Economista Raul VellosoDivulgação/Inae

Por Raul Velloso*
O noticiário do final da quinta-feira surpreendeu o público com o anúncio de que o governo estuda adotar uma importante medida de relaxamento das regras de proteção contra a disseminação da covid-19. Trata-se de liberar as pessoas que já tenham tomado duas doses da vacina ou contraído a covid-19, do uso da famigerada máscara que irrita alguns, mas que, para a oposição, tem felizmente reduzido a disseminação do coronavírus, embora não o suficiente para impedir o número assustador de mortes que ocorreu até agora (até anteontem, cerca de 482 mil mortes), o que demonstra insuficiente vacinação.

Penso que devemos perguntar se se trata de uma mera reafirmação da política de “imunização de rebanho” que, apesar do alto número de mortes, vem sendo seguida de forma não muito explícita desde o início da pandemia, como em breve confirmaremos na CPI do Senado pela exposição do deputado Osmar Terra na próxima semana, um de seus principais expoentes.
Ou se tem a ver com a novíssima visão otimista sobre o desempenho da Economia que surgiu há pouco. Para alguns, especialmente nos mercados financeiros, é alta a probabilidade de o PIB brasileiro crescer 5% este ano, o que demonstraria que, apesar de tudo, os empregos estão subindo, e – quem sabe – talvez devêssemos aprofundar ainda mais as saídas adotadas até agora.

A primeira hipótese sugere uma teimosia para lá de indesejável. Já sob a segunda, o fato é que o fechamento da nossa Economia após a pandemia, combinado com a queda de renda que se seguiu, derrubou o PIB mensal calculado pelo Banco Central em não menos que 12,9% em abril versus março de 2020, sendo o país, ali, jogado no fundo de um profundo “poço”. De lá para cá, recuperamos em julho a borda do mesmo poço e crescemos levemente até dezembro, de tal forma que o índice desse mês ficou 5% acima da média de 2020, em face do “buraco” de abril, para depois cair de novo em janeiro e fevereiro de 2021.
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É verdade que logo no mês seguinte (março) demos nova recuperada, de forma tal que o índice médio do PIB no primeiro trimestre de 2021 ficou praticamente igual ao índice de dezembro de 2020. A partir daí – diria a visão otimista - bastaria manter os índices médios trimestrais no mesmo nível do relativo ao primeiro, para o PIB acabar crescendo aos desejáveis 5% na comparação 2021-2020. Só que essa seria uma vitória de Pirro, porque somente refletiria o carregamento do crescimento ocorrido dentro do ano precedente (ou seja, resultando da comparação do índice de dezembro de 2020 contra a média desse mesmo ano), enquanto, na verdade, quem projeta crescimento do PIB de 5% em 2021, algo aparentemente muito bom por estar bem acima da média dos últimos não sei quantos anos, está simplesmente se atendo (sem revelar com clareza) ao “carregamento” do que teria ocorrido dentro do ano precedente, nem mais, nem menos.por que não manter as máscaras e tentar vacinar mais, e, assim, diminuir as mortes simultaneamente com a tarefa de fazer o PIB crescer mais que 5% com a ajuda de maiores investimentos?
Moral da estória: por que não manter as máscaras e tentar vacinar mais, e, assim, diminuir as mortes simultaneamente com a tarefa de fazer o PIB crescer mais que 5% com a ajuda de maiores investimentos?
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*É consultor econômico