Por renata.amaral

Rio - A pouco mais de um ano da Olimpíada, o Brasil já recebeu, no Pan de Toronto, um retrato do nível de competitividade de seus atletas. É bem verdade que o grau de dificuldade da competição continental, em muitas modalidades, situa-se bem aquém daquele apresentado em Jogos Olímpicos. Mas algumas conclusões podem ser tiradas: se o Brasil envia ao Pan o que tem de melhor em determinado esporte e mesmo assim não consegue resultados condizentes, quais poderão ser as esperanças para 2016?

O quadro do atletismo, talvez o esporte mais emblemático de uma Olimpíada, é preocupante. Em Toronto, o Brasil ficou em oitavo lugar no quadro de medalhas da modalidade, com apenas uma medalha de ouro, seis de prata e seis de bronze. Os brasileiros ficaram atrás até mesmo de um país com pouco mais de 5 mil metros quadrados, Trinidad e Tobago. E não é de hoje que o Brasil está mal: zerou no quadro de medalhas do Mundial de Moscou, em 2013, e também na Olimpíada de 2012. Em Londres, 41 países pisaram no pódio ao menos uma vez.

"Esperávamos um número maior de medalhas, tanto no total como em ouros", disse o presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, José Antonio Marins Fernandes. "Mas devemos considerar que esta edição do Panfoi a mais forte no Atletismo, desde os Jogos de Indianápolis 1987, nos Estados Unidos", acrescentou o dirigente.

Fabiana Murer, que perdeu uma final do salto com vara de altíssimo nível para a cubana Yarisley Silva, vice-campeã olímpica, foi uma honrosa exceção, e demonstrou que não é carta fora do baralho.

Fabiana Murer ficou com a prata no salto com varaUSA Today Sports

Se o desempenho do atletismo não chega a ser surpresa, devido à decadência da modalidade no Brasil, a canoagem nacional deu uma boa demonstração de força. Na canoagem velocidade, o país conseguiu duas medalhas de ouro, ambas com Isaquias Queiroz. O tempo registrado pelo rápido baiano em Toronto no C1-200m (40s189) lhe daria o ouro em Londres. No entanto, essa prova foi introduzida na programação olímpica em 2012, e está alcançando grande progresso desde então. No Mundial de 2013, em Duisburg, na Alemanha, o azerbaijano Valentin Demyanenko foi campeão com tempo bem melhor: 38s462.

O judô não alcançou a meta estabelecida pela própria CBJ. Mas o objetivo era dos mais ambiciosos: "medalhar" em nada menos do que as 14 categorias. O Brasil foi ao pódio "apenas" em 13. "Metas têm de ser estabelecidas, e neste sentido mais acertamos do que erramos. O grande desafio eram 14 (pódios). Não deu, mas o resultado foi muito bom. Isso nos fortalece para os Jogos Olímpicos. O foco deste ano é o Mundial, e não o Pan", afirma Ney Wilson, gestor de alto rendimento da CBJ.

No Mundial do Rio, em 2013, o Brasil demonstrou força, com seis medalhas, sendo uma de ouro. Desde 1984, o judô brasileiro vai ao pódio nos Jogos Olímpicos.

Tiago Camilo se sagrou tricampeão do Pan-AmericanoUSA Today Sports

Outro tradicional carro-chefe do esporte brasileiro em Olimpíadas, a vela deixou a desejar em Toronto, com apenas duas medalhas de ouro, seis no total. O coordenador técnico da Confederação Brasileira de Vela (CBVela), Torben Grael, tem suas explicações. "O balanço final foi bom. Tivemos duas áreas no Pan, com as classes olímpicas e as não-olímpicas. Começamos uma reestruturação há dois anos e com a Olimpíada no Rio temos dado mais atenção para as classes olímpicas. O resultado foi animador com as cinco medalhas nas olímpicas", resumiu o polimedalhista olímpico.

As condições de velejo no Lago Ontário, com ventos fracos, cabe ressaltar, são radicalmente diferentes em comparação com aquelas aos quais os brasileiros estão habituados na Baía da Guanabara, local programado para as regatas olímpicas.
A natação vem deixando um retrato duvidoso: quais são as verdadeiras potencialidades? Promissoras, como demonstrado no Pan, ou tenebrosas, como sugerem os resultados do Mundial de Kazan, que está em curso?

Diferença de nível técnico à parte, o certo é que o cronômetro é o indicador mais seguro. Mesmo que tenham decepcionado na Rússia, alguns nadadores demonstraram grande capacidade. É o caso de Etiene Medeiros, por exemplo, que nadou os 100m costas em 59s61, tempo em tese suficiente para colocá-la na final olímpica. O 4x100m livre, velocistas como Bruno Fratus e Cesar Cielo, além de Felipe França e de nadadores dos quatro estilos, como Henrique Rodrigues e Thiago Pereira (este mais pelo histórico), também podem alimentar ambições.

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