Por pedro.logato

Rio - A final da Taça Guanabara entre Flamengo e Fluminense correu o risco de acontecer com os portões fechados. Que heresia! Imposição de torcida única, troca de liminares e agitação nos bastidores. Uma movimentação que em nada lembra a essência do clássico mais tradicional do Brasil, que detém um recorde praticamente impossível de ser batido.

No dia 15 de dezembro de 1963, Fla e Flu jogaram no Maracanã para 194.063 pessoas, recorde mundial para jogos entre clubes — atrás somente de Brasil 1 x 2 Uruguai na final da Copa de 1950 (199.854) e de Brasil 4 x 1 Paraguai pelas Eliminatórias da Copa de 1954 (195.513). O jogo, válido pela última rodada do Campeonato Carioca daquele ano, valia o título. E os rubro-negros fizeram a festa após o apito final com o placar em 0 a 0. Emoção inesquecível para quem estava na arquibancada.

“O jogo era às três e quinze e cheguei ao meio-dia. Comprei ingresso sem problema, sem confusão. Entre um degrau e outro da arquibancada, as pessoas sentavam de lado. Estava muito cheio. Antes do jogo principal, uma parte da torcida do Fluminense e outra do Flamengo se encontraram na área central da arquibancada e, juntas, foram aos dois lados, como se uma estivesse acompanhando a outra”, diz o tricolor Antônio de Almeida, administrador de empresas aposentado, 69 anos.

Para outros, a sensação de estar presente naquele Fla-Flu teve um significado ainda mais especial. “Foi a minha primeira vez no Maracanã. Tinha apenas oito anos e fui levado por um tio, que era tricolor. A ideia era ficar no lado da torcida do Fluminense, mas, como chegamos em cima da hora e já estava tudo lotado, tivemos que ficar no meio, onde as torcidas estavam misturadas”, lembra o músico rubro-negro Beto Cazes, 61 anos.

“Era tanta gente que entre os degraus foi criada mais uma fileira e as pessoas tinham que assistir ao jogo de lado. Algo inimaginável nos dias de hoje. No fim, a partida terminou zero a zero e eu comemorei o título. Meu tio, responsável por me levar pela pela primeira vez em um jogo de futebol, teve que aturar”, conta.

Flamengo levou o título de 1963Arquivo O Dia

A violência entre torcedores, que motivou o Ministério Público a solicitar a presença de uma só torcida em clássicos no Rio, felizmente, era algo que não existia à época.

“Terminou o jogo e desci a rampa do Maracanã, da estátua do Bellini, ao lado de rubro-negros. Os tricolores tristes, e eles cantando, festejando. Quase duzentas mil pessoas e eu não vi confusão durante todo o jogo”, completa Antônio. Bons tempos!

Matéria de Fabio Falcão Cazes e de Flávio Almeida

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