que conquistou a Copa de 1958. Apesar de estar em grande forma, ele não foi liberado pelo Barcelona. “O Carlos Nascimento (coordenador da Seleção) me disse que o Vicente Feola (técnico) queria que eu jogasse com um neguinho bom pra caramba, que tinha surgido no Santos, mas não deu”, lamentou.
Evaristo só enfrentou Pelé em um amistoso entre Barcelona e Santos: “Ele era fantástico, incrível, mas o Coutinho era muito bom. Foi a melhor dupla que vi jogar.”

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