Por gabriela.mattos
Marcos Falcon foi morto a tiros de fuzilReprodução

Rio - A diretoria da Portela declarou 10 dias de luto oficial após o assassinato do presidente da escola de samba, Marcos Falcon, de 52 anos, nesta segunda-feira, em Madureira, na Zona Norte. Ele foi morto ao ser atingido por tiros de fuzil enquanto estava no seu comitê eleitoral, na Rua Maria José. Falcon era candidato a vereador pelo Partido Progressista (PP). No atentado, o tesoureiro da escola, Felipe Guimarães foi atingido por um tiro de raspão.

Em nota divulgada no Facebook, nesta noite, a agremiação lamentou a morte do presidente e disse que todos os eventos que seriam realizados nos próximos dias na quadra foram cancelados. "As atividades no local só serão retomadas no dia 6 de outubro. O barracão da Cidade do Samba também não funcionará nos próximos dias", completou. A Azul e Branca afirmou ainda que o vice-presidente Luis Carlos Magalhães vai assumir a presidência da escola.

O corpo foi retirado do local pelo Corpo de Bombeiros, no início da noite, sob salva de palmas de moradores. O velório será realizado na quadra da Portela, na Rua Clara Nunes, 81, a partir das 8h desta terça-feira. Falcon será enterrado no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, mas o horário ainda não foi divulgado. Ele era casado há 10 anos com a porta-bandeira da Beija-Flor Selminha Sorriso, tinha filhos e netos.

Em rede social, a sua filha Aline Martins publicou uma foto deles e escreveu na legenda: "Eu sei que vou te amar, por toda minha vida vou te amar, em cada despedida vou te amar". Além disso, os fãs de Selminha Sorriso escreveram mensagens de apoio à porta-bandeira na Internet. "Você é guerreira, que ele esteja em paz", disse um dos internautas. "Os meus sentimentos a toda família portelense", acrescentou outro.

De acordo com a assessoria de imprensa de Falcon, dois homens armados com fuzil entraram no comitê e outros dois, que estavam encapuzados, esperaram do lado de fora. Depois, houve muitos tiros. A assessoria contou ainda que cinco pessoas, além de Falcon, estavam dentro do estabelecimento na ocasião do crime. 

O delegado Rivaldo Barbosa, diretor do Departamento de Homicídios do Rio, confirmou que foi uma execução e que o presidente da Azul e Branca foi atingido por diversos tiros. No entanto, ele disse que poderá dizer em quais partes do corpo Falcon foi atingido depois do laudo do Instituto Médico Legal (IML).

"Foi uma ação direcionada, criminosa e sumária. Reunimos todos os parentes na DH, para termos uma ideia se ele relatou algum tipo de ameaça. Estamos buscando informações na localidade, onde era uma pessoa muito querida. Vamos dar uma resposta necessária e suficiente. Vamos nos empenhar ao máximo", reforçou o delegado.

Luis Carlos Magalhães elogiou Falcon e destacou que ele ajudou a "elevar a autoestima do portelense". "Era uma grande liderança. Uma pena que isso tenha acontecido", disse. O prefeito Eduardo Paes lamentou o assassinato do presidente da Portela e pediu para a polícia esclarecer o caso rapidamente. "Falcon revolucionou com amor e dedicação a nossa Portela. Meus sentimentos à família dele e, especialmente, à minha amiga Selminha Sorriso e toda família portelense", acrescentou.

Amigo de Falcon, o cantor Belo reforçou que a morte do presidente da Azul e Branca é uma "perda imensa e irrecusável para o Carnaval". "Foi com imensa dor e tristeza que eu recebi essa notícia chocante da morte do presidente da Portela e, mais importante, meu amigo e padrinho. Descanse em paz, meu amigo. Que Deus o tenha em bom lugar", completou.

Em nota, a diretoria da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) e a Beija-Flor também lamentaram a morte do presidente da Portela. 

O carnavalesco da Mocidade, Alexandre Louzada, que em 2014 e em 2015 disputou o Carnaval pela Azul e Branca, comentou a perda do amigo em uma rede social: “Venho aqui prestar minha solidariedade aos familiares e a toda nação portelense pelo triste episódio que vitimou o presidente da gloriosa Portela.”

Em visitas recentes ao Rio, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, fez declarações sobre a segurança dos candidatos e eleitores. Na última sexta, ele informou que as Forças Armadas permanecerão na Região Metropolitana, mesmo após a Paralimpíada, para contribuir com a segurança nas eleições, no próximo domingo.

Em agosto, em visita à Baixada Fluminense, Gilmar Mendes solicitou ao ministro da Justiça, Alexandre Moraes, que a Polícia Federal entrasse nas investigações dos homicídios de candidatos a cargos eletivos deste ano. Até então, havia 20 registros em dez estados, sendo 11 na Baixada.

Marcos Falcon era subtenente da Polícia Militar e estava licenciado do cargo para o período eleitoral. Em abril de 2011, foi preso e expulso da PM acusado de pertencer a milícia que atuava nos bairros de Oswaldo Cruz e Madureira, região da agremiação. Na época ainda diretor de Carnaval da Portela, ele foi detido quando levava Paulo Ferreira Júnior para se apresentar à Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Draco).

Por falta de provas, a Justiça inocentou Falcon de todas as acusações, e o processo foi arquivado a pedido do Ministério Público. Ele, então, foi reintegrado à Polícia Militar em 2013.

Ameaça de morte

Em março, o blog do Leo Dias, colunista de O DIA, publicou que a 29ª DP (Madureira) estava investigando um plano para assassinar Falcon. A coluna confirmou a existência de um áudio, que está em poder da polícia, em que um homem declara existir tal intenção de homicídio. Na ocasião, o presidente confirmou a investigação, mas pediu para não falar, justamente para não atrapalhar o trabalho dos policiais.

Presidente da Portela%2C Marcos Falcon%2C foi morto na tarde desta segunda-feiraWhatsApp O DIA (98762-8248)

Falcon já sofreu quatro atentados, levou 18 tiros e se submeteu a nove cirurgias reparadoras. Mas esta teria sido a primeira ameaça dele após assumir o cargo na Portela.

Rivalidade com Rogério Andrade

A queda de braço entre Rogério Andrade, patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel, e Falcon teve um capítulo à parte na apresentação dos sambas enredo de 2015, na Cidade do Samba. Ali, o patrono Rogério Andrade imaginava tornar a Mocidade o centro das atenções, com a apresentação da rainha de bateria Claudia Leitte. A Portela, no entanto, roubou a cena.

A participação dos componentes das escolas era proibida no evento, mas Falcon liberou a entrada dos portelenses pelo barracão. A Azul e Branco foi a única a ter dezenas de vozes cantando o seu samba. Andrade não gostou da manobra e deixou a festa naquele momento. “Esse cara nunca mais vai brincar comigo”, teria dito, referindo-se a Falcon.

A verdade é que na estratégia para tornar-se a grande personalidade da Sapucaí, o contraventor não considera como adversários antigos bicheiros como Anísio, Capitão Guimarães ou Luizinho Drumond, que acha superados. 

Desde que destituiu Paulo Vianna da presidência da Mocidade, como revelou O DIA, o ousado Andrade imprimiu seu estilo à escola. Despejou dinheiro onde havia salários atrasados, trouxe a peso de ouro o carnavalesco Paulo Barros, tricampeão do Grupo Especial, e a cantora Claudia Leitte. Tudo para ganhar o título que não vem desde 1996.

Colaboraram o colunista Leo Dias e o estagiário Rafael Nascimento

Você pode gostar