Rodrigo TostesVenê Casagrande

O presidente Rodolfo Landim prometeu alavancar a marca do Flamengo e quer cumprir. O objetivo é ultrapassar fronteiras e explorar o mercado internacional. Com o clube rubro-negro cada vez em evidência mundo afora, a atual gestão quer tirar do papel o "Projeto Flamengo Internacional", que é a possível parceria com um time internacional.
Quem está no comando desse plano é Rodrigo Tostes, atual VP de Finanças do Flamengo. Tostes, inclusive, viajou à Europa após prestar consultoria ao COI durante as Olimpíadas de Tóquio. No Velho Continente, o dirigente se reuniu com clubes, bancos e investidores interessados, e deu mais um passo na missão de internacionalizar o time carioca.
Para esclarecer todas as dúvidas referentes a esse projeto, o Jornal O Dia entrevistou Rodrigo Tostes. O dirigente esclareceu o assunto, detalhou o planejamento e aproveitou para garantir aos torcedores que o Flamengo, caso feche parceria com algum clube, não irá deixar de investir no clube no Brasil.
* A entrevista foi feita no dia 21 de agosto, antes da reunião no Conselho de Administração, que ocorreu no dia 2 de setembro. No encontro, o Conselho Diretor apresentou o projeto, que foi amplamente aprovado pelos conselheiros presentes, inclusive por membros da oposição. O banco que tem conversas com o Flamengo para ser o investir é o Banco BTG Pactual.
Rodrigo Tostes - Venê Casagrande
Rodrigo TostesVenê Casagrande
VEJA ABAIXO A ENTREVISTA COM RODRIGO TOSTES:
Você quem colocou a bandeira do Flamengo na final das Olimpíadas entre Brasil e Espanha?
"Fui eu, sim. Eu estava fazendo um trabalho para o COI e não podia deixar de acompanhar a final. Eu estava com um amigo que trabalha há muito tempo na operação. No segundo tempo, eu consegui dar uma escapada para o outro lado e colocamos no lado que a TV estava gravando. Coloquei lá, voltei, tirei foto e mandei para alguns amigos. Eu não tinha dúvidas de que um dos primeiros a receber a foto iria ser você (repórter). A bandeira ficou lá. Foi um barato, foi bom e deu sorte."
Algo que você fez em Tóquio, durante as Olimpíadas, que você possa trazer ao Flamengo?
"Sempre tem. A gente sempre aprende, conhece gente, fala de futebol. Tem muitas coisas que foi interessante ver, algumas ideias que ainda vou apresentar aqui ainda. Coisa de estrutura que eu vi lá que acho que vale conversar com Gustavo Fernandes (vice-presidente Fla-Gávea). Foi um grande prazer acompanhar os atletas do Flamengo nas Olímpiadas. Tudo que consegui acompanhar, eu acompanhei. Experiência bacana."
Pode destrinchar o "Projeto Flamengo Internacional"?
"Eu vou explicar tudo o que posso explicar, pois muita coisa a gente ainda não sabe. O projeto faz parte de um plano de 2013, quando fizemos um plano estratégico para os próximos 10 anos. Quando a gente fez esse plano estratégico, a gente sabia que ia chegar em um determinado momento que íamos precisar fazer uma nova etapa. Essa já era uma das etapas discutidas. Esse trabalho, depois de 2019, ficou latente para gente que precisávamos dar um novo passo. A gente estudou nos Estados Unidos. Olhamos o mercado americano, como estamos olhando o mercado europeu. Chegamos a uma conclusão em relação ao mercado americano, o nível de incerteza em relação a Ligas... A gente estudou muito e chegamos a conclusão que esse primeiro projeto, se a gente for fazer, a gente não pode errar. Então agora estamos estudando em Portugal. Questão da língua, de facilidade de mandar jogadores e outra série de coisas. O que posso dizer de maneira bem clara é que não tem nada fechado. Notícias que dizem que o Flamengo assinou, que está avançado, não é verdade. O Flamengo não tem nada assinado. Vamos fazer as coisas com muita calma. Ainda temos que ver a questão de bancos, de investidores, aprovações dentro dos clubes. Vamos fazer isso para fazer isso no tempo necessário. A gente vê que o momento ideal para fazer isso é quando o Flamengo está bem. O Flamengo está bem, está robusto, capacitado, e precisa buscar novos mercados para evoluir. Indo para os novos mercados, a gente ganha marca, exposição de atleta, moeda forte entre outros. São vários fatores que estão levando a gente a estudar esse caso. Mas reforço que não tem nada fechado."
