Multitasking: ele é o primeiro a chegar no escritório. Aos 70 anos, o empresário Carlos Batalha mantém o pé no acelerador e diz que quer ainda muito mais - Arquivo Pessoal
Multitasking: ele é o primeiro a chegar no escritório. Aos 70 anos, o empresário Carlos Batalha mantém o pé no acelerador e diz que quer ainda muito maisArquivo Pessoal
Por Luciana Guimarães
Niterói - O empresário Carlos Batalha é dessas pessoas pessoas que quando chegam no lugar atraem todas as atenções. Esse simpático senhor de 70 anos não pára. Acorda cedo, se exercita, medita, vai para a agência de viagens da qual é proprietário, fecha vários negócios e ainda encontra tempo para namorar a linda esposa, por quem não se cansa de se declarar intensamente apaixonado: "Eu precisava mesmo é que o dia tivesse 48 horas para dar conta de tudo que eu preciso, e mais importante, quero fazer. Me aposentei há alguns anos, e nunca cogitei parar de trabalhar, de produzir ou de desacelerar. Por mim, aos 100 anos ainda estarei assim: inteirão.", brinca ele.
Assim como Carlos, muitos idosos estão fazendo desta fase da vida a melhor de todas. E estar inserido no mercado de trabalho ajuda e muito nessa conquista: o "envelhecimento ativo".
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Se quisermos que o envelhecimento seja uma experiência positiva, uma vida mais longa deve ser acompanhada de oportunidades contínuas de saúde, participação e segurança. A Organização Mundial da Saúde adotou o termo “envelhecimento ativo” para expressar o processo de conquista dessa visão.

O que é “envelhecimento ativo”? 
Envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas.

O envelhecimento ativo aplica-se tanto a indivíduos quanto a grupos populacionais. Permite que as pessoas percebam o seu potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida, e que essas pessoas participem da sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capacidades; ao mesmo tempo, propicia proteção, segurança e cuidados adequados, quando necessários.

A palavra “ativo” refere-se à participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da força de trabalho. As pessoas mais velhas que se aposentam e aquelas que apresentam alguma doença ou vivem com alguma necessidade especial podem continuar a contribuir ativamente para seus familiares, companheiros, comunidades e países. O objetivo do envelhecimento ativo é aumentar a expectativa de uma vida saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas que estão envelhecendo, inclusive as que são frágeis, fisicamente incapacitadas e que requerem cuidados.
Muitos governos estão atentos e fazem uma reflexão sobre o mercado de trabalho e políticas públicas de inclusão social visando à empregabilidade e geração de renda para o público 50+ que são considerados mão-de-obra experiente e significativa em diversos contextos, mas que ainda estão excluídos dessa realidade por conta do preconceito etário enraizado em nossa sociedade.
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O município de Niterói permanece em primeiro lugar entre as cidades do Rio de Janeiro com melhor qualidade de vida para os idosos. Os dados são do Índice de Desenvolvimento Urbano para Longevidade (IDL) do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon e a Fundação Getúlio Vargas que atualizaram a análise que compara as condições de vida para a população acima dos 60 anos. A pesquisa leva em conta as atuais condições de 876 cidades brasileiras, tendo em vista sua capacidade de atender às necessidades básicas de vida desse público. Durante a pandemia, a Secretaria do Idoso, em parceria com o Centro de Convivência Helena Tibau, da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, promove atividades virtuais de Ioga, Arteterapia, uso do smartphone, idiomas e cuidados com a saúde física e psicológica para não deixar nossos velhinhos sem amparo. 
O envelhecimento populacional avança rapidamente e acaba se tornando um grande desafio para a sociedade que enfrentará um aumento significativo da população.


Dados publicados em Julho deste ano pelo IBGE apontam que a expectativa de vida atual aumentou em relação à Dezembro de 2017, alcançando a marca de 76, 2 anos na média entre homens e mulheres. Os indicadores mostram que as mulheres continuarão vivendo mais do que os homens, chegando a 84,2 anos em 2060 contra 77,9 anos dos homens.

Muito em breve, em 2030, iremos acompanhar a mudança do perfil da população, onde o número de pessoas acima dos 60 anos triplicará em relação à população de 0 a 14 anos.

Considerando este cenário crescente, há a necessidade de pensar que, além do maior envelhecimento impactar setores importantes como saúde, urbanismo, assistência social, economia e, principalmente, previdência social, a sociedade deve se remodelar para receber esse público ofertando possibilidades e oportunidades, principalmente, no quesito laboral, para que possam ter oportunidades de trabalho ou geração de renda informal.

