opina30maiARTE KIKO

Não pode existir democracia sem oposição. E liberdade de imprensa e eleições livres são os pilares do regime que foi consagrado pelos povos mais avançados econômico e culturalmente. Temos sofrido de um equívoco por parte de nossas oposições, desde 1964 até os dias de hoje. Eles deixaram, em parte, de cumprir o seu nobre papel de criticar de maneira construtiva, apresentando alternativas ao que discorda, assim como denunciar casos que agridem o interesse público, incluindo os de corrupção.
Deram ao papel de criticar o de destruir, negar, sabotar, prejudicar os governos com objetivos eleitorais. Este é o grande ataque à democracia, especialmente quando esta oposição deixa o Congresso e a Imprensa para se estabelecer no Judiciário, que anda palpitando onde não é chamado, gerando um poder paralelo de fato.
Essa oposição ganha espaços na medida em que os governos se mostram despreparados para esclarecer o que deve ser esclarecido e corrigir o que deve ser corrigido. O erro está em ambos os lados. Falta a coragem e a simplicidade com as quais Itamar Franco convidou o então senador Antônio Calos Magalhaes para lhe levar os casos de corrupção que havia se referido em audiência, e esta foi feita de portas abertas com a presença da imprensa.
Os casuísmos proliferam em nossa história republicana recente. Desde o impedimento ilegal do presidente Collor, julgado depois de renunciar, punido com a suspensão de seus direitos políticos, que, 20 e poucos anos depois, foi repetido com o processo da presidente Dilma, que não renunciou e teve seus direitos políticos mantidos, em vergonhosa manobra de um nomeado por seu partido. Privilégio que se mostrou
inócuo, pois foi corrigido pelo povo de Minas Gerais no pleito a seguir, negando-lhe o mandato de senadora que buscava.
Alguns governadores têm demonstrado competência ao lidar com as oposições e conseguem governar sem maiores problemas. O mesmo, como se sabe, não ocorre a nível federal, onde gerar e alimentar atritos parecem ser programa de governo. Seria melhor para todo mundo, e para o regime que todos dizem defender, se governos e oposições cumprissem seus papéis com sentido cívico e patriótico.
Aristóteles Drummond é jornalista