Fabiano Carvevale – presidente da Fundação Parques e Jardins do Rio
Fabiano Carvevale – presidente da Fundação Parques e Jardins do RioDivulgação
Por Fabiano Carvevale*
Todos conhecemos bem a relação do carioca com a paisagem e seus recursos naturais. As praias, os parques, as praças, as lagoas são parte fundamental dos percursos afetivos que compõem o que chamamos de “carioquice”.

Nesse sentido, as árvores também se inserem nesse conjunto de relações que os cariocas têm com a natureza. Quantas vezes não buscamos a sombra de uma delas para se aliviar do calor intenso da nossa cidade? São refúgios de frescor nos dias de verão.

Durante muitos anos, a falta de planejamento no plantio fez com que muitas árvores tenham sido plantadas de forma inadequada, destruindo calçadas e muros, se tornando vilãs para muita gente. Estabelecer de forma criteriosa as espécies de árvores é fundamental para evitar esse tipo de situação.
Para isso, a governança arbórea (do plantio às remoções - muitas vezes necessárias - passando pela manutenção e rega) deve ser transparente e contar com a participação, mobilização e controle da sociedade civil.

Por isso, desde o início do ano, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a partir da Fundação Parques e Jardins, colocou como prioridade a implementação do Plano Diretor de Arborização Urbana (PDAU). Aprovado em 2016, o PDAU só começa agora a sair do papel. E ele é urgente e fundamental.

Urgente porque a crise climática já é uma realidade, fundamental porque pensa a cidade a partir de outros fatores, como a redução da temperatura nas ilhas de calor e a ampliação da permeabilidade do solo, o que amplia a capacidade de absorção das águas durante as fortes chuvas que enfrentamos todos os anos.

O PDAU nos faz pensar e planejar a cidade a partir da desigualdade no acesso aos recursos naturais. Enquanto bairros como Jardim Botânico e Gávea possuem um alto índice de arborização, a maioria dos bairros das Zonas Norte e Oeste sofrem com um enorme déficit de áreas verdes.

Sabemos que o Rio é uma cidade desigual sócio-economicamente. Desigualdade essa que também está refletida na questão ambiental. Quanto mais pobre uma localidade, menos parques, praças e arborização urbana. E por relação direta, mais vulneráveis às consequências cada vez mais fortes da emergência climática que o mundo enfrenta.

Outros caminhos de regeneração ambiental também estão no radar do PDAU, como as florestas de bairro, os jardins de chuva e o paisagismo tático. Soluções baseadas na natureza e no reaproveitamento de materiais descartados podem ajudar o Rio de Janeiro a resolver parte da insegurança climática que enfrentamos.

O desafio é enorme. Mas com soluções inovadoras, criativas e em parceria com a sociedade civil e a iniciativa privada, o Rio de Janeiro vai se inserir na vanguarda da arborização urbana no Brasil.
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*É presidente da Fundação Parques e Jardins do Rio