Presidente Rodolfo Landim e vice de futebol Marcos BrazAlexandre Vidal/Flamengo
Falamos ao Conselho Diretor na condição de integrantes do corpo social do Clube de Regatas do Flamengo. Somos de diferentes correntes políticas, inclusive egressos da situação e mesmo de nenhuma corrente. Somos sócios contribuintes, sócios Off Rio, sócios patrimoniais, sócios proprietários, eméritos, beneméritos, grandes beneméritos, ex-vice-presidentes e ex-presidentes. Antes de tudo, somos da torcida: estamos pelo Rio de Janeiro, pelo Brasil, pelo mundo, dentro e para muito além dos muros da Gávea.
Testemunhamos nos últimos anos como o Clube conseguiu vencer obstáculos até então considerados intransponíveis e se reerguer. Com muito sacrifício, e notável colaboração da torcida e do quadro social, o Clube recuperou credibilidade, diminuiu seu endividamento e voltou a ser potência.
Números em uma planilha não podem expressar o que aconteceu de mais importante no Clube nesse período: resgatou-se o amor-próprio e o orgulho de ser rubro-negro. Em um esforço conjunto da Nação, o Flamengo restaurou a própria dignidade. De cabeça erguida, pôde investir em infraestrutura, no aperfeiçoamento dos processos de gestão e nas competências profissionais.
O Flamengo se consolidou como um modelo, o Clube Cidadão. Em 2019, a competência do Flamengo cidadão foi recompensada com a chegada de Jorge Jesus, que materializou uma temporada de sonhos.
Lamentavelmente, junto com o vitorioso técnico, o profissionalismo, a competência e a transparência também deixaram o Flamengo. O Clube Cidadão, cumpridor das leis e dos contratos, respeitoso com o associado e consciente do seu papel na sociedade brasileira, foi, aos poucos, se perdendo.
Fora das quatro linhas, o Flamengo retrocedeu. Abandonando de forma voluntária alguns princípios consagrados na administração: moralidade; publicidade; impessoalidade; eficiência.
Com a criação de novas vice-presidências, ressuscitaram uma prática já extinta no Flamengo, a de inchar o quadro do Clube para acomodar aliados, entre amadores e profissionais.
Para cumprir acordos políticos, iniciou-se um processo de perseguição e demissão de funcionários competentes, substituídos por cabos eleitorais sem experiência comprovada.
A conveniência e a conivência políticas também provocaram o prejuízo de milhões na malfadada negociação do contrato com a TV Globo no Campeonato Carioca, cujo desdobramento foi a implosão da relevância do torneio como produto.
O Departamento de Futebol é o mais impactado pelos retrocessos na gestão. O gerente de Futebol, responsável pela contratação de Jorge Jesus, foi demitido e substituído pelo primo de um dirigente. A contratação de profissionais de baixa qualidade ou sem experiência por “quem indica” tornou-se rotineira.
O fim do contrato de consultoria da Exos e a perda do legado construído pela Double Pass se somaram à defasagem da remuneração dos profissionais do Departamento de Futebol em relação a outros clubes. Perdemos profissionais para rivais. Alguns deles na Série B.
A falta de critérios é evidente na contratação e demissão de sete técnicos que geraram gastos de quase R$ 30 milhões apenas em rescisões, assim como na renovação de atletas com baixos níveis de rendimento e idades avançadas. Resultado de um processo de tomada de decisão que a cada dia se mostra disfuncional. Não é por acaso o arquivamento das propostas de profissionalização do Clube. O Flamengo está viciado em amadorismo.
Restam, ainda sem explicação, a tentativa de se comprar um clube em Portugal e a abertura secreta de uma empresa nos EUA em nome do Flamengo no nome de dois vice-presidentes, sem qualquer consulta prévia ou aprovação pelos conselhos do Clube. O Flamengo se tornou um inimigo da transparência.
A prática política da Diretoria reproduz em muitos aspectos o que há de pior nos piores governos: a sede por sabotar a democracia. Arrogância na condução dos processos contra o Clube, perseguição aos sócios de oposição, aumentos abusivos das mensalidades e subsequente limitação no número de sócios Off Rio, ocasionando a redução do quadro de sócios e do colégio eleitoral.
Pior, o Flamengo brigou na justiça para descumprir a lei, atuando contra o direito dos associados, garantido pela Lei Pelé, de votar à distância na eleição do Clube. E ainda tentou expulsar do quadro social um ex-presidente por conta do que fala – e não pelo que fez ou deixou de fazer.
Provado está que as ações dos dirigentes fora das quatro linhas se refletem de forma direta no rendimento do Flamengo em campo – campo, aliás, que mal temos, dada a crônica má qualidade do gramado do Maracanã. Como torcedores e sócios, é nosso desejo que 2019 não seja apenas um cometa que atravessou a órbita do Flamengo, sem data prevista para o seu retorno. Ainda restam 30 meses de gestão e os retrocessos não podem mais ser ignorados. Se esses retrocessos forem corrigidos, ainda há tempo para que o Flamengo retorne ao caminho das vitórias.
Esta carta é um chamado à ação para a Diretoria. Nós, a exemplo de vocês, só aceitamos o "vencer, vencer, vencer". Nós, a exemplo de vocês, almejamos estar à altura da obra de engrandecimento do Clube iniciada por nosso presidente histórico José Bastos Padilha. Somos todos Flamengo, e o que nos une está acima das disputas de poder. Acreditamos que o Flamengo não possa ser governado sozinho.
Por isso, cobramos: a revisão e a redução imediata do papel dos amadores nos departamentos ligados às vice-presidências de Futebol e Esportes Olímpicos; a contratação de um diretor de Futebol profissional de nível internacional, à altura do investimento no Futebol; a extinção e não-reconstituição do Conselho de Futebol; a reconstituição de uma comissão técnica permanente no Futebol; a revisão independente do trabalho do Departamento Médico no Futebol; a revisão independente da atuação da empresa encarregada da manutenção do gramado do Maracanã; a revisão do reajuste imposto em agosto de 2020 aos sócios contribuintes Off Rio; o apoio do Conselho Diretor à derrubada do teto numérico à expansão da categoria Off Rio; o apoio do Conselho Diretor à colocação em pauta das propostas de profissionalização do Clube, a começar pelo Futebol; o apoio do Conselho Diretor à reforma eleitoral com direito assegurado a votar à distância por meio online e de forma presencial via urna eletrônica; a implantação de uma estrutura profissional de atendimento ao torcedor rubro-negro visitante, ligada ao Departamento de Marketing e Comunicação. Cobramos, sobretudo, o apoio do Conselho Diretor à imediata e ampla reforma estatutária do Flamengo, conforme compromisso assumido de forma pública durante a campanha pelo presidente eleito. Essas são medidas urgentes.
Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.