Rio - Palco de duas finais de Copa, do gol 1.000 de Pelé e dono de recordes de público do futebol, o Maracanã vai caindo no ostracismo e se afasta do povo. Com Flamengo e Fluminense fugindo cada vez mais de mandar jogos no local e pensando em projetos de casa própria, o outrora Maior do Mundo se vê com futuro indefinido. E a principal causa é o alto custo.
A dupla Fla-Flu está no meio de uma crise sem solução a curto prazo. Enquanto aguardam a nova licitação do estádio, têm que negociar com a Concessionária Maracanã — liderada pela construtora Odebrecht —, que é obrigada a manter a concessão por determinação da Justiça. Os clubes tiveram que assumir mais gastos (aluguel, segurança privada, limpeza), o que inviabiliza utilizar o estádio em jogos de baixo e médio apelo de público.
Desde o início em conflito com a concessionária, o Flamengo não tem mais contrato e precisa fazer acordos pontuais com o Maracanã. E os termos não têm sido favoráveis, o que vem afastando o clube.
Com um aluguel de 20% sobre a renda, mais o pagamento de contas de consumo e de operação de jogo, os rubro-negros viram a sua fatia do bolo diminuir muito no estádio.
FLA VÊ LUCRO CAIR
Em uma comparação entre borderôs de 2015 e 2017 é possível perceber o quanto o acordo atual não é vantajoso. Na final do Carioca, com mando rubro-negro e público de mais de 68 mil pessoas, Fla e Flu ficaram com apenas 32% da renda de R$ 3.242.130,00 (dividiram R$ 1.044.036,54). Menos do que pagaram em aluguel, contas de consumo, seguro, grades, infraestrutura e custo operacional da partida: R$ 1.335.152,16.
Já na decisão do Carioca de 2015, com público de 66 mil, Botafogo e Vasco ficaram com 46% da renda (dividiram R$ 1.543.115,86 de um total de R$ 3.286.580,00). No Brasileiro de 2015, o Flamengo levou 61 mil pessoas contra o Santos e arrecadou 47% da renda. A despesa com aluguel, grades e custo operacional somou R$ 758.784,31.
Por isso, o Flamengo apostou na Ilha do Urubu para jogos menores. Mesmo com gastos altos de operação de trânsito — para cumprir o caderno de encargo com a prefeitura — e com geradores, o clube vê o custo operacional, que gira em torno de R$ 180 mil, mais em conta. Por isso, Maracanã só em casos específicos e jogos decisivos.
"O Maracanã é estádio para setenta mil pessoas e a média de público dos clubes é menor. Há uma dificuldade para setorizar o estádio e direcioná-lo para públicos menores. A tendência é que cada vez mais seja usado para jogos grandes. Da maneira que é feito, para menos de trinta mil, fica inviável", explica o diretor de novos negócios do Flamengo, Marcelo Frazão.
Pelo lado tricolor, a mudança é mais drástica. Em 2014, o Fluminense assinou um contrato muito vantajoso que garantia o mínimo de lucro — recebia os ingressos vendidos nos setores Norte e Sul — e evitava prejuízo mesmo com públicos menores, já que nada pagava. Entretanto, para 2017, a concessionária conseguiu na Justiça que valesse um aditivo assinado no fim de 2016. Assim, o clube das Laranjeiras ficou obrigado a pagar aluguel e os custos operacionais em troca de receber toda a renda dos jogos. O que transformou o estádio em fábrica de prejuízos com público abaixo de 27 mil.
FLU PASSA A TER PREJUÍZO
No Brasileiro deste ano, contra o Grêmio, foram 11 mil presentes e um prejuízo de R$ 292.641,08. Já em 2015, o Fluminense levou 13 mil pessoas contra o Criciúma e arrecadou R$ 63.630,04. A diferença é de mais de R$ 229 mil e muito se explica pelos gastos que o Tricolor passou a ter no Maracanã. Aluguel do estádio, seguro, grades e custo operacional totalizaram R$ 449.717,51.
Restou ao Fluminense voltar a jogar em Edson Passos, que mesmo quando dá prejuízo de R$ 7.624,28, como aconteceu contra a Chapecoense, é muito menor do que aconteceria com um público de 7 mil no Maracanã (a despesa a ser coberta passaria de R$ 300 mil).
"O Maracanã se tornou muito caro. O padrão atual é deficitário e os clubes estão buscando outras opções. É claro que o equipamento precisa ser repensado. Com dois clubes à frente sem intermediários, os custos são reduzidos", disse o presidente do Fluminense, Pedro Abad.
Já a Concessionária Maracanã, que não tem interesse em manter a concessão por causa dos prejuízos nos anos anteriores decorrentes da mudança na licitação original (que daria direito a construir um estacionamento, por exemplo), se viu livre de arcar com gastos nos jogos e ainda consegue arrecadar com os clubes.
"O aluguel é uma fonte de renda para cobrir despesas necessárias à manutenção do estádio durante os 365 dias do ano", respondeu, por e-mail, a concessionária, que se exime de culpa em relação ao alto custo operacional do estádio: "Os custos com os fornecedores são negociados diretamente pelos clubes. Cabe aos clubes responder se é possível diminuí-los".