Então, Tondela ainda não é o clube definido pelo Flamengo?
"O Tondela foi um dos clubes que eu visitei e que a gente analisou. Como que vou conversar com investidor, conversar com Conselho de Administração do clube, conversar com banco, se eu não visitei os clubes. Eu preciso visitar os clubes para contar o que deseja. Eu preciso entender, saber a receptividade. Precisamos fazer esse trabalho. Ainda é um projeto. Eu reafirmo que vamos fazer esse trabalho com muita cautela. É uma decisão muito importante. Vamos fazer com muita calma. Está evoluindo, estamos sendo bem recebidos. A marca Flamengo é muito forte e tem muito valor e acho que podemos ter uma excelente oportunidade."
*As torcidas de Tondela e Flamengo se animaram com a possibilidade e criaram montagem juntando a camisa do clube português com o escudo do time brasileiro. (veja abaixo).
Camisa feita por torcedores do "Fla Tondela" - Reprodução Internet
Camisa feita por torcedores do "Fla Tondela"Reprodução Internet
Com quais outros clubes vocês conversaram na Europa?
"Não posso falar porque temos documentos assinados. Nem o próprio Tondela pode. Não posso adiantar porque estaria descumprindo um acordo com outros clubes."
O nome do clube terá "Flamengo"?
"A nossa visão é que sim, mas a gente não sabe como. Mas eu já adiantaria que trocar o nome do time não é o que a gente pensa. Se, eventualmente, a gente for para essas alternativas, a gente fala em adicionar e não tirar o nome do clube. Clubes em Portugal, em países europeus, são clubes centenários. Não pode chegar e trocar o nome do clube. Não seria positivo isso. Tem gente especializada que contrata para isso para estudar isso. A gente não vai chegar lá e tomar o clube. Tem uma comunidade, fãs do clube. Temos que encontrar um caminho, ir devagar, e trabalhar junto com o clube. Caso contrário, o Flamengo também perde. Isso é um trabalho natural. Tem que ter gente especializada para isso. Eu entendo a pergunta."
Não tem dinheiro para contratar para o Flamengo, mas tem dinheiro para ter um clube na Europa?
"O Flamengo vai entrar com a marca. Não vai ter desembolso de caixa de dinheiro do Flamengo. Toda a estratégia discutida até agora é com o Flamengo, aportando o direito de uso da marca. Então, para deixar muito claro, não vai haver troca de recursos, como deixar de investir no Brasil para passar a investir em outros lugares. O Clube não vai ficar em risco ou diminuir a capacidade de investimento aqui em função do clube na Europa. Zero isso. Toda a estratégia está sendo montada para explorar a marca. Estamos fazendo uma coisa inovadora."
Além da valorização da marca, o Flamengo ganha mais o que com esse projeto?
"Uma opção do nosso clube aqui e uma opção do clube de lá. Havendo interesse o Flamengo coloca atletas lá ou ao contrário, seria ótimo. Ter uma vitrine para vender atletas no exterior é um grande potencial que nenhum outro clube tem. Além da marca, tem essa questão de o Flamengo poder expor atletas lá."
Os dirigentes desse clube serão os mesmos que estão atualmente no Flamengo?
"Isso não está definido. É uma discussão que não está clara. Teremos investidores e isso vai depender da forma como negociamos com os investidores. A ideia ainda não está clara. Ainda tem várias etapas para seguir, mas está cada dia mais maduro. A gente tem interesse, e o outro lado tem interesse. O que posso garantir é que vamos fazer com muita calma porque a gente não pode colocar em risco a nossa operação aqui no Brasil."
Os clubes que vocês conversam fazem parte de qual divisão?
"Estamos trabalhando na Primeira Divisão ou Segunda Divisão. Menos do que isso não dá e não acredito que a gente teria o resultado que a gente espera com clubes da Terceira Divisão. Essa não é nossa estratégia. A estratégia é dar exposição aos atletas. É poder trabalhar numa Champions e, trabalhar com time da Terceira Divisão, fica muito longe de chegar a esse ponto. Eu acho que não é o caminho."
