Por pedro.logato

São Paulo - Uma celebração é o ambiente ideal para quem precisa extravasar. A euforia da conquista deixa a pessoa mais espontânea, sem medir atitudes ou palavras, na hora de expressar o seu sentimento. Em 2006, envolvido pelo clima de festa pelo título do Campeonato Mineiro quando defendia o Cruzeiro, Gil acabou virando parte do folclóre do futebol nacional. Enquanto era cercado por torcedores que invadiram o campo e tentavam levar peças do seu uniforme como relíquia, o atacante foi questionado se valia tudo naquele momento de festa. A resposta em tom de galhofa, dada ao vivo numa emissora de rádio católica, gerou indignação do repórter, mas virou sucesso na internet. A gafe passou a ser conhecida como Lei de Gil.

Gil acertou com o JuventusDivulgação

A frase, é claro, persegue Gil até hoje. "De forma nenhuma isso me prejudicou, mas também não me ajudou em nada (risos). Não foi por maldade, então levo na brincadeira, as pessoas falam comigo também em tom de brincadeira. A palavra que você fala tem sentido quando a maldade vem do coração", filosofou o jogador de 34 anos, recém-contratado pelo Juventus para disputar a Série A3 (terceira divisão) do Campeonato Paulista. Em sua estreia, no último dia 8, contra o Primavera, ele ganhou até um cântico, inspirado na célebre frase de 2006: "A-E-I-O-U! Na Javari só não vale dar o c*", gritaram os torcedores da equipe da Mooca. "É engraçado (risos). No fundo, isso é um reconhecimento. Se fosse qualquer outro jogador desconhecido não teria essa repercussão", disse.

Foi por não ser um mero desconhecido que Gil optou por voltar ao futebol depois de quase cinco anos sem disputar partidas oficiais. Após a conquista do Mineiro pelo Cruzeiro, o atacante revelado pelo Corinthians e convocado à seleção brasileira no auge da carreira teve passagens frustradas por Gimnástic (ESP), Internacional, Botafogo e Flamengo. Ele atribui a queda de rendimento ao ambiente competitivo por vaga na equipe titular que os grandes clubes impõem. Em 2011, e há 14 meses sem clube, recusou uma proposta do União Mogi, na época integrante da quarta divisão paulista, anunciou a aposentadoria, aos 30 anos, e aproveitou suas economias para descansar.

"Praticamente eu tirei férias. Parece que não, mas vida de jogador de futebol começa com 13, 14 anos. Você está buscando sua vida, sua afirmação no futebol, buscando seu lado financeiro, e faz isso sozinho, pega sua mochila e sai andando por aí. Parei porque estava estafado e cada dia que passa a cobrança fica maior. Se você não corresponde, está na hora de tirar umas férias. Vi que não estava correspondendo e decidi tirar o time de campo", avaliou o atacante, alçado aos profissionais pelo Corinthians em 2000. "Por isso hoje estou com condições para voltar e jogar por muito tempo. Tem jogador com 34 anos que está parando porque não saiu de atividade, sofre com lesões, é muito exigido fisicamente. Eu estava no meu limite, e com esse descanso tenho todas as condições de estender minha carreira", completou.

No fim de 2014, Gil ensaiou um retorno ao futebol, pelo ABC, mas ficou cerca de 40 dias no clube de Natal e saiu sem jogar. Começa 2015 no tradicional time da Zona Leste de São Paulo, que defende a liderança da A3 do Paulistão neste sábado, às 16h, contra o São José dos Campos, na Rua Javari. Sob sol forte e com o peso da idade, e da inatividade, ele sua a camisa nos treinos para qualificar um elenco basicamente composto por jovens. "É mais difícil voltar. Quando você está no dia a dia, espera uma lesão ou uma decisão do treinador para ganhar uma chance. Fora, não. Arrumar um clube que o queira, que tenha a estrutura para lhe dar condicionamento físico, que tenha o tempo e a paciência, que acredite... Tem uma série de fatores para o jogador voltar. É um recomeço, igual quando você tinha 14, 15 anos, você tem todo esse trajeto novamente. Claro que é mais fácil ter espaço porque a gente já carrega uma bagagem."

Para provar que ainda pode jogar em alto nível, vale tudo para Gil. Ou quase tudo.

Reportagem de Thiago Rocha

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