Babalawô Ivanir dos Santos
Babalawô Ivanir dos SantosDivulgação
Por Ivanir dos Santos*
Para uns São Jorge, para outros Ogum! Comemorado anualmente no dia 23 de abril, o Dia de São Jorge é uma das maiores demonstrações das construções das relações e trocas simbólicas entre o catolicismo popular e as religiões de matrizes africanas no Brasil. A data, que também é celebrada em várias outros países como nações, entre eles Inglaterra e Etiópia, e de cidades, como Barcelona e Beirute, marca a história social e religiosa de um país que traz em suas franjas de narrativas históricas um longo processo de intolerância e perseguições sobre aqueles e aquelas que buscavam fazer do “sincretismos” os seus processos de resistências.
Sim, resistências ou como bem pontua James Scott “Um Discurso Oculto” onde é possível aos subalternizados cultuar e manter os seus código de crenças através de uma ação simbólica sincrética em que, é possível rezar para o santo e rogava para o Orixá. Segundo nos conta a história, a devoção ao santo no Brasil começou por influência da cultura cristã portuguesa e acompanhou profundamente a estruturação das relações sociais construídas pelos portugueses em solo brasileiro.
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Ora! Não podemos nos esquecer que enquanto a cultura portuguesa começava ser assentada em solo brasileiro, sobre a cultura indígena, a cultura negra africana começa chegar junto com os africanos e africanas que aportaram no Brasil na condição de escravos. E é o entrelaçamento desses “encontros” que propiciam o início das construções das características da cultura popular brasileira, e o sincretismo é uma dessas características.
Tido como santo padroeiro extra oficialmente, da cidade do Rio de Janeiro, pois oficialmente este "título" é atribuído a São Sebastião, e da cidade de São Jorge dos Ilhéus além de ser padroeiro dos escoteiros, o culto à São Jorge é um dos mais populares e mas difundidos, sendo ele também padroeiro Cavalaria do Exército Brasileiro.
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Destrate, a cultura popular brasileira nos aponta que o culto e as devoções a São Jorge estão para além das conexões religiosas. Seja ele chamado e/ou identificado como santo ou Orixá guerreiro, boa parte dos brasileiros e brasileiras se apegam à crença e pedem proteção em momentos difíceis. Cá do meu canto observo que compreender os processos de formação das devoções religiosas no Brasil é uma das formas de compreender as nossas construções culturais e religiosas que, de forma significativa, expressam as nossas identidades. Salve Jorge, Salve Ogum!
 *É babalawô e professor-doutor CCIR/CEAP/UFRJ/IFCS