Por pedro.logato

Rio - Perto de completar 39 anos de carreira, Tite vive o ápice de sua trajetória. Com 100% de aproveitamento à frente da Seleção, carimbou com antecedência a vaga na Copa do Mundo da Rússia, em 2018. Após recolocar o Brasil na lista de favoritos, o treinador, no auge de sua popularidade, virou assunto nas redes sociais para que se candidatasse à presidência da República. Mas é à beira do gramado, fazendo o que mais gosta, que Adenor Bachi promete dar a sua contribuição para alegrar os brasileiros com a reconquista do bom futebol.

Tite vive lua de mel com a torcida brasileiraMaíra Coelho / Agência O Dia

VAGA ANTECIPADA NA COPA

“A gente tem que ter a inteligência de aproveitar esse tempo para crescer, consolidar e melhorar situações para chegar à Copa melhor, mais forte. É o grande desafio. Traz, sim, o alívio da conquista, que era uma coisa que não imaginava. Sei que os números são irreais. É uma curva fora do plano no contexto todo, porém satisfeito porque vem em cima de desempenho, não é um resultado aleatório. Vamos aproveitar. O Willian (Chelsea) pode ser titular, Gil (Shandong) era titular quando assumi, estão aí o Thiago Silva (PSG), o Alex Sandro (Juventus)...”

GRUPO ABERTO

“Não adianta só o técnico falar que o grupo está em aberto se na convocação, através de atos, ele não confirma isso. A classificação nos proporcionou isso. Mesmo correndo um risco de um desempenho um pouco menor num jogo ou uma falta de entrosamento ou a possibilidade de perder se tornar maior, há o enfrentamento contra a Argentina... Faz parte dessa preparação.”

UNANIMIDADE NO CARGO

“Ela é mentira. Tem muitas pessoas que não se manifestam, mas não gostam do meu estilo. Assim como não gosto do estilo de outras pessoas, porém respeito a qualificação, a conduta, a qualidade. São estilos, às vezes, diferentes. Divergir de estilos e ter pessoas diferentes nos fazem crescer.”

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

“Tomei muito pau, fui despedido, cometi erros. Os erros que eu cometi não foram premeditados, de querer fazer o mal para alguém. Esse erro não faço. Já ralei muito. Já parei de ser técnico, já virei comentarista por necessidade. Não pensei em ser técnico de futebol, pensei em seguir minha carreira como atleta. Não sou exemplo de ter programado a vida, ter estabelecido metas. Mas uma coisa eu sei: faço o que gosto.”

Tite classificou a seleção brasileira para a CopaEFE/Sebastiao Moreira

ATLETAS MARCADOS EM 2014

“Acho desumano o que aconteceu. Foi desumano, com os atletas e com a comissão técnica. A gente tem sempre a necessidade de encontrar culpado. Existe uma série de responsáveis, tanto por vencer ou por perder. Não tenho comigo preconceitos. Eu olho para o passado, vejo o que fez de bom, o que fez de errado. Mas não fico escolhendo se vou pegar só a parte ruim ou só a boa”.

RETORNO DE DAVID LUIZ À SELEÇÃO

"O Chelsea fez uma grande campanha. Mesmo com ele jogando numa função que a seleção brasileira não tem, ele é um jogador versátil. Ele pode jogar como líbero como vem jogando no Chelsea, ou pode jogar como primeiro meio-campista. Ele tem essa versatilidade. Eu conversei com o Conte (Antonio Conte, técnico do Chelsea) por telefone. Nós falamos de uma forma abrangente de toda a equipe e fundamentalmente do desempenho e da história dele. A história pesa. São 56 jogos pela seleção brasileira. E num momento importante, de oportunidade".

GABRIEL JESUS

“O trabalho que o Palmeiras desenvolveu o deixou muito pronto. Na Seleção e no City, parecia que ele estava jogando no Palmeiras. Soube que na Olimpíada ele falou para um atleta que iria cumprir uma função tática sem bola tal qual o Gabriel. Ele chegou para o cara, que é um pouquinho arredio, e falou: ‘Nós vamos fazer porque é importante para a equipe. Se nós tivermos que fazer isso 10, 15, 20 vezes, vamos fazer porque é melhor pagar esse preço para ganhar a medalha olímpica’. O moleque que fala isso é demais.”

NEYMAR COMO PUPILO

"Eu via o Neymar como um jogador do um contra um, da verticalidade, do gol, e ele me mostrou um outro lado, da assistência, de dar um passe para um cara que está mais bem colocado. Do tipo: 'Vocês vão colocar dois para me marcar? Vai sobrar alguém. Aquele alguém que sobrar eu vou dar a bola para ele e ele vai fazer o gol'. A capacidade que ele tem de assistência me impressionou. Ele está num processo de evolução como atleta, cumpre função tática. Em termos de maturidade está crescendo bastante. Abrindo mão de sofrer a falta e caracterizar a falta para ir para o gol".

NEYMAR COMO O MELHOR

“Dos que trabalhei, talvez o Ronaldo tenha sido o maior. Mas peguei o Ronaldo num estágio físico que não permitia essa condição. O Neymar está num processo de evolução. Cristiano Ronaldo e Messi já atingiram. Ele está com 25 anos. Para mim, a maturidade se dá com 28. Você mantém sua vitalidade física, mas mentalmente já é muito forte, é cascudo. Para mim, ele, Griezmann (Atlético de Madrid) e Hazard (Chelsea) serão os emergentes que vão estar no top substituindo os atuais”.

