Por O Dia

A história de Luiz Edmundo Lucas Corrêa se confunde com a de muitos meninos pelo país afora. De origem humilde, alimentava o sonho de ser jogador nos campinhos de terra batida. Era ali, de pés sujos, que se sentia Jairzinho, craque do Botafogo. Aos 6 anos, costumava varrer a calçada de uma mercearia em Lar do Trabalhador, comunidade pobre de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Em troca, ganhava doces. Vem daí o apelido com o qual foi imortalizado na galeria de um dos maiores clássicos do mundo. Sim, o garoto cresceu e precisou de apenas alguns minutos para fazer companhia a Dinamite, Romário, Zico, Adílio... Foi de Cocada o gol do último título que o Vasco conquistou sobre o Flamengo, na noite de 22 de junho de 1988, na decisão do Carioca.

"Entrei aos 41 do segundo tempo, marquei aos 44 e fui expulso aos 45. Não tive uma carreira brilhante, mas sou privilegiado por ter feito aquele gol com uma camisa tão pesada", orgulha-se Cocada, que trocou a Estrela Solitária da infância pela Cruz de Malta: "Foram três anos em São Januário, tempo suficiente para virar vascaíno para sempre".

O Vasco entrou naquela final com um ponto de bonificação, já que havia conquistado o segundo e o terceiro turnos — os rubro-negros tinham vencido o primeiro. A vitória por 2 a 1 no primeiro jogo decisivo valeu a vantagem do empate na final. A partida se encaminhava para um 0 a 0, até que Bismarck roubou a bola e acionou Cocada, que disparou e deu um corte seco em Edinho antes de soltar a bomba no ângulo de Zé Carlos. Dispensado do Flamengo pelo técnico Carlinhos, na comemoração atirou a camisa no banco do rival.

"Não imaginava mais que entraria, estava até com as chuteiras desamarradas quando o Laza (Sebastião Lazaroni) me chamou. O Flamengo estava em cima e, quando recebi do Bismarck, fui para o ataque para aliviar a pressão. Os dias seguintes àquele campeonato foram uma loucura. Não tinha mais cocada em lugar nenhum, os vascaínos compraram tudo para dar aos amigos flamenguistas", diverte-se o herói que, antes de ser expulso, recuperou a camisa: "Tá louco que ia deixá-la pra trás! Anos mais tarde, dei ela de presente para o médico que operou meu pai".

O tempo passou e, depois de uma série de conquistas épicas nos anos 90 e 2000, os dias para o Vasco ficaram amargos. Para Cocada, porém, o investimento pesado que o Flamengo fez lhe dá apenas o favoritismo, não a certeza do título.

"Se eu fosse o Valentim, não estaria dormindo direito. Vi a partida contra o Avaí, o time não passa confiança. Mas tudo pode acontecer num clássico decisivo", ressalta o ex-atleta: "Fico triste que o Vasco tenha desenvolvido essa dificuldade de bater o Flamengo em finais. Até aquele timaço com Romário, Juninho perdeu, são coisas do futebol. Uma hora acaba".

De volta ao ponto de partida, Cocada se formou em Educação Física e hoje trabalha na Prefeitura de Campo Grande. Na comunidade Lar do Trabalhador, verá na TV às finais do Carioca. Se o ex-lateral-direito tem um candidato a novo Cocada?

"Pikachu. Sou fã desse menino", profetiza o ídolo.

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