Rio - Um dia após a morte de Mariane Santos da Silva, de 24 anos, familiares da vítima voltaram a denunciar, nesta terça-feira, o desvio de função da fiscal de caixa de uma loja da Ceasa — empresa vinculada à Secretaria de Estado de desenvolvimento regional, abastecimento e pesca —, em Irajá, na Zona Norte. Eles também criticaram a falta de segurança no local.
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A jovem foi baleada nesta segunda-feira durante um assalto na Ceasa. Ela ainda segurava um malote com R$ 59 mil — e levado pelos assaltantes — para realizar um pagamento da empresa. Na ocasião, outra vítima, Antenor da Silva Rios Neto, 54, foi atingido e morreu no local. Outro homem também chegou a ser alvejado, mas sobreviveu.
"Coitada da minha irmã. Queremos justiça. Isso não pode e não ficará assim", desabafou a irmã de Mariane, Joyce da Silva, que já havia acusado a empresa de desviar a vítima de sua função. "Minha irmã estava com dois seguranças desarmados. Deveriam portar armas ou haver uma escolta para protegê-la. Usaram minha irmã como escudo", disse ela.
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Ela lembrou ainda que Mariane era obrigada a fazer esse serviço mesmo sem lhe oferecerem segurança. No cortejo, amigos e parentes criticaram a empresa e lembraram outros casos em que vítimas foram baleadas enquanto levavam malotes com dinheiro. "Mariane foi mais uma vítima brutal do estado. Ela estava bem. Duas semanas antes de ela ser morta havia voltado para a Igreja", disse um parente.
O enterro de Antenor também foi realizado nesta terça-feira em Irajá. A família não quis dar declarações à imprensa, mas garantiu que vai processar a Ceasa pela falta de segurança no local.
Polícia apreende carro de assaltantes
Nesta terça-feira, os três homens que seriam seguranças da Ceasa, e que haviam sido presos por porte ilegal de arma, já foram liberados. Além disso, a polícia apreendeu o carro dos assaltantes. O veículo foi encontrado no Morro do Faz Quem Quer, em Rocha Miranda, e já foi periciado pela Divisão de Homicídios (DH), que investiga o caso.
Polícia investiga se vítima era monitorada por bandidos
A Delegacia de Homicídios da Capital (DH) suspeita que a fiscal de caixa Mariane dos Santos da Silva, de 24 anos, morta com um tiro nas costas segunda-feira, na Ceasa do Irajá, foi perseguida pelos bandidos que a monitoravam para roubar dinheiro (R$ 59 mil). “A primeira possibilidade é que ela tenha sido seguida e até indicada como a pessoa que efetivamente levava esses valores ao banco. A outra é uma situação ocasional. Se encontrou ali, na frente do banco. Os bandidos foram lá, a abordaram e fizeram aquela covardia. Nesse momento a gente não descarta nenhuma possibilidade”, contou o delegado Rivaldo Barbosa, responsável pelas investigações.
Ex-coronel da PM e fundador do Bope, Paulo Amêndola também criticou a empresa. “Inconsequência e irresponsabilidade, ainda mais que a Ceasa é cercada de favelas e tem várias rotas de fuga pela Avenida Brasil. Já deveriam ter monitorado a mulher e ter estudado o horário e dia em que ela fazia o depósito. Para uma quantia alta, deveriam usar carro-forte e não um fusca”, disse ao DIA.
Reforço da PM não chega
O clima na Ceasa um dia após a tragédia que levou à morte de Mariane e Antenor era de tristeza, insegurança e silêncio. Pelos arredores dos armazéns, a equipe de reportagem do DIA não encontrou uma viatura policial sequer.
A segurança feita por vigilantes não foi reforçada, e a administração da Ceasa informou que o 41º BPM (Irajá) disponibilizou uma viatura para reforçar as entradas e saídas. No entanto, a viatura não estava em nenhuma das entradas, que também não tinham vigilantes ou qualquer tipo de fiscalização. A Ceasa informou também que intensificará o monitoramento do circuito de câmeras interno.
“Isto aqui sempre ficou ao deus-dará e continuará sendo. É terra de ninguém. Salve-se quem puder. Quem quiser segurança, que contrate um”, disse um dos lojistas.