Por luis.araujo
Rio - Pelo menos 300 metalúrgicos da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, teriam sido demitidos na última sexta-feira. São os primeiros dos cerca de três mil cortes que estariam programados para ocorrer, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense.
A empresa não comentou o assunto e nem revelou números, pois estaria aguardando o movimento dos mercados interno e externo de aço para decidir sobre a quantidade de demissões que deverá ser efetuada no total. De acordo com funcionários, o clima é tenso no interior da Usina Presidente Vargas.

“Só no meu setor foram demitidos 15 colegas hoje. Há muita gente em desespero, chorando por conta da situação. O quadro é desolador”, afirmou um engenheiro, ressaltando que até estandes para as rescisões de contratos foram montados em vários pontos da empresa. Na próxima semana, especula-se que o número de demitidos poderá atingir 1,2 mil trabalhadores.

Líderes católicos%2C políticos e sindicalistas fizeram panfletagem contra demissões na porta da CSN no final da tarde de sexta-feiraFrancisco Edson Alves / Agência O Dia

No final da tarde, um grupo de pessoas ligadas à Igreja Católica, a diversos sindicatos, entidades de classe, partidos políticos e movimentos sociais, distribuíram uma carta de repúdio contra as demissões na principal entrada da CSN, na Vila Santa Cecília. O ato, prejudicado por falta de um caminhão de som, também convocou a população para outra mobilização, um protesto no dia 14, às 17h, na Praça Juarez Antunes.

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A ausência do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Sílvio Campos, no ato, foi duramente criticada pela oposição metalúrgica, e justificada pela assessoria no início da noite de sexta-feira. Em mensagem de áudio destinada a um grupo de jornalistas no WhatsApp, o sindicato confirmou as dispensas de funcionários, sem mencionar números, e garantiu que Silvio Campos viajou para São Paulo, “onde tenta se reunir com diretores da CSN, com o objetivo de reverter o quadro de demissões”. Representantes do comércio local e da prefeitura ainda não se manifestaram oficialmente sobre o assunto.
Íntegra da carta aberta à população distribuída nesta sexta-feira

“NÃO ÀS DEMISSÕES DA CSN E EMPREITEIRAS! NENHUM DIREITO A MENOS!
Companheiros e companheiras,
Em dezembro de 2015, pouco antes das festas de fim de ano, o Sindicato dos Metalúrgicos, juntamente com os funcionários da CSN, recebeu a notícia desastrosa de ameaça de demissões, que segundo informações podem chegar a 3000 trabalhadores e trabalhadoras, ou até ultrapassar esse número, entre administração da empresa e terceirizados. Uma demissão desse porte tem reflexo direto na população de Volta Redonda e região, serão mais de 3000 famílias atingidas pelo desemprego. A explicação da empresa, que mais tem cara de desculpa, é de que a CSN não está tendo lucros. Será que realmente a CSN não está tendo lucro? A verdade é: Benjamin Steinbruch e a direção da CSN querem que os trabalhadores paguem, a duras penas, por sua vontade de mais lucro. Um dos objetivos da empresa é pôr fim ao turno de 6 horas, conquista histórica da greve de 1988 com a morte de três trabalhadores, e ainda quer a suspensão imediata do pagamento do adicional de 70% do abono de férias; implantação do banco de horas para os empregados de Volta Redonda e Porto Real; a suspensão imediata do pagamento do adicional de horas extras e hora noturna acima da prevista pela CLT; suspensão temporária do pagamento do abono de hora noturna; suspensão temporária do abono pecuniário; aumentar em 25% a participação dos empregados no fator moderador dos planos de saúde e odontológicos; retorno da participação dos empregados no cartão alimentação em 10%; acúmulo de funções aos funcionários, entre outras propostas de retiradas de direitos. Ora, sabemos que há anos a CSN sempre vem tentando, através de pressão, acabar com o turno de 6 horas. Não aceitaremos, de forma alguma, qualquer retrocesso! Nenhum direito a menos para os trabalhadores. Quando a nossa empresa foi privatizada, Steinbruch levou a CSN com preço de banana, comprando por um valor 30 vezes menor que o valor real. Com isso, levou também a Cicuta e 25% das terras urbanas de Volta Redonda. O que seria melhor pra nossa cidade? Que a CSN continuasse estatal ou fosse doada para Benjamin Steinbruch numa “promoção irrecusável: compre a empresa e leve a metade da cidade”. O que sabemos é: desde a sua privatização a CSN vem ceifando empregos, cada vez mais e mais na nossa cidade e na região, tudo em nome do lucro! Dando aos seus empregados um dos piores salários do setor siderúrgico e chantageando, sempre que pode todos os seus funcionários como agora faz com a promessa de demissão. A estimativa de 3000 trabalhadores na rua atinge aproximadamente 12.000 pessoas diretamente. Atinge o comércio, atinge serviços públicos, como educação e saúde da nossa cidade e região. A luta não é apenas dos metalúrgicos. É uma luta de toda a cidade. De toda a região Sul Fluminense. Não deixaremos e não podemos aceitar 3000 famílias serem desamparadas e desempregadas em nome da lucratividade de Benjamin Steinbruch que quer e tenta, a qualquer custo, mandar em nossa cidade! A regra é clara: nenhuma demissão! Não a redução de direitos! Permanência do turno de seis horas! Por isso convocamos toda a população junto com o Sindicato dos Metalúrgicos e Sindicato da Construção Civil, Sindicato dos Engeheiros e todos dos movimentos sociais, igrejas e população a estarem conosco dia 14 de janeiro no ato em frente à CSN, às 17 horas, na Praça Juarez Antunes, contra as demissões, em defesa do emprego junto com os trabalhadores e trabalhadoras de Volta Redonda e região!
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Assinam essa carta: Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, Sindicato dos Engenheiros, Sindicato da Construção Civil, Diocese de Barra do Piraí – Volta Redonda, Pastoral Operária, CUT, Força Sindical, Conlutas, CTB, PT, PCdoB, PCB, PSTU, PSOL, Sindicato do Funcionalismo Público, Sinpro, Sepe, Associações de Moradores, Conselho Municipal de Direitos Humanos, Unidade Classista (UC), Juventude Revolução (JR), Levante Popular da Juventude, Comitê de Luta Classista (CLC), Oposição Metalúrgica do Sul Fluminense, Movimento Fé e Política, Diretório Central dos Estudantes do UBM (DCE-UBM), Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s) ICMBIO, Movimento dos Trabalhadores Cristãos (MTC), Pastoral da Saúde, Conselho Comunitário de Segurança, CEDIR, OAB-VR, Associação de Economia Solidária (AESP), Associação dos Jornalistas do Sul Fluminense, Comissão de Justiça e Paz de Volta Redonda, Conselho Municipal da Pessoa Idosa, CEBI, Associação de Mulheres Bethe Lobo, Movimento Ética na Política(MEP), Associação Mulher Cidadania Ambiente e Economia Solidária, Comissão Ambiental Sul, Fórum da Negritude do Sul Fluminense, Aposentados de Volta Redonda”.