Cantora e compositora brasileira Ângela Ro Ro  - Alexandre Moreira
Cantora e compositora brasileira Ângela Ro Ro Alexandre Moreira
Por Nana Magalhães
Saquarema - A cantora, dona da voz grave, rebelde e marcante, já começa incorporando a personalidade do rock’n’roll; “você já sentiu que a minha boca é pra falar mesmo, né?” Em um bate-papo cheio de gargalhadas gostosas, ela conta à redação do O Dia, sem pudores, como anda sua vida.

Não é de hoje que Ângela se envolve em polêmicas e causa furores entre fãs, jornalistas e afins. Mas, ultimamente, nas redes sociais, Ro Ro tem dado o que falar: virou matéria nos principais veículos de comunicação do país por pedir ajuda financeira em perfis virtuais e os sites de fofoca adoram quando ela fala da solidão e da velhice publicamente, termina relacionamento, volta relacionamento, procura nova namorada e denuncia golpes. Tudo isso para todo mundo ver e em um curtíssimo período de tempo.

Desde o carnaval, Ro Ro está em Saquarema, na Região dos Lagos do Rio, em uma casa que seu pai deixou de herança. “Urbanamente eu vivo de favor… Algumas pessoas dizem que eu tô dura e então eu não posso ter uma casa com piscina. Não posso ter uma casa que foi meu pai quem construiu e deixou para mim? Isso não quer dizer que eu esteja com grana. Aqui tem muito capim, bichinhos esquisitos, florzinhas, passarinhos, até uma família de gambás. Temos vivido eu e eles. E minha sala ainda virou uma manjedoura de filhotinhos de gatos… acho tudo muito engraçado”, debocha Ângela do isolamento totalmente solitário na pequena cidade litorânea.

Ela e a namorada programaram passar o carnaval na capital nacional do surfe, mas nem tudo foi doce nessa lua de mel. Logo começou a pandemia do Novo Coronavírus e Ângela acabou ficando sozinha na cidade. Sem shows, sem trabalho nenhum em vista, sem poder sair de casa e sem a namorada, que acabou ficando em outra cidade, Ro Ro se viu num beco sem saída. Nas redes sociais, chegou a pedir ajuda financeira e colocar o número da conta para depósitos bancários dos fãs e amigos. Sobre isso, “Não tenho vergonha de pedir quando estou com dificuldades, mas não sou monja budista para viver de doações eternamente, quero trabalhar.”, diz ela e, em seguida, solta uma gargalhada gostosa. “Sou grata a toda a ajuda que foi dada, cada real que foi depositado, mas não posso viver assim”.

Há pouco tempo, já durante a pandemia, a cantora fez duas lives; a primeira pelo Estado de São Paulo, através do programa Cultura em Casa, realizado pelos Amigos da Arte. A outra pelo Sesc Em Casa. Estou dura. As duas lives foram bem pagas, cachês honestos, mas acabou… foi no início da pandemia e segurou durante um período, já faz tempo que não faço nada.” - desabafa.

Quem assistiu as lives viu que, ao contrário do que muitos dizem, Ro Ro continua tinindo. Suave como veludo e cortante como navalha na carne. Espetando os corações e arrepiando até o último fio de cabelo. Na sala da casa em Saquarema, com um pequeno teclado e improviso total “na tristeza que vem, na tristeza que vai pra longe de mim...”, a cantora arrancou centenas de comentários apaixonados nas duas lives.
O que já era de se esperar.

A carreira de Ro Ro começou ao lado dos grandes. As más línguas dizem que, a primeira vez que ela subiu em um palco, profissionalmente, foi em um dos Festivais de Rock de Saquarema, produzido por Nelson Motta, em 1976. Por dois dias Ro Ro soltou seu vozeirão, agarrada a uma garrafinha de uísque, ao lado de Rita Lee, Raul Seixas e tantos outros nomes importantes do cenário do rock nacional. Mas ela desbanca essa história: “Meu 1º show profissional foi 1970, no saudoso Teatro Veredas, em São Paulo. O lugar era super alternativo e ficou lotado! Foi meu primeiro show profissional. Saquarema foi o empurrão legal, definitivo para mim, mas não suficiente. Eu tinha medo de deslanchar, adiava, adiava... até que Paulinho Lima me pegou e me levou para o mundo, me lançou no Teatro Ipanema, na sessão de meia noite, que ficou lotada depois de um show do grande Beto Guedes no horário nobre!"

Uma filha arretada de Xangô e Oxum, aos 70 anos, com senso de justiça super aguçado e cheia de tesão de viver, Ro Ro conta que tem sido vítima de golpes de estelionatários que moram no Bairro Peixoto, em Copacabana. Ligações, internet e contas bancárias hackeadas são algumas das denúncias feitas por ela, mas prefere não entrar em detalhes com medo de represália. “Já fui à delegacia registrar ocorrência, mas eles acham que eu sou uma velha louca.

Nas redes sociais, Ângela foi xingada de velha decrépita. "Homofóbicos, ageístas!” Sobre envelhecer, ela tira de letra. “Velha, eu? Sozinha? Não acredito em solidão etária, não acredito na velhice desta forma. Mas também não posso julgar o jeito que o outro envelhece, nem todo mundo é uma Ângela Ro Ro que sobe em árvores, canta, dança, faz um bom sexo e pula muros aos 70 anos”.

Ro Ro tem a vida amorosa super agitada, pelo menos, pelo que expõe na internet. Recentemente, terminou um relacionamento e desabafou nas redes sociais: “Queridos amigos, que estão me ajudando nesse momento. Sinto informar que descobri ter sido usada e traída. Jogada no lixo como brinquedo velho de forma vil e vulgar. Ela tinha amantes durante todo esse tempo que pensei ter sido um romance digno do meu amor. Desabafo, meu coração aberto. O segredo da boa velhice é simplesmente um pacto honroso com a solidão

A cantora conheceu a ex-namorada através do Facebook : “Jamais me envolvi com alguém que tivesse conhecido através de perfis digitais, mas foram 82 dias de fotos, vídeos, mensagens carinhosas, bom papo e eu acreditei que fosse amor. Ela me conquistou. Marcamos e nos encontramos depois de muito tempo, em um show meu no Teatro da UFF, em Niterói e acabamos ficando juntas…

Ro Ro descobriu que a namorada já tinha uma outra pessoa há muito tempo.Não era minha viseira, nem meu chapéu que estavam pesando na minha cabeça!” - Ri um pouco mais e descontrai quando comenta a traição.

Sem parecer estar abalada emocionalmente com todos os escândalos que envolvem sua vida no momento, muito segura de si, da sua história, da importância que tem na música brasileira, a cantora e compositora quebra tabus com muito bom humor e continua se arreganhando, sem pudores: ainda criança Ro Ro foi vítima de um tio pedófilo. Sofreu abusos sexuais na cama dos pais aos 9 anos de idade. “Mas não foi por esse trauma que me tornei lésbica, não! Minha paixão pelas mulheres começou bem antes, aos 6 anos, quando já ficava enlouquecida com as vedetes!” - e solta mais uma gargalhada, seguida do que ela diz ser um dos seus slogans: “Minha memória é motivo de orgulho e amarguras”.