Rio - Manifestantes que protestam em frente à 37ª DP (Ilha do Governador) contra a morte de dois moradores do Morro do Dendê nesta manhã entraram em conflito com policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) por volta das 15h desta terça-feira. Ao cercar e dar socos em uma viatura da Polícia Civil, o grupo foi contido pelos agentes, que chegaram a usar bombas de gás para dispersá-los. Houve correria e alguns manifestantes ainda atiraram pedras contra os policiais. O comércio da região fechou as portas.
Operação da Polícia Civil deixa dois mortos no Dendê
Indignados, os moradores acusam os policiais pela morte de um pescador e de uma criança durante uma megaoperação da Polícia Civil no Dendê nesta manhã. A ação tinha como objetivo apreender caça-níqueis e cumprir mandados de busca e apreensão.
Segundo familiares e moradores, o pescador Wanderson Jesus Martins, 23 anos, e Gilson Costa, de apenas 12, foram mortos por tiros disparados por policiais que estavam a pé, próximo a um veículo blindado, após disparos realizados por um helicóptero não terem acertado as vítimas, que teriam sido confundidas com criminosos. Os moradores relatam ainda a existência de um terceiro morto, no entanto, a polícia ainda não confirmou essa informação.
Ao DIA , a irmã de Wanderson, Paola Aparecida Jesus de Melo, de 16 anos, contou como o homem, que era pescador e tinha assinado a carteira de trabalho no último dia 4 como carregador, foi morto.
"O Wanderson ia comprar pão para o filho dele de 4 anos. De repente, um helicóptero da Civil deu um rasante. Ele e o menor se assustaram e correram para dentro de uma casa onde tem uma padaria. Os policiais nem perguntaram se ele era trabalhador. Já chegaram atirando na covardia. Executaram meu irmão. Não foi bala perdida, foi um homicídio", afirmou.
Estudante e moradora do Morro do Dendê, Cristiane de Melo, de 18 anos, dá o mesmo relato: "Deram vários tiros para tudo quanto é lado. Atiraram a esmo. Um deles pegou no vidro traseiro do carro do meu pai que estava estacionado. Não pude nem sair de casa com tanto medo que fiquei", disse.
Presidente da Associação de Moradores do Morro do Dendê, Nilton Fernando Alves, de 40 anos, classificou a operação como um "erro de estratégia". "Com um helicóptero, a Polícia Civil pensou que conseguiria diferenciar um criminoso de um trabalhador. Não tem como diferenciar. Foi uma operação errada da Polícia Civil que resultou na morte de duas pessoas", disse, inconformado.
Protesto após mortes
Após as mortes, cerca de 50 moradores desceram o Morro do Dendê carregando sacolas e espalharam lixo no acesso à favela. Um dos manifestantes foi preso por desacato e agressão a um policial militar. Ele foi levado à 37ª DP (Ilha do Governador). Durante o ato, os manifestantes deram socos e pontapés em ônibus e em carros da Polícia e da Defesa Civil. Alguns até jogaram pedras para o alto. A todo momento, eles pediam "justiça" e chamavam os policiais de assassinos.
Na Estrada do Cacuia, alguns comerciantes fecharam as portas. Na porta da 37ª DP, houve reforço no policiamento com cinco carros, mas não foram registrados confrontos. Por volta das 14h30, os manifestantes fecharam a Rua Vistula, em frente à delegacia e alguns se sentaram no chão. Outros estão com o rosto coberto com capuz.
Colaboraram Luarlindo Ernesto e Tiago Frederico