RODRIGO CAIO

"O Rodrigo Caio já tinha sido chamado antes do episódio do fair play. Foi convocado pela conduta pessoal e qualidade, atleta de alto nível".

OBSERVAÇÃO DE JOGOS

“Cada equipe que vou assistir o jogo, entro na cabeça do Cuca, do Zé Ricardo, do Abel Braga, do Roger... O que ele vai fazer? A adrenalina flui. Já estava assistindo às equipes do Sampaoli (novo técnico da Argentina), como faz o sistema, que características de atletas ele busca, como é a bola parada dele. Normalmente, uma equipe que troca de técnico vem com um grau de confiança e motivação maior”.

Treinador da seleção brasileira falou sobre políticaMaíra Coelho / Agência O Dia

ARGENTINA DE SAMPAOLI

"Se a minha margem de erro era de um, a do Sampaoli é de 0,5. Faltam quatro jogos para classificar a Argentina para a Copa da Rússia".

BRASIL X ALEMANHA EM 2018

“A primeira coisa que vem à cabeça é que fui para o estádio do Hertha, já sei onde vai ser o jogo. A gente vai estar bem lá. Vai estar num processo de maturidade, mais cascudo, mais tempo junto com os atletas, daqui a pouco, tendo perdido jogos, acredito que seja inevitável, tomara que não”.

OSCILAÇÃO DO TIME

“O que o técnico procura? É retirar todas as variáveis do jogo para que a imposição técnica da equipe prevaleça. Mas não existe isso. Não é o basquete. Uma bola de três no fim pode mudar. É diferente do vôlei, no qual, invariavelmente, o melhor ganha. No futebol, às vezes, não. Não gostaria de estar falando sobre isso (oscilação da Seleção). Mas não adianta”.

ESCREVER UM LIVRO

“Desde 2011, as pessoas depois do título brasileiro vinham: ‘Vamo, vamo...’ Quando ficar para escrever um livro, quero ficar essencialmente voltado para isso. Com a Seleção, fazendo outras coisas, não terei tempo para ser rico... Quero um conteúdo mais profundo, mais mergulhado na emoção, no relato. Um dia sim.”

RELIGIÃO

‘Sou católico. Sempre agradeço, peço paz, discernimento e saúde. Discernimento, isso a espiritualidade me dá. Independentemente da religião".

VINICIUS JUNIOR NO REAL

“Quantificar valores é muito difícil porque falamos de potencial de crescimento. Vinicius é um jogador tecnicamente diferente. Com 16 anos, ele faz coisas que são extraordinárias para a idade. Porém, ele terá que ter um tempo para maturar. As pessoas podem apressar etapas, mas não pular e entender que ele tem 16 anos e que vai errar mais, se deslumbrar com alguma situação”.

DESEJO DE TRABALHAR NO RIO

“Um de meus objetivos, antes de assumir a Seleção, era treinar um clube do Rio. Em 2013, encontrei com Celso Barros (ex-presidente da Unimed, então patrocinadora do Fluminense). Tivemos na iminência de acertar, mas o Fluminense não me contratou. Conversei com Hélio Ferraz (vice de futebol do Flamengo). O Flamengo estava quase caindo no Brasileiro de 2005, que Joel Santana salvou. Eu disse: ‘Eu mal conheço os atletas, o ambiente. Você precisa em oito jogos de um cara que está por dentro’. Tudo o que quero é treinar o Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo. Do Botafogo já tive sondagem, do Vasco, mas sempre procurei foi começar no início de ano, pois tenho uma margem de erro um pouco maior. Coisa que não tive na Seleção. Quando assumi, a margem de erro era pequena”.

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

“Não, não... Eu fico bravo com tanta impunidade, falcatrua. Se tem uma coisa que me machuca enquanto ser humano, é saber o quanto esses valores poderiam ser revertidos para ter uma igualdade social e educação maior. Isso me dói. Ela mata, a corrupção mata. Fiz meu desabafo. Não faria (política) porque não tenho... Assim como no futebol temos que ter um aperfeiçoamento. Gostaria que tivesse uma nova geração, um pouco mais limpa de políticos. Existem muitos bons e talvez esteja sendo injusto com alguns.”

NOVA GERAÇÃO DE TÉCNICOS

“Que bom que são gerações de profissionais que associam o estudo e a experiência do atleta. O Roger (do Atlético-MG) é assim. Nunca havia falado isso: convidei o Roger para ser o meu auxiliar-técnico quando ele parou no Grêmio. Ele disse: ‘Professor, me orgulha muito, mas eu preciso me formar, estudar’. Eu fiquei feliz. Jair (Ventura) tem nove anos de Botafogo, conhece o clube. O parabenizei pela campanha na Libertadores. Mas há outros que estão há mais tempo, mas que ainda são atuais, contemporâneos. Um exemplo, Abel Braga (técnico do Fluminense). Quer conceito mais atual do que o do Abel, que joga com qualidade técnica e velocidade nas transições?”

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