Por thiago.antunes
Rio - Poucas horas após a colisão entre dois trens que deixou 229 feridos na Estação Presidente Juscelino, do ramal Japeri, na noite de segunda-feira, a 53ª DP (Mesquita) estava lotada. Na manhã de ontem, mais de 120 registros por lesão corporal e roubos foram feitos. Muitos passageiros reclamavam também da falta de socorro. “Esperei quase três horas e fui resgatada por familiares. Não conseguia me levantar e fui pisoteada”, relatou Ludymilla Marques, 20, com a perna fraturada.
O maquinista da composição que estava parada no momento do choque, Carlos Henrique da Silva França, 41 anos, prestou depoimento e afirmou ter recebido informe por rádio do Centro de Controle da Supervia sobre problemas técnicos na estação de Austin. Para apurar as responsabilidades do acidente, o delegado Matheus Almeida abriu inquérito e solicitou uma perícia, cujo resultado deve sair em até 15 dias. O maquinista do outro trem e o coordenador de tráfego da SuperVia devem depor nesta quarta-feira.
Nesta terça-feira%2C feridos lotaram a 53ª DP%2C em Mesquita. Muitos foram direto do atendimento médico para registrar lesões e roubos após a colisão entre os dois trensMaíra Coelho / Agência O Dia

A revolta das vítimas só era abafada pelos gritos de dor daqueles que haviam acabado de deixar os hospitais para os quais foram levadas. Pessoas enfaixadas e sob efeito de medicamentos relatavam os solavancos da viagem e as quedas de energia responsáveis pela demora de uma hora e dez minutos para o trajeto feito, habitualmente, em 40 minutos.

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“Durante a viagem, as luzes piscavam, dava para perceber que havia alguma falha. Minutos antes de bater, as luzes apagaram por completo”, revelou, na saída do Hospital da Posse a vendedora Vivian Costa de Sá Mangueira, de 28 anos.

Alguns passageiros disseram que havia portas travadas momentos após a batida. O corre-corre aumentou com a ação de criminosos que aproveitaram o caos para roubar os feridos. “Com a perna pisoteada e o joelho fraturado, ainda tive minha bolsa roubada”, contou a dona de casa Sandra Cardoso. Indignada, elaexibia o raio-X, enquanto esperava por atendimento.

O menino Arthur Paulo é consolado%3A ele e a mãe%2C Sonia Lopes%2C se feriramMaíra Coelho / Agência O Dia

De acordo com o delegado, a Estação Juscelino não tem câmeras de segurança. Ele vai pedir imagens da vizinhança. “O maquinista disse que fez os testes necessários antes da partida e negou problemas de energia”, concluiu o policial. Pouco após a batida, outro trem passou perigosamente a pouca distância dos dois trens batidos, sem deixar mais feridos.

Falha na sinalização é uma das principais hipóteses
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Ainda não é possível determinar se houve falha humana e mecânica, ou se ambas. Mas há grandes chances de o acidente ter ocorrido por problema na sinalização. Isso porque os dois trens deveriam estar a oito minutos de distância um do outro. Tempo de intervalo que foi respeitado em parte do trajeto, já que a composição que colidiu viajava há quase uma hora.
O maquinista Carlos Franca (D)%2C com seu advogado%2C depôs nesta terçaMaíra Coelho / Agência O Dia

Se houver problema na sinalização, todos os sinais ficam vermelhos e o maquinista passar a conduzir a composição com a ajuda do centro de controle. O gerente da Câmara Técnica de Transportes da Agetransp, José Luiz Teixeira, disse que serão necessários pelo menos 90 dias para apurar o que ocorreu.

"O procedimento é minucioso. Vai da consulta dos registros médicos dos envolvidos no acidente até a a investigação sobre se houve raios na região que possam ter influenciado no funcionamento dos equipamentos. “A chave é descobrir por que o maquinista não sabia do outro trem parado”, disse ele. Um dado importante a ser considerado é que havia um ‘engarrafamento’ de trens perto de Mesquita, por causa de um problema na rede aérea, que é a a linha que alimenta eletricamente o trem.
A colisão deixou 229 pessoas feridas.Foto de leitor via WhatsApp do Dia (98762-8248)

Passageiros evitam trens

No dia seguinte ao acidente na Estação Presidente Juscelino, muitos passageiros evitaram pegar trem ali. Alguns deixaram o trem de lado e optaram pelas linhas de ônibus, mesmo sabendo que passariam horas a mais no trânsito. Durante toda a terça-feira, o movimento foi pequeno na estação, principalmente à tarde, quando há mais passageiros desembarcando no local.

“O ônibus passou a ser o transporte mais seguro e menos perigoso. Uma batida com outro coletivo faz menos estrago. Depois dessa tragédia, vou evitar os trens, pois estão sucateados”, disse a auxiliar administrativa Cláudia Vezzoni, de 23 anos, moradora de Nova Iguaçu, que trabalha a poucos metros da Estação de Juscelino. De uma estação para outra, ela leva menos de dois minutos. “De ônibus, o tempo é bem maior”, esclarece.

Para o designer Rui Santos Barbosa%2C “viajar nos trens significa passar por momentos de tensão”Paulo Araújo / Agência O Dia

O design gráfico Rui dos Santos Barbosa, 20, foi salvo por alguns minutos. Ele disse que embarcaria na estação no horário da colisão, mas antecipou a viagem e pegou outro trem. “Graças a Deus, não estava na hora do impacto. Viajar nos trens da SuperVia significa passar por momentos de tensão”, lembrou.

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O bombeiro hidráulico Geraldo dos Santos, 60, estava no trem atingido e sofreu luxação no joelho, após o ventilador da composição e passageiros caírem sobre ele. A diarista Cristina Santos da Rocha, 38, que fraturou o tornozelo, acusou a concessionária. “Revoltante o descaso da SuperVia. Tinham poucas ambulâncias e ninguém da empresa nos deu suporte”.
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