Por isso, a ‘velhice’ deve ser vista não como a última etapa da vida ou, o ‘fim da vida’, e sim, como mais uma etapa do desenvolvimento humano o qual existem inúmeras potencialidades a seres exploradas e estimuladas. É necessário que possamos descontruir o estigma de marginalização da população idosa e mostrar que, ‘ir para os aposentos’ como a aposentadoria sugere, pode não ser a opção mais viável para muitos e, que oportunidades de emprego nesta fase podem ser uma conquista social e não uma ameaça às futuras gerações.
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"Carecemos de pesquisas precisas de quantos profissionais com mais de 50 anos são ativos, ou gostariam de ser. Mas o sentimento que temos como selecionadores é que são muitos e mal aproveitados pelas empresas. Na sua maioria tiveram uma melhor formação educacional, se preparam por mais tempo, além de somarem experiência, estabilidade, resiliência e energia (já que a qualidade do envelhecimento melhorou muito nas últimas décadas). Importa dizer ainda, que o caos educacional, as políticas públicas e falta de oportunidades para os jovens mais carentes, cada vez mais fomenta a baixa qualificação dessa faixa de trabalhadores. Por outro lado, aqueles que puderam se qualificar são menos representativos e anseiam por reconhecimento imediato. Claro, que para refletirmos sobre empregabilidade 50+ e inclusão social, devemos pensar sobre as várias velhices existentes e promover mudanças de percepção a cerca do processo de envelhecimento; é preciso compreender e questionar, como será a vida das pessoas longevas fora do cenário de trabalho, o mesmo trabalho que, de certa forma, também está relacionado à qualidade de vida.", analisa a Gerente de RH, Magda Guedes.


Portanto, é preciso permitir o empoderamento desse público e promover medidas que possam permitir que elas continuem a trabalhar de forma digna se este for o seu desejo, tendo uma visão global das vantagens deste público no mercado de trabalho.
"Se o envelhecimento é um fenômeno global, isto significa que teremos mais pessoas em faixa etárias superiores, também como consumidores e se as empresas estão focando suas estratégias no consumidor, como não ter representantes desta faixa etária superior como colaboradores? eles não estão representados em nossos times? E ainda, como falar em inovação onde precisamos ter visões diferenciadas sem diversidade? Refletindo desta forma, incluir profissionais com faixas etárias superiores no mercado de trabalho significa falar de competividade e perpetuação dos negócios. Todos os nossos avanços na medicina e melhorias na qualidade de vida nos propiciam viver mais e melhor.?", afirma Silvana Pereira, Gerente de Gente & Gestão/ Voluntaria do Programa 50+”
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O Programa Talento 50+ mantido pelo IEC (Instituto Eu Consigo) é uma importante porta aberta às pessoas que buscam orientação para enfrentar os desafios impostos pelo mercado de trabalho, especialmente, às pessoas nesta faixa etária que não têm recurso para pagar um profissional que lhe oriente adequadamente. "Muitas vezes são orientações básicas e simples que permitem a estas pessoas entregar um currículo melhor elaborado, ter mais segurança em uma entrevista e, até mesmo identificar novas possibilidades de atuação profissional. É um programa que tenta minimizar a dificuldade que os profissionais mais maduros enfrentam para manter-se no mercado de trabalho. As oportunidades ainda são escassas e um dos nossos propósitos é fazer parcerias com empresas que abram suas portas para estes talentos maduros.", acrescenta Monica Campos, Coordenadora do Programa 50+.
Durval Garcia procurou o Instituto quando precisou retornar ao mercado de trabalho: "Considero que o processo foi ótimo, bastante informativo e empolgante ainda mais na situação de pandemia. Sem dúvida foi um diferencial, e esse trabalho de apoiar pessoas e dar uma força para arrumar emprego, ou ser empreendedor, ajudam muito. Tive a oportunidade de compreender em detalhe os desafios pessoais e crenças limitantes que devo superar no curto prazo. Foi verdadeiramente interessante perceber a importância do autoconhecimento. Desejo prosseguir a minha carreira no Brasil e ter um projeto de vida. O processo de Coaching me ajudou a desenvolver um planejamento. Consegui me planejar e hoje estou feliz com meu trabalho.", ele conta.
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Muitas empresas seguem essa linha de raciocínio: o Grupo Pão de Açúcar lançou no ano de 1997 o Programa Terceira Idade, atualmente conta com um milhares de funcionários maiores de 55 anos. 
A Pizza Hut lançou em 2004 o Programa Atividade, que contrata pessoas maiores de
60 anos, para cargos que variam de recepcionista à supervisora.
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A Livraria Siciliano tem o “Programa Consultor Literário” desde 2003 e conta com
pessoas de 45 a 82 anos para auxiliar nas dúvidas tanto de clientes como de funcionários mais
jovens.
As lojas do grupo Brooksfield oferecem contratação de idosos, além da manutenção destes no quadro de funcionários, especialmente para atendimento direto ao cliente; ressalta-se que a rede possui plano de carreira e seus funcionários podem ser promovidos ao longo de sua estada na organização.
Para as pessoas idosas o trabalho alcança dimensões significativas, além de manter-se financeiramente ou  auxiliar no orçamento familiar. Ter o suficiente para o sustento, aliás, não deixa de ser um aspecto intangível do sentido do trabalho, visto que na medida em que podem se sustentar, também, tem a possibilidade de garantir sua liberdade e autonomia.

As dimensões intangíveis do trabalho para o idoso estão relacionadas ao exercício mental, como uma oportunidade de atualizar-se; à identidade pessoal, já que a profissão identifica o sujeito perante a sociedade; ao exercício de cidadania, pois o indivíduo que trabalha sente-se participante da sociedade em que vive; e aos aspectos de sociabilidade, visto que é uma oportunidade de relacionar-se com o próximo, diminuindo a rejeição social construída e vivida pelos idosos.
Basta um olhar mais cuidadoso e carinhoso para esses queridos que com certeza, têm muito ainda a viver e nos ensinar.
"O conhecimento torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice. Colhe, pois, a sabedoria. Armazena suavidade para o amanhã."
Leonardo da Vinci