Mas apenas clubes de Portugal?
"Não necessariamente. A gente está olhando em vários outros lugares. É o que a gente agora está se dedicando mais a estudar. O que a gente acha que o primeiro investimento é que não pode errar. Então vamos trabalhar para tentar encontrar o melhor cenário possível. Portugal é uma boa oportunidade. Questão de vistos, adaptações fáceis, mas não é o único país que estamos olhando."
Rodrigo Tostes - Venê Casagrande
Rodrigo TostesVenê Casagrande
Os clubes procuraram o Flamengo ou o Flamengo procurou os clubes?
"Os dois têm acontecido. A gente tem recebido interesses de alguns clubes querendo conversar, querendo parceria. São detalhes que ainda estão sendo analisados para saber se vale a pena conversar. A gente não tem pressa. A gente acredita que o momento é muito bom."
O projeto pode sair do papel ainda em 2021?
"Não sei. Não depende só da gente. Não depende só do Flamengo. Tem que ter alguém na outra ponta aceitando valores que a gente acha que faz sentido."
Você vai voltar à Europa para falar novamente com os clubes?
"Não. Eu acho que a visita que a gente precisava fazer, fizemos. Acho que a próxima etapa precisa ser feita aqui no Brasil, que é reunião com investidores, parte jurídica... Agora é colocar as pessoas para trabalhar."
Os demais vice-presidentes são a favor desse projeto?
"A gente apresentou o conceito no Conselho Diretor há dois meses e foi amplamente favorável. Todo mundo adorou a ideia do ponto de vista de internacionalização da marca. E agora, dia 2, vamos fazer uma nova apresentação para conhecimento no Conselho de Administração do clube. Não existe nenhuma chance de fazer isso dentro dos ritos que tem que fazer. Mas sinto dos vice-presidentes total apoio nesse sentido. É algo que a gente está fazendo, com o direito que a gente tem, sem o investimento financeiro e que vai ser um crescimento do clube. A gente não está colocando capital e nem está perdendo nada. Eu vejo muito positivo toda a estrutura e acho que vai ter apoio para aprovação."
Tostes junto com outros membros da diretoria do Flamengo - Alexandre Vidal
Tostes junto com outros membros da diretoria do FlamengoAlexandre Vidal
O que diz o estatuto do clube em relação a esse tipo de projeto?
"Precisa de aprovação. Está tratando de um direito do clube. Tem que passar em todas as instâncias."
De 0 a 10: qual escala está para esse projeto sair do papel?
"Acho que chegamos na metade. Já tem muito trabalho feito, está na metade, sendo amadurecido, mas não está finalizado. Muitos fatores precisam ser debatidos. É uma decisão muito importante. Teremos que sentar, estudar. Será um processo democrático dentro do clube. Se os Conselhos decidirem que a gente não vai fazer, a gente não vai fazer. Não tem nada assinado."
Vocês quere seguir exemplo de algum clube que já tenha feito algo parecido?
"Na verdade, os exemplos que se internacionalizaram, como o Manchester City e o Red Bull. Mas queremos usar um outro ativo. O ativo que queremos usar é a base, formação, e a quantidade de atletas, e a grande torcida que a gente tem que poderia passar a consumir o outro time. O conceito é parecido, mas o que está por trás desse plano de negócio é diferente."
O investidor que será parceiro do Flamengo nesse projeto precisará desembolsar em torno de quanto?
"A gente está no processo de finalizar com o banco agora, de contratar com o banco. Não será o Flamengo que irá buscar esses investidores. A gente tem duas ou três ofertas de banco. Devemos, primeiro, passar pelo Conselho de Administração, para passarmos para eles quais as nossas ofertas. Por isso ainda não fechamos os modelos, mas estamos estudando."
Recado para os torcedores que acham que esse projeto pode atrapalhar a vida do 'Flamengo brasileiro'?
"Para deixar o torcedor tranquilo é que não vamos fazer nada que colocará em risco o Flamengo. O nosso caminho é de 'exponenciar' a marca do Flamengo. O torcedor pode ficar muito tranquilo. O que estamos pensando será um divisor de águas para um futuro do bem."