AGÊNCIA DE NOTÍCIAS/PARCEIRO - Vista aérea do Estádio do Jornalista Mário Filho, conhecido como Maracanã, Zona Norte do Rio, na tarde desta sexta-feira (01). Foto: Delmiro Junior/Parceiro/Agência O DiaDelmiro Junior/Parceiro/Agência O Dia

Por Alberto João e Danillo Pedrosa
Rio  - A realização da Copa América no Brasil, entre os meses de junho e julho, após desistência da Colômbia e da Argentina, assusta aos profissionais da área médica e científica do país. O DIA ouviu professores e infectologistas sobre os perigos que envolvem receber representantes de outros países, como delegações, equipe de arbitragem, organização e a imprensa sul-americana, no momento em que ainda temos mais de dois mil mortos por dia de covid-19. 
"O risco é grande pelo número de pessoas que vão circular pelo Brasil. Tanto do país, como de fora. Delegações internacionais e jornalistas brasileiros e de outros países. Esse aumento de circulação é preocupante, principalmente, porque são de diferentes localidades. A chance que temos de transmitir o vírus e variantes é muito grande. Ainda que usem máscara é preocupante, porque temos situações, como a sala de imprensa que são feitas em locais fechados e menos arejados. Além disso, cada país está com um ritmo da doença e variantes diferentes. O ideal nesse momento era não fazer a Copa América. Não foi feita na Colômbia por questões políticas e na Argentina por questões sanitárias. Aqui não estamos com a pandemia controlada. Não é seguro fazer a competição no país", garante Bruno Scarpellini, infectologista e professor da Puc-Rio. 
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O infectologista Edimilson Migowski explicou que em um ambiente controlado é "provável que a vinda ao Brasil das delegações estrangeiras e imprensa ofereça algum risco, mas que o problema acontece nas horas de folga de todos entre os jogos".
"Se as delegações e imprensa de cada um desses país vierem com os pilares de contingenciamento da Covid-19, como uso da máscara, vacinação em dia, álcool 70% e evitando aglomerações, é pouco provável que a vinda até o Brasil ofereça algum risco adicional. O problema é que temos a possibilidade das pessoas relaxarem nos momentos de folga desses pilares que são fundamentais. Sugiro que todo mundo seja responsável por responderem um questionário com uma declaração de bem-estar fazendo com quem sempre revistem quando tiverem sintomas frequentes da Covid-19, porque a enfermidade pode ser muito leve no início e pode contaminar outras pessoas. É muito importante que a cada uma das pessoas que recebem orientações quando tiverem sintomas do vírus. A coletiva de imprensa deve ser feita em local ventilado e não em uma sala de hotel fechada. Quanto mais arejado for o ambiente é melhor para não terem a chance de infecção. Vale lembrar que a covid pode dar diferentes manifestações clínicas. Quando alguém tiver suspeita a pessoa deve ir para medicação imediata e reforço no isolamento".
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'Fazer a Copa América no Brasil é um absurdo completo'
Chrystina Barros, pesquisadora em saúde da UFRJ, frisou que a realização da Copa América no Brasil é um "desrespeito total à vida".

"É um absurdo completo. Simboliza o desrespeito total à vida. Vai na contramão de tudo o que o mundo mostra que o caminho certo para controle da covid. Ainda que os jogos aconteçam sem público, haverá um número de profissionais envolvidos e pessoas de outros países que virão para cá".

Perguntada sobre uma forma sanitária segura, ela descartou qualquer possibilidade.

"Não existe bolha perfeita. Todas essas pessoas representam um risco tanto de trazer novas variantes quanto de levar e de aumentar o volume de contaminação. Por mais que se pense em medidas, recebemos a 14 dias do início a notícia de que haverá a competição no Brasil. Ou seja, nem tempo hábil para fazer os isolamentos mínimos adequados existe. É um total desserviço. Se existir então a hipótese de que a final tenha público, mesmo que com capacidade restrita, isso vai ser o escárnio, deboche total".
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O infectologista Alberto Chebabo, integrante do Comitê de Especialistas do Enfrentamento à Covid do município do Rio de Janeiro, citou que para o mês de julho é possível que o Brasil tenha uma nova onda de mortes e infectados, a terceira nesta pandemia da covid-19.
"O risco é o mesmo que tinha de ir para Argentina, ou seja, a gente está no meio de uma pandemia, com aumento do número de casos, elevado número de infecções, probabilidade alta de que em julho estejamos ainda pior, com nova onda. Os riscos são de vir para um local que tem alta transmissão de vírus e se infectarem. Para os jogadores, se ficarem em uma bolha, é menor que os riscos para imprensa e outras delegações, que vão trabalhar em outras atividades. Não entendo porque sair da Argentina e vir para o Brasil, porque a situação é semelhante".
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Alberto Chebabo disse que reduzir interações é um caminho para evitar a transmissão do vírus, mas que é complicado reduzir os riscos de contágio. 
"Para evitar a transmissão é diminuir o máximo as interações. Evitar se alimentar em restaurantes, fazer confraternizações, fazer afastamento, a cobertura da imprensa ser em estúdio com um número menor de pessoas. É muito complicado reduzir os riscos".
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Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro (SBI), explicou que o Brasil ainda vive um platô altíssimo no número de casos e mortes para covid-19.

"Há estados, como o Paraná que está em franca ascenção novamente. São Paulo num platô altíssimo e com cidades também com elevação do número de casos. Evitar a transmissão fazendo um evento desse creio ser impossível. Precisaríamos ter coberturas vacinais elevadíssimas. Temos várias variantes circulando e vamos importar e exportar mais com qualquer evento que promova aglomeração, seja no local, seja nos transportes".