Por thiago.antunes

Rio - Na década de 1990, era com uma história passada de boca a boca sobre uma Kombi Branca que rondava as escolas atrás de crianças para retirar seus órgãos. Hoje em dia, o velho boato ganhou roupagem nova, mas com o diferencial de ser passado com a velocidade de um clique: através de aplicativos, como o WhatsApp.

Delegacia registra até três casos por semana de vítimas de boatos em crimes digitaisDivulgação

A rapidez que uma informação falsa ganha vida e gera descontrole foi mais uma vez provada quarta-feira, em Araruama. Um casal foi espancado e teve o carro incendiado após um homem tirar uma foto deles e do veículo em que estavam. Pelo aplicativo, disse que os dois eram sequestradores. Moradores, então, cercaram o carro.

“O casal seria linchado se a gente não chegasse. Tudo começou por causa do áudio no WhatsApp”, contou o subcomandante da Guarda Municipal, Alex Silvestre, chefe da equipe que evitou o linchamento. O caso é semelhante ao da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, espancada até a morte no Guarujá, em São Paulo, após boatos em redes sociais de que ela seria uma sequestradora.

De acordo com a delegada Daniela Terra, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, tanto quem cria o boato quanto quem compartilha pode responder criminalmente. “As pessoas não podem compartilhar o que não têm certeza. Quem compartilha aquilo que não é verdade pode responder por difamação e injúria e dolo eventual se o boato acarretar um crime”, disse.

Fabiane morreu espancada após ser apontada como sequestradoraReprodução

A DRCI é procurada duas a três vezes por semana por pessoas vítimas de boatos em crimes digitais. “Nessa semana, o pai de um rapaz procurou a delegacia para dizer que ele estava sendo apontando no WhatsApp como autor de um crime. Um amigo fez a brincadeira, que viralizou. Ele morava em área de tráfico e passou a ser procurado. É importante que as pessoas não disseminem boatos, que têm sido cada vez mais frequentes”. 

Casal foi retirado do carro por agressores e salvo por policiais militaresReprodução

“No grupo de Zap da escola da minha filha as mães alertavam para Hilux Preta usada para raptar as crianças. Quando vi um carro preto se aproximando do meu veículo que estava com três crianças, acelerei e procurei a polícia”, disse Karla Farias, 32 anos, que faz transporte escolar na Ilha do Governador. O boato da Hilux cresceu tanto que forçou a Polícia Civil a desmenti-lo.

WhatsApp: falta de filtro facilita boato

Para o especialista em redes sociais, Marcelo Alves, as informações compartilhadas no WhatsApp são rapidamente disseminadas ao contrário de outras redes. “Não possui filtro por se tratar de uma conversa interpessoal, na qual o conteúdo é livre. No Facebook, por exemplo, há algoritmos do sistema que tiram do ar mensagens de ódio ou fotos com nudez”.

Para ele, as pessoas devem verificar se a informação que recebe pelo aplicativo tem fonte segura. Segundo a Lei Carolina Dieckaman “quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida” pode ser condenado a pena de até dois anos de prisão e multa.

Boatos que viralizam

— Nesta quinta-feira, uma mensagem foi amplamente divulgada em estados diferentes informando que a empresa Kopenhagen estava distribuindo ovos de Páscoa. A empresa foi obrigada a dar uma declaração em nota dizendo que a informação era falsa.

— Menino hostilizado por Cabral virou seu agente penitenciário. Em 2011, um criança foi destratada pelo então governador Sérgio Cabral. Correu um boato de que que ele, agora, seria seu carcereiro em Bangu. A mentira lhe trouxe problemas. É morador de uma área de risco e passou a ser ameaçado por traficantes, já que foi divulgado que ele era agente penitenciário.

— Um boato dizia que a foto de uma jovem segurando um fuzil era da menina Maria Eduarda, de 13 anos, morta em Acari na semana passada durante uma operação policial. A imagem, no entanto, não é da jovem morta e circula na internet desde 2015.

Você pode gostar