Em reunião, os Sindicatos dos Professores da Rede Pública Municipal de Macaé (Sepe) e dos Professores de Macaé e Região (Sinpro), que assiste os docentes das escolas privadas, se manifestaram em texto único se posicionando contra a volta das aulas em fevereiro.
Presidentes e representantes dos sindicatos estão atentos às orientações das principais instituições científicas do Brasil e do Mundo, que apontam a única saída para o fim da pandemia: a vacina.
O Sinpro Macaé e Região divulgou para a imprensa o texto na íntegra assinado pelos dois sindicatos que se posicionam contra o retorno das atividades escolares presencialmente.
Confira o texto:
Nessa última semana, todos nós acompanhamos estarrecidos e aflitos os relatos de profissionais da saúde e de familiares dos pacientes que em Manaus morriam asfixiados por falta de oxigênio e pela mais completa demonstração de incompetência deste Governo e seus ministros. Denunciamos meses atrás que o retorno às aulas presenciais em plena pandemia era grave e muito perigoso, e citamos justamente o exemplo de Manaus que seguinte a lógica assassina do negacionismo flexibilizou as atividades a ponto de abrir as escolas estaduais, provocando grande número de contaminação entre os profissionais da educação. Porém, a situação hoje é muito mais dramática e no Brasil todo. No Reino Unido as escolas voltaram a funcionar com aulas presenciais quando o nível de contaminação era considerado baixo, e apesar de todos os alertas, o governo manteve sua decisão, o que provocou um aumento de 26% de casos no período de apenas 12 semanas, isso significa três vezes mais do que o verificado nos hospitais (8%).
O estado do Rio de Janeiro continua oscilando entre as bandeiras laranja e vermelha, o que significa alto nível de contaminação. Na semana passada, a média móvel de mortes no estado subiu 147% em relação às duas semanas anteriores. No mês de setembro, pesquisadores do Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Sócio-Ambiental da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Nupem – UFRJ alertavam para a possibilidade de uma segunda onda de contaminação ou continuidade da primeira, já que não chegamos a nos recuperar de uma para dar início em outra, o que foi confirmado nos meses de outubro e novembro. Conforme o painel do GT Covid 19 da UFRJ-Macaé de 16/01/2021, a região norte fluminense (abrangendo 9 cidades da região) possui quase 44 mil contaminados e mais de 1200 vítimas dessa doença, dos quais somente em Macaé são 13 mil contaminados e 254 seres humanos mortos por Covid 19.
O fato é que Macaé e região continuam com números alarmantes em relação ao mundo, e, portanto, não é possível planejar o retorno das aulas presenciais agora ou até que a vacina seja uma realidade para a população macaense, pois somente a vacinação massiva é capaz de proteger o povo da morte e das possíveis sequelas deixadas por essa doença. Sabemos que nossas escolas não possuem condições estruturais e sanitárias adequadas para lidar com tão alto risco, além do mais, não é de hoje que o Sepe Macaé denuncia a falta de profissionais nas escolas e reivindica concurso público já, o que em um cenário de pandemia torna-se ainda mais fundamental. E ainda que todos os protocolos fossem obedecidos e as condições estruturais das escolas fossem as ideais, sabemos com base nas evidências científicas que a vacina é a única medida eficaz para combater essa doença e que ela deve ser realizada em massa e gratuitamente para toda população.
Por tudo isso, o Sepe Macaé e o Sinpro Macaé e Região consideram precipitado um retorno das aulas presenciais neste momento, acreditamos que somente a vacina pode nos oferecer condições seguras para a volta das atividades letivas presenciais, mas também defendemos a abertura de um amplo debate público com a sociedade, que tenha como finalidade pensar na escola pós-pandemia, porque tornou-se evidente e incontestável que não podemos mais aceitar como “normal” as péssimas condições em que crianças e jovens, filhos da classe trabalhadora, são formados numa das cidades mais ricas deste país.
Precisamos repensar e reconstruir nossos espaços escolares imediatamente e as condições de aprendizado. Qualquer debate que se proponha a ser amplo e que tenha como objetivo discutir as condições físicas, sanitárias e estruturais das nossas escolas precisa envolver toda a sociedade, mas principalmente, aqueles e aquelas que constroem cotidianamente, com muito trabalho e dedicação, o nosso chão. Esse debate, portanto, precisa envolver todos os segmentos e setores, organizações de saúde como a Secretaria Municipal de Saúde, as entidades científicas como a Fiocruz, UFRJ através do Nupem e do Grupo de Trabalho Interdisciplinar Covid-19, pais e responsáveis, entidades estudantis, sindicatos, secretaria de educação, conselhos de educação municipal e estadual, comissões de educação e de ciência e tecnologia, enfim, um espaço amplo que privilegie a escuta, que dê voz a todos e a todas, e que tenha como objetivo a construção permanente de caminhos. Somente desta maneira é possível encontrarmos solução para as consequências deixada pela pandemia do século. A responsabilidade é muito grande para permanecer restrita aos gabinetes ou serem pauta debatida apenas com aqueles que lucram com a educação, que acumulam riqueza a partir da exploração dos trabalhadores e trabalhadoras. Esse debate tem que fazer parte do cotidiano da sociedade.
Nos basta, por agora, os exemplos do Reino Unido e Manaus, que suas dramáticas experiências nos sirvam de modelo do que não devemos fazer, por isso, queremos escolas fechadas para que mais nenhuma vida seja perdida, que o governo se empenhe primeiramente em oferecer à todos vacina de forma gratuita e que possamos reconstruir novos caminhos no pós-pandemia.
Destacamos ainda nossa defesa incondicional ao Sistema Único de Saúde (SUS) como um direito de todos os brasileiros e brasileiras, sistema esse que se mostrou uma ferramenta fundamental no enfrentamento à maior pandemia dos últimos cem anos, por isso, deve ser valorizado e defendido com unhas e dentes por cada um de nós. Um agradecimento especial aos profissionais da saúde que têm se colocado na linha de frente no combate à Covid-19."