Subsecretário que cobrou desculpas de Messi por cântico racista é demitido
Presidente da Argentina, Javier Milei, se posiciona em defesa dos jogadores: 'nenhum governo pode dizer o que comentar, pensar ou fazer à seleção argentina'
Julio Garro cobrou retratação de Messi por canto racista de jogadores da seleção argentina - AFP
Julio Garro cobrou retratação de Messi por canto racista de jogadores da seleção argentinaAFP
Rio - O subsecretário de esportes da Argentina, Julio Garro, foi demitido, na noite desta quarta-feira (17), após cobrar que Lionel Messi e Claudio Tapia, presidente da Associação de Futebol da Argentina (AFA), pedissem desculpas pela música racista cantada pelos jogadores da seleção argentina após o título da Copa América.
Além de decretar a demissão de Garro, o presidente do país, Javier Milei, afirmou que "nenhum governo pode dizer o que comentar, pensar ou fazer à seleção argentina". Pelas redes sociais, a vice-presidente da Argentina, Victoria Villarruel, também se manifestou em defesa dos jogadores.
Argentina es un país soberano y libre. Nunca tuvimos colonias ni ciudadanos de segunda. Nunca le impusimos a nadie nuestra forma de vida. Pero tampoco vamos a tolerar que lo hagan con nosotros. Argentina se hizo con el sudor y el coraje de los indios, los europeos, los criollos y… pic.twitter.com/Wkevi8TrVO
— Victoria Villarruel (@VickyVillarruel) July 17, 2024
"A Argentina é um país soberano e livre. Nenhum país colonialista vai nos intimidar por uma canção de campo ou por dizermos verdades que não querem admitir. Parem de fingir indignação, hipócritas", escreveu ela, em sua conta no X (antigo Twitter).
Relembre o caso
Durante a celebração do título da Copa América, conquistado no último domingo (14) diante da Colômbia, atletas argentinos entoaram cânticos xenofóbicos e racistas contra jogadores da França. A comemoração foi transmitida em uma live feita pelo meia Enzo Fernández em suas redes sociais.
"Eles jogam pela França, mas são de Angola. Que bom que eles vão correr, se relacionam com transexuais. A mãe deles é nigeriana, o pai deles cambojano, mas no passaporte: francês", diz a música, que já havia sido cantada por torcedores na Copa do Mundo de 2022, no Catar, quando a Argentina venceu a França na decisão.
Na quarta-feira (17), o subsecretário Julio Garro afirmou ao portal "Corta" que Messi e o presidente da AFA, Claudio Tapia, deveriam pedir desculpas oficiais. Embora o ídolo argentino não tenha aparecido nas imagens cantando a música, Garro entendeu que por ser o capitão da seleção, Messi tinha que se retratar em nome da equipe.
La Oficina del Presidente informa que ningún gobierno puede decirle qué comentar, qué pensar o qué hacer a la Selección Argentina Campeona del Mundo y Bicampeona de América, ni a ningún otro ciudadano. Por esta razón, Julio Garro deja de ser Subsecretario de Deportes de la… pic.twitter.com/o4JRC7gGB1
— Oficina del Presidente (@OPRArgentina) July 17, 2024
Após a declaração, Milei respostou, em sua conta no X, diversas críticas à cobrança do subsecretário. Garro tentou voltar atrás e negou a cobrança, mas não foi suficiente para evitar sua demissão.
Repercussão Mundial
O caso ganhou repercussão mundial e, embora o governo da Argentina defenda os jogadores, fora do país a situação foi recebida com negatividade. Na terça-feira (16), a Federação Francesa de Futebol foi à Fifa para cobrar explicações da Associação de Futebol Argentina sobre a música.
De acordo com informações da imprensa inglesa, na quarta (17), o Chelsea, clube de Enzo Fernández, abriu um procedimento interno para investigar o jogador, podendo, inclusive, acarretar em uma punição ao meio campista de 23 anos. Além disso, os colegas franceses de Enzo Fernández no Chelsea param de seguir o atleta nas redes sociais.
Após a polêmica, Enzo se pronunciou e pediu desculpas pelo ocorrido. "Quero sinceramente pedir desculpas pelo vídeo que postei no Instagram durante as comemorações com a seleção. A música inclui linguagem extremamente ofensiva e não há qualquer desculpa para essas palavras", afirmou.
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