Rio - O secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame disse, na manhã desta quinta-feira, que não irá admitir que policiais continuem morrendo por conta de traficantes de facções criminosas. “Tenho responsabilidade sobre esses policiais, não vamos admitir que eles continuem morrendo, embora semana passada tenhamos perdido dois policiais e a pauta era coleta do lixo.”
Após a ocupação da Vila Kennedy, em Bangu, na Zona Oeste, ter sido realizada pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) em apenas 20 minutos, sem troca de tiros, o secretário disse que as repressões violentas contra civis e militares são um verdadeiro ato de terrorismo contra o estado. Com a ocupação, a Vila Kennedy se tornará a 38ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) a ser instalada pelo governo.
"Nós entendemos que essas ações são um verdadeiro terrorismo contra o estado. Contra agentes públicos, contra civis e militares. Tudo isso para aterrorizar pessoas que estão tiranizadas por esse grupos criminosos", afirmou Beltrame.
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Ele acrescentou que nesta quinta-feira, outras 22 operações estão sendo realizadas nas comunidades em vários pontos da cidade. A ocupação da Vila Kennedy culminou na prisão do traficante Robinho da Vila Kennedy, responsável por assassinar um policial civil no ano passado.
"As pessoas que moravam em comunidade não tinham segurança, agora têm. Nós estamos fazendo a segurança dessas pessoas. Se o projeto de inteligência da cúpula de segurança for cessado, será uma perda inevitável para a cidade. Nós fizemos um planejamento, há cinco anos, para ocuparmos 40 áreas que oferecem risco à população", disse o secretário.
Segundo a secretaria de Segurança, a ocupação já havia começado no último domingo, quando policiais militares estavam ocupando parcialmente a área.
Questionado se todas as 37 UPPs apresentam problemas, Beltrame foi enfático em dizer que apenas duas apresentam um risco maior de segurança: Rocinha e Complexo do Alemão. "Mais pelas questões topográficas", disse ele. "Nós estamos tirando o território desses traficantes. Antes prendíamos o chefe do tráfico e no dia seguinte já tinha outro no lugar. Agora sem o território eles são obrigados a se deslocar para outros pontos, facilitando o serviço de inteligência da polícia", concluiu.
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Por volta das 11h30 desta manhã, as bandeiras do Brasil e do estado do Rio foram hasteadas por policiais civis, militares e bombeiros durante cerimônia no campo Leão XIII, onde será instalada a próxima UPP do estado. O comandante da PM e o Secretario de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, que estão no Centro Integrado de Comando e Controle, acompanharam o ato simbólico.
38ª UPP poderá ser inaugurada no próximo dia 25
A ocupação, que começou por volta das 5 horas, contou com 270 policiais do Bope; do Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque); do Batalhão de Ações com Cães (BAC); 14º BPM (Bangu); Batalhão de Vias Especiais (BPVE) e Grupamento Aeromóvel (GAM), além de policiais da Corregedoria Interna da PM. O Choque ocupou o lado sentido Zona Oeste da Avenida Brasil da comunidade e o Bope ficou no sentido Centro. A expectativa é que a UPP seja inaugurada no próximo dia 25.
O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, solicitou a cooperação da população de Vila Kennedy. "Pedimos a colaboração dos senhores para que ajudem a polícia. Nesse primeiro momento talvez seja um pouco mais de inquietação, mas em breve a comundade toda vai viver dias melhores"
Moradora da Vila Kennedy há 18 anos, Maria Quirina, 52, espera que a comunidade viva novos tempos."Espero que a paz se faça presente aqui. Já vi muita cena de violência e espero que isso se encerre".
Mais de oito mil alunos sem aulas
A operação fez com que as aulas desta quinta-feira das 17 unidades da rede municipal que ficam na Vila Kennedy e no entorno foram suspensas pela Secretaria de Educação. Com isso, 8.227 alunos ficarão sem aula. Segundo a prefeitura, todo o conteúdo será reposto em outra data, ainda não divulgada. A medida foi tomada para a segurança de alunos e funcionários das escolas e creches durante a operação policial.
Com a chegada da UPP, os quase 23 mil habitantes da região sonham com melhorias na comunidade. Entre os pedidos mais urgentes em páginas sobre a Vila Kennedy nas redes sociais estão a regularização da coleta de lixo, que fica exposto nas ruas e provoca a proliferação de insetos e doenças. “A Comlurb recolhe quando quer, mas a gente não tem como evitar juntar lixo. Vou guardar lixo em casa? Pior: as moscas e baratas entram e a gente não sabe o que fazer”, reclamou a auxiliar de serviços gerais Estela Maria de Jesus.
Na Internet, alguns moradores também cobram a ausência de médicos na UPA local. Entre outros pedidos dos moradores estão o aumento do número de transportes públicos, principalmente ônibus, que atendam a região nos finais de semana. Para as crianças e adultos, melhorias e criação de áreas de lazer e entretenimento. Eles reclamam que o teatro está fechado e nas praças os brinquedos e aparelhos de ginástica para os idosos, por exemplo, não estão em boas condições.