Opinião 07 fevereiro 2022Arte Paulo Márcio

A personalidade, a obra e a presença política de JK devem merecer novas abordagens. E pode ser de grande utilidade para a classe política, tanto governo quanto oposição. Afinal, JK conquistou o sonho de todo homem público, que é o reconhecimento da história, serenadas as paixões, passado o tempo.
A primeira lição do político, que foi prefeito de Belo Horizonte, deputado federal, governador de Minas, presidente da República e senador, é a de que a base de sustentação de sua carreira foi o fato de ter sido um dirigente realizador, inovador e dinâmico desde a sua passagem pela prefeitura da capital mineira. No Palácio da Liberdade, apesar dos problemas econômicos e do tumulto político, renovou a marca da competência e da ousadia do comando do Estado.
A Presidência foi uma decorrência natural, com o notável plano de metas e a construção de Brasília. Sua trajetória demonstra que o homem público tem de realizar, inovar, ousar e acreditar que o Brasil é maior do que as dificuldades e as crises.
A segunda lição se aprende ao observar o temperamento de JK, marcado pela alegria, o sorriso, a cordialidade e a generosidade. Tomou posse meses depois de um movimento militar que visava impedir o respeito à vontade das urnas, enfrentou logo um levante de oficiais da Aeronáutica. Respondeu com pronta e generosa anistia, sem alarde, e esvaziou a importância das manifestações dos inconformados e manipulados, muitos jovens e idealistas.
Depois de 1964, quando sofreu a injustiça de uma perda de direitos políticos inspirada no trabalho de Carlos Lacerda e no grupo de udenistas então influentes, reagiu com grandeza, sem nunca demonstrar mágoa ou justo ressentimento. Afinal, recebeu pedido de apoio do Marechal Castelo Branco para sua candidatura presidencial. Votou nele e, semanas depois, foi atingido por ato revolucionário. JK obviamente nada tinha de subversivo, comunista ou corrupto.
Viveu em estado de permanente otimismo, com o Brasil, com a vida, cercado de amigos e admiradores. A dignidade com que se portou, a modéstia de seus hábitos e de sua vida pessoal simples e austera, o sentido do companheirismo com a mulher e do
carinho com as filhas e netos são marcas suas. Não escondia sua admiração pelas grandes obras dos governos militares, passando por cima das incompreensões de que era vítima pelo grupo no poder.
O exemplo de JK ganha força quando se percebe que o momento político que vivemos tem as marcas da intolerância, quando não do ódio. O reconhecimento que alcançou é fruto da combinação do dinamismo do homem público com a generosidade da figura humana rica e bonita. Como lembra Pedro Rogério Moreira, o sorriso era a marca de JK.
Nada mais educativo do que a reflexão sobre esse exemplo, de cuja época os mais moços ainda encontram referências testemunhais, da família, na política, na literatura. Muitos ainda se lembram de fatos que marcaram a vida desse brasileiro
singular, que deve formar com o Imperador Pedro II a dupla que mais perto se aproximou do consenso nacional.

Afinal, precisamos deste conjunto que fez de JK estadista consagrado por seus contemporâneos. Mais realizações, melhor convívio e menos ressentimentos entre os atores que fazem o momento importante que vivemos.
Aristóteles Drummond é jornalista