Rio - Um imenso bandeirão rubro tremulou soberano ao cair da tarde, na Baixada Fluminense. Era o sinal da volta de um gigante à elite do futebol carioca. Ao vencer o Americano por 2 a 0, gols de Léo Rocha e Ramon, ontem, no Estádio Giulite Coutinho, o América assegurou por antecipação sua volta à Primeira Divisão após quatro anos. De quebra, garantiu também o acesso da Portuguesa, com quem vai disputar dia 25, provavelmente no Maracanã, o título da Série B.
Não faltaram emoção e sofrimento antes, durante e depois do jogo. A torcida rubra seguiu à risca a primeira frase do hino (“Hei de torcer até morrer”) e compareceu em bom número (740 pagantes e 1.090 presentes), mesmo sendo às 15h de uma quarta-feira. De todas as idades e de todos os lugares. Com passos curtos e arrastados, apoiado em uma bengala, o aposentado Lino dos Santos, 78 anos, saiu de Vila Valqueire com uma almofadinha vermelha na mão para torcer.
“Sou otimista por nature<CW-9>za e sabia que iríamos subir. É muita emoção”, disse, com um largo sorriso no rosto, o torcedor que chegou a treinar entre os profissionais no time que foi campeão carioca, em 1960. Com passos bem mais ágeis, o estudante de jornalismo Gabriel Sawad saiu de Curitiba e enfrentou 13 horas de viagem de ônibus para torcer pelo clube que aprendeu a amar.
“Minha mãe arrumou parte do dinheiro e consegui o resto com amigos. Aqui no Rio fiz uma vaquinha e arrecadei o dinheiro para voltar. Valeu demais a viagem, não tenho palavras”, revelou, sem esconder a euforia pelo acesso.
Os amigos Paulo Coutinho, 67 anos, e Julio Cesar Guimarães, 61, também não conseguiram conter a emoção. Moradores da Taquara, eles levaram um enorme escudo do clube para celebrar uma paixão que nasceu na infância.
“Ganhei a primeira camisa do América há 66 anos quando tinha um ano. Aprendi com meu pai a amar esse clube. Desde então, vou a todos os jogos que posso e hoje (ontem) vamos subir”, garantiu Coutinho.
Quando o jogo começou, um misto de tensão e ansiedade tomou conta do estádio. Enquanto os cerca de 50 torcedores do time de Campos faziam barulho, apesar de serem minoria, os americanos ditavam o ritmo ao som da charanga.
“Vamos subir, Sangueee!, “Time de primeira”, entoavam os torcedores empurrando o time para a vitória. Mas a bola teimava em não entrar, apesar das boas chances de Somália, Léo Rocha e Accioli. Já o time de Campos não levava perigo algum.
No segundo tempo, a temperatura do jogo aumentou e os nervos ficaram à flor da pele. Mas o sofrimento só acabou mesmo quando Léo Rocha aproveitou um lançamento de Marcelinho e marcou o primeiro, fazendo o torcedor rubro explodir de alegria. Felicidade que ficou ainda maior quando Ramon fez o segundo, aos 42 minutos.
Era o início de uma festa emocionante, regada a lágrimas de uma paixão sem limite chamada América.
PRESIDENTE AGRADECE A ‘PAPAI DO CÉU’
Após o apito final, os jogadores se ajoelharam no centro do gramado para agradecer o acesso à Série A. Depois, carregaram em triunfo o presidente do América, Léo Almada.<CW-20> “Papai do Céu ajuda quem trabalha. E nós trabalhamos muito. Nosso esforço foi coroado”, disse o dirigente.
O meia Léo Rocha era um dos mais emocionados. Em 2012, na primeira fase da Copa do Brasil, quando jogava no Treze (PB), ele perdeu um pênalti ao arriscar uma cavadinha contra o Botafogo e seu time foi eliminado. Após o erro, perdeu o emprego, mas no América deu a volta por cima. “Nos últimos anos bateu na trave o acesso, mas hoje (ontem), eu passei a fazer parte da história. Agora vamos buscar o titulo”, garantiu o camisa 10.
Os experientes Somália e Jean comemoraram como se fossem principiantes. “Estou feliz demais. O grupo é maravilhoso”, disse Somália. “O América é um time grande e a torcida merece toda essa alegria”, afirmou Jean, carregando um bandeirão.