Raul VellosoReprodução

Segundo declarou Bolsonaro esta semana, “nós vencemos o ano passado, estamos vencendo este, alguns projetam um crescimento positivo de 5% este ano, então se no ano passado foi -4%, crescemos 9%, um milagre!”... Só que, não só a conta está errada (pois o resultado líquido seria menos um), mas o fato
é que o Brasil há muito perdeu o rumo do crescimento elevado e contínuo. E, além de ter dado o azar de ter sido eleito exatamente no ano da COVID-19, o atual governo acabará se destacando entre os que pior reagiram a ela.
Na verdade, se der 5% este ano, isso refletirá apenas o “carregamento” para diante da queda em “V” registrada no meio do ano passado, medida pela diferença entre o índice de dezembro e o índice médio de 2020, que foi praticamente desse mesmo valor. Nesses termos, a segunda parte da conta relevante
– que é a diferença entre o índice médio de 2021 e o de dezembro de 2020 deverá ser inexpressiva ou mesmo negativa, como se percebe pelo que já ocorreu até maio (-1,5%, segundo estimado pelo IBC-Br, que é a prévia mensal do PIB, calculada pelo Banco Central). Dada a baixa velocidade da vacinação, em
que pese o esforço do Butantã, é de se duvidar que de junho a dezembro tenhamos uma recuperação expressiva que compense a queda até maio e incorpore algum crescimento líquido positivo em 2021. Assim, algum ganho de PIB pós-pandemia somente poderá ser atribuído ao atual governo se, ao longo de 2022, detectarmos índices mensais do IBC-Br mostrando algum crescimento em relação ao mesmo mês de 2021, em uma comparação entre anos menos atípicos. E, mesmo assim, o governo Bolsonaro carregará o ônus de o Brasil ser mostrado como o País em que mais pessoas morreram pela COVID em relação à sua população.

Só que, mesmo que consigamos virar a página da pandemia, a construção do futuro continuará dependendo de investimentos maciços em infraestrutura, sejam eles públicos ou privados, cuja
viabilização tem ainda um caminho tortuoso e pouco conhecido a ser trilhado à frente.
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Para tanto, faz todo o sentido, por exemplo, que abandonemos a visão oficial de reduzir a atuação do Estado a qualquer preço (especialmente como investidor), achando que isso garantiria a confiança externa e provocaria o ingresso maciço de recursos de fora. Mas vejam: o Brasil tem ostentado elevados superávits
comerciais e até superávits na conta-corrente total do Balanço de Pagamentos, tendo cessado a necessidade extrema de moeda externa que tivemos durante tantos anos.
E na raiz dos problemas de prazo mais longo está o ainda não resolvido crônico déficit previdenciário dos entes federativos, cuja persistência rouba recursos da rubrica “investimentos”, sendo essa a mais vulnerável de todas, justamente por não ter nenhum carimbo de obrigatoriedade nos orçamentos públicos.
O saneamento previdenciário vai impactar favoravelmente os investimentos de várias formas, inclusive gerando “funding” nos fundos que começam a ser criados em estados e municípios, para financiar investimentos privados em PPP e concessões de infraestrutura.