No sábado (2), motorista entra na rua 40 sem saber do problema: moradores o ajudam a tentar salvar o carro, que fica boiando no meio da rua. Cena infelizmente é comum no bairro
No sábado (2), motorista entra na rua 40 sem saber do problema: moradores o ajudam a tentar salvar o carro, que fica boiando no meio da rua. Cena infelizmente é comum no bairroFoto do leitor
Por Jupy Junior
ITAGUAÍ – Começar o ano de 2021 sofrendo com o transtorno que atravessa as décadas é bastante desanimador, para dizer o mínimo. Os moradores da antiga rua 40, atual Francisco Costa Pereira, no bairro do Engenho, que o digam. A via começa na rua João Plaza Gonzales, corta a Avenida Itaguaí, perto da Unidade Básica de Saúde Vista Alegre, e liga-se à Estrada do Teixeira na outra extremidade. Não é a única rua no bairro ou na cidade que enche a cada chuva - não importa o volume -, mas é emblemática. Na chuvarada forte que caiu no último sábado (2), uma foto circulou nas redes sociais, infelizmente bastante semelhante a tantas outras que são postadas, basta que uma chuva de poucos minutos caia.
Rua Francisco Costa Pereira, no Engenho: exemplo de que há algo bastante errado no urbanismo de Itaguaí há décadas - Reprodução internet - Google Maps
Rua Francisco Costa Pereira, no Engenho: exemplo de que há algo bastante errado no urbanismo de Itaguaí há décadasReprodução internet - Google Maps
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“MINHA VIZINHA DORME EM CIMA DA MESA”
A foto acima foi tirada no sábado (2) da varanda da casa de Gilmar Matias, que mora na rua 40, no lote 24, há mais de 20 anos. Ele contou que o carro entrou na rua inadvertidamente, e que seus vizinhos foram tentar ajudar o motorista a sair do embaraço. A cena é comum. Há quanto tempo? Gilmar não sabe dizer se algum dia foi diferente. “Minha vizinha não tem mais nada dentro de casa, ela dorme em cima da mesa, perdeu tudo, fogão, geladeira, cama...tudo!”, disse ele. Gilmar também disse que os moradores se esforçam para aterrar o quintal a fim de evitar o problema, mas que nem todos têm dinheiro para isso.
Quintal da vizinha de Gilmar Matias, na rua 40: ela dorme em cima da mesa porque perdeu tudo o que tinha dentro de casa - Foto do leitor
Quintal da vizinha de Gilmar Matias, na rua 40: ela dorme em cima da mesa porque perdeu tudo o que tinha dentro de casaFoto do leitor
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Subir a casa, ou construir outra em cima, parece mesmo ser a única solução. Foi pensando nisso que Doceneia Dias da Silva, de 70 anos, pegou emprestado R$ 24 mil no banco para construir dois quartos, sala, cozinha e banheiro em cima da sua casa original, no lote 4 da quadra 57. Ela perdeu tudo – móveis, eletrodomésticos, roupas - por quatro vezes antes de se decidir pela obra.
Rua 40 no dia 2 de janeiro de 2021: basta chover um pouco e alagamento é certo - Foto do leitor
Rua 40 no dia 2 de janeiro de 2021: basta chover um pouco e alagamento é certoFoto do leitor
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Hoje, o imóvel tem dois andares, mas o térreo está abandonado e Doceneia vive com o marido e uma neta no segundo andar, ainda tentando redecorar e comprar o que precisa para viver com dignidade. Ela só acabou de pagar o empréstimo de 72 prestações em setembro de 2020.
Mureta da casa de Doceneia fica coberta pela água quando chove, garagem fica submersa - Foto do leitor
Mureta da casa de Doceneia fica coberta pela água quando chove, garagem fica submersaFoto do leitor
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Ela conta também que a rua 40 era invadida não só pela água e pelo barro acumulados: “Com a enchente, vinha esgoto dos vizinhos para a minha casa. Fizeram manilhamento depois que fui várias vezes na prefeitura reclamar, diminuiu um pouco. Mas, antes disso, fiquei doente, tive uma micose no pé que demorou muito para sarar”, relata a moradora.
PREFEITO PROMETE SOLUÇÃO
Em duas oportunidades o prefeito Rubem Vieira (Podemos) anunciou que vai resolver o problema. A primeira delas foi no dia 28 de dezembro de 2020, em uma live transmitida por um pool de blogs e páginas do Facebook. Na ocasião, Rubem relatou um problema com a empresa que ganhou a licitação e desistiu do serviço (o prefeito não explicou onde era a obra), mas prometeu: “Estamos fazendo uma grande licitação para resolver o problema das enchentes definitivamente”. Leia a reportagem aqui.
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A segunda ocasião foi durante a cerimônia de posse na Câmara Legislativa, no dia 1º de janeiro. Em seu discurso, Vieira disse: “Vamos acabar de vez com as enchentes”. A matéria pode ser lida ao clicar aqui.
POSSÍVEIS CAUSAS DO PROBLEMA
O DIA ouviu um ex-vereador experiente, reeleito para várias legislaturas, que relatou a origem do problema. Segundo ele, o problema está na ponte da rua 18 – atual rua Professor Luis Antonio de Souza, também no bairro do Engenho. No local foi feita uma obra que, inexplicavelmente, faz uma curva no valão, formando um “L” que dificulta o escoamento direto da água, causando acúmulo. A assoreamento do valão e o lixo que é levado para o interior das manilhas também contribuem para as enchentes no bairro.
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Em um dos governos de José Sagário Filho (1997-2000 e 2001-2004) houve intervenção no local, mas o “L” não foi corrigido. No primeiro governo de Carlo Busatto Junior (Charlinho), foi feita outra obra no local, desta vez para aumentar o calibre das manilhas. Mas o “L” permaneceu e a obra não foi eficaz.
Segundo o morador Gilmar Matias, ainda no segundo semestre de 2020 a prefeitura fez uma obra que, a julgar pela enchente deste começo de ano, em nada diminuiu o problema.
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Outra causa que foi apontada por algumas pessoas durante a campanha eleitoral, ainda que mereça análise mais apurada, é a afirmação de que o bairro do Engenho se encontra abaixo do nível do mar, o que dificultaria o escoamento do excesso de água da chuva. Tal afirmação nunca foi confirmada por nenhum governo executivo em Itaguaí, nem foi divulgado qualquer laudo técnico que aponte esta como uma das causas do problema.