Rio - Moradores dos ‘CEPs do Inferno’ também sofrem com a falta de manutenção adequada de serviços básicos. Além da recusa de lojas e Correios a entregar mercadorias nestas áreas, como O DIA mostrou no domingo, as empresas responsáveis pelo fornecimento de luz, água, gás, telefone, coleta de lixo e outros serviços a cada dia têm restringido cada vez mais o acesso a estes endereços, por conta da violência. São comunidades dominadas por traficantes na Zona Norte, como Pavuna, Acari, Anchieta, Ricardo de Albuquerque e adjacências.

Em vias como Herculano Pinheiro, Embaú, Mercúrio, Avenida Chrisóstomo Pimentel de Oliveira (antiga Estrada Rio do Pau), Coronel Moreira Cézar, Solon, Sargento de Milícias e Alcobaça, os bandidos instituíram uma ordem ousada: só funcionários de concessionárias que residem nas localidades onde determinado serviço tem que ser feito podem atuar. Os demais são impedidos. Quem insiste, corre o risco de ser assaltado, espancado, sequestrado e até ferido a tiros.
Funcionário de uma prestadora de serviço da Light, X., 45, está afastado, com problemas psicológicos, depois de ser baleado na perna, quando fazia reparo na rede elétrica no Morro do Chapadão. A polícia apura informações de que criminosos teriam atirado por ele não morar lá. Naquele mesmo dia, havia uma operação da PM na localidade, com troca de tiros.

Na Rua Alcobaça, em Anchieta, funcionários da Light foram assaltados e um carro da empresa incendiado por bandidos em janeiro. Entre 2014 e 2016, a concessionária fez 96 registros em delegacias, por conta de funcionários vítimas de roubo, sequestros-relâmpago e lesão corporal.
Os endereços são conhecidos como CEPs do Inferno ou do Medo, em referência à sigla dos Códigos de Endereçamento Postal, usados pelos Correios. Estima-se que pelo menos 200 mil cariocas morem em ruas que se transformaram em corredores de roubos de cargas.
'Ônibus, nem sonhamos. Só nas vias principais’
Nos últimos três anos, a Light gastou pelo menos R$ 600 mil com a troca de transformadores e outros tipos de equipamentos danificados por tiros disparados pelas quadrilhas nos ‘CEPs do Medo’. Nas redes sociais, moradores lamentam a falta de coletas de lixo regular e reparos em encanamentos, por exemplo, quando necessários.
“Ônibus, nem sonhamos. Só passam nas vias principais”, afirma K., que mora no Chapadão. “Na minha rua (Virgílio Filho, na Pedreira, em Costa Barros), as barricadas dos bandidos, para impedir viaturas e caveirões da PM, também prejudicam o recolhimento de lixo e circulação de ambulâncias”, lamenta Y..
No final da manhã de ontem, segundo testemunhas, ladrões de cargas descarregaram um caminhão de batatas fritas na Rua Virgílio Filho, roubado na Avenida Brasil .