Guapimirim – Até algum tempo atrás, futebol era coisa de homens. E apesar de ser um esporte majoritariamente masculino, esse cenário vem mudando, ainda que lentamente. As mulheres deixaram de simplesmente fazer parte da torcida para entrar em campo. A presença delas no gramado depende de investimentos e de políticas públicas de inclusão social. E por falar nisso, vale a pena destacar um projeto social em Guapimirim, na Baixada Fluminense, que prepara adolescentes para o futebol feminino.
O projeto social, que não tem nome, é gratuito, uma oportunidade para garotas de baixa renda e pioneiro, por ter sido o primeiro em Guapimirim a priorizar o futebol feminino. O mesmo é executado pelo treinador Juliano Moreira, de 40 anos, no Atlético Clube Modelo, no bairro Parada Modelo, no qual é, atualmente, diretor. Algumas das adolescentes que treinaram com ele já passaram por médios e grandes times no Brasil e no exterior. Ao todo, são mais de 60 jogadoras. A reportagem só vai mencionar algumas.
Um exemplo é Larissa Nascimento, de 18 anos, que já jogou no Vasco da Gama e hoje está na Chapecoense. Entre as atletas que participaram do projeto social, também vale destacar: Letícia Silva, de 17 anos, no time da Portuguesa; Beatriz Domingos, de 21 anos, no América; Palloma Espíndola, de 19 anos, que ficou por três anos no Vasco da Gama; Samara Hammes, de 18 anos, que já passou pelo Flamengo e pelo Botafogo; Gabriela Santana, de 19 anos, que também já passou pelo Vasco da Gama; e Evelyn Silva, de 17 anos, que já passou pelo Botafogo e atua joga no Barcelona do Rio de Janeiro.
Ao O Dia, o treinador contou que outra de sua pupila, Mariana Silva, de 20 anos, estaria em fase de contratação pelo Club Sport Marítimo, de Portugal. A jovem está se preparando para viajar nas próximas semanas. Devido à pandemia de coronavírus (Covid-19), ela não conseguiu sair antes do país e teve de adiar o sonho de jogar no exterior.
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Ademais o treino, o técnico Juliano Moreira explicou que apresenta as atletas aos clubes e as assessora para garantir que tenham carteira assinada. Também contou sobre algumas dificuldades para executar o projeto, que não recebe nenhum tipo de ajuda financeira. A maior ajuda recebida até hoje ocorreu no início de 2019, quando a família da atual prefeita de Guapimirim, Marina Rocha, interveio para que ele pudesse usar de graça o espaço do Atlético Clube Modelo para treinar as adolescentes. Antes disso, os treinos aconteciam num lugar pago no bairro Segredo.
O treinador disse não cobrar nenhuma taxa ou doação às alunas e que as despesas que tem são por sua própria conta. Ele tem formação de treinador profissional e já atua no ramo desde 2010, tendo começado pelo futebol masculino e depois o feminino, o qual se dedica exclusivamente.
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“Com o futebol feminino é complicado, é diferente do futebol masculino em que os pais investem na carreira dos filhos e ajudam na passagem para que eles possam ir aos treinos. Com as meninas não acontece o mesmo. Elas começam a treinar bem mais tarde, os pais não investem nelas e muitas vezes a gente acaba tendo de ajudar. É muito difícil viver do futebol. Ou elas jogam bola ou trabalham. Até para conseguir a doação de uniformes para elas é mais difícil”, desabafou o treinador.
As dificuldades apontadas em relação ao futebol feminino são muito mais complexas. Podem começam dentro da própria casa, quando os pais não investem nas filhas por não acreditarem no talento delas, também por questões financeiras ou até mesmo por algum tipo de preconceito em relação ao fato de mulher jogar futebol. Projetos sociais como esse ajudam a tirá-las do anonimato para o mundo. No entanto, para que elas tenham mais espaço no esporte predileto dos brasileiros, é preciso mais atenção do poder público, dos clubes e também dos meios de comunicação, que priorizam partidas masculinas em suas transmissões e noticiários.
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As mulheres já mostraram nas Olimpíadas e em outros grandes eventos esportivos que elas podem ser as donas da bola e que o lugar delas não é mais na cozinha, e sim onde elas quiserem.
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