Júlio Furtado é professor e escritorDivulgação

Nesse interminável período de retorno às aulas presenciais temos observado a enorme e compreensível preocupação da escola com as lacunas de aprendizagem demonstradas pelos alunos. Foram dois anos longe das salas de aula que provocaram não apenas atraso no que deviam ter aprendido, mas retrocesso no que supostamente já deveriam saber. A preocupação aumenta porque além dos “gaps” que os alunos estão trazendo, eles não aprendem no ritmo que a escola deseja para “colocar em dia” as aprendizagens. Em meio a essa turbulência, cabe uma reflexão que talvez ajude os professores a compreender que aumentar a velocidade e o volume de conteúdos a serem ensinados não vai resultar em mais aprendizagens, mas sim
aumentar a ansiedade docente que já é enorme.
Mas, afinal, como ocorre a aprendizagem? É fundamental que nós, professores compreendamos que aprender exige esforço (prestar atenção, concentrar-se, persistir quando errar) e que o combustível para que façamos esse esforço é a intensidade do interesse que nutrimos pelo que estamos aprendendo e que esse interesse se forma a partir do sentido que o conteúdo precisa fazer para quem aprende. Logo, os principais componentes da aprendizagem são a construção de sentido, o esforço cognitivo e o interesse. Quanto maior for o sentido que alguma coisa faz para nós, mais combustível teremos para o esforço cognitivo.
Na medida em que o esforço cognitivo resulta em aprendizagem, o interesse vai se fortalecendo e nos fazendo ter prazer em aprender e é esse prazer, manifestado em forma de interesse que mantém o esforço cognitivo para continuarmos aprendendo. É isso que explica não sentirmos sono assistindo a filmes que nos interessam ou passar a noite lendo um livro ou assistir a uma palestra de três horas até o fim sem sentir o tempo passar.
Logo, o sentido é rei! É através da formação de sentido que levaremos os alunos fazer o esforço cognitivo para aprender e essa aprendizagem é que vai fortalecer (ou não) o interesse responsável por manter o esforço por mais tempo. Precisamos valorizar a formação de sentido em nossas aulas como primeiro passo para a aprendizagem. Enquanto esse sentido não for construído, de nada adianta seguirmos adiante com a aula, pois não haverá esforço cognitivo para construir a aprendizagem. E o pior é que esse esforço não surge a base de broncas e castigos.
*Júlio Furtado é professor e escritor