Por thiago.antunes
Rio - O formato de música que já revelou artistas do quilate de Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz e toda semana arrasta multidões de todas as classes sociais em diversos pontos da cidade está prestes a ganhar uma entidade representativa. Será lançado no começo de 2014 o estatuto da Liga Cultural das Rodas de Samba do Rio de Janeiro. O objetivo dos criadores é lutar por melhores condições de trabalho dos artistas e dar visibilidade aos grupos que tocam fora do grande circuito do samba.

“O samba não é só de três bairros da Zona Norte e da Lapa. É do Rio, da Baixada; é um patrimônio do Rio”, explica Edinho Oliveira, representante do Samba no Buraco do Galo, há 17 anos em Osvaldo Cruz, e um dos fundadores da Liga. Doze grupos que organizam rodas de samba famosas e anônimas se articulam para definir as demandas a serem abordadas pela Liga.

Samba do Trabalhador%3A toda segunda%2C multidão se reúne em torno da roda comandada por Moacyr LuzErnesto Carriço / Agência O Dia

“Os músicos recebem uma miséria nas casas. E também não podem tocar na rua. Vamos lutar e ser porta-vozes das rodas”, promete Edinho, que vai buscar apoio estatal. “Existe dinheiro para ser investido, o problema é que ele fica na mão dos artistas ricos”, diz.

Colunista do DIA, o cantor e compositor Moacyr Luz, que comanda uma das principais rodas de samba da cidade, o Samba do Trabalhador, no Clube Renascença, no Andaraí, aprova a criação da Liga. Para ele, a falta de representação é um problema que afeta os músicos: “Tem quem acha que pode tratar o sambista de qualquer maneira; paga o cachê dos músicos com cerveja, coloca qualquer som. O músico não sabe a quem recorrer”.
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Sambistas trocam as ruas por espaços comerciais
O samba surgiu como manifestação cultural ao ser cantado em rodas, nas ruas. Hoje, porém, é difícil mantê-lo assim e a opção por casas de shows e espaços comerciais é cada vez mais comum. “A gente não tem o apoio de ninguém e, mesmo assim, enche. É necessário ter uma organização; o povo está vindo cada vez mais para o samba”, afirma Gabriel Cavalcante, que comanda o Samba do Ouvidor, no Centro.
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O professor Jair Martins, pesquisador da Unirio e coordenador do Portal do Carnaval, alerta para para a necessidade de manter as raízes da roda de samba. “O samba ou é muito tradicional ou é muito comercial. A gente quer evitar a descaracterização do samba”, afirma.
Em ‘Saudades da Guanabara’, Moacyr Luz e Aldir Blanc reconheceram que o Rio é uma “cidade que hoje está mudada”. mas o samba ainda representa um foco de resistência da cultura popular. “A roda de samba é um estado de espírito despojado, agrega as pessoas, une todas as gerações”, resume Luz. “A proximidade com os músicos faz com que seja melhor ouvir samba na roda”, disse o brasiliense Thiago Benon, que está está de férias no Rio.
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