Rio - Implementar escolas em tempo integral no Complexo do Alemão é uma das iniciativas que a prefeitura estuda como forma de diminuir a criminalidade na região. O plano piloto do programa deve ser concluído em até duas semanas. Na segunda reunião do Gabinete de Gestão Integrada (GGIM), ontem, no Centro de Operações, o prefeito Marcelo Crivella discutiu a evasão escolar e ações sócio-culturais com secretarias e representantes da segurança, como Exército, Marinha do Brasil, Aeronáutica e Guarda Municipal.
“É triste constatar no Rio de Janeiro que a violência aumentou, mas também ficou mais jovem. Você vê meninos com 12, 13 anos em gangues de traficantes. É um absurdo. Nem sei se há algo parecido com isso no mundo”, lamentou o prefeito.
Ontem, quatro unidades de educação municipal na comunidade do Morro da Serrinha ficaram sem aula por causa da violência. Ao todo, 810 estudantes de duas creches e duas escolas tiveram que ficar em casa. No mês de abril, 44.249 alunos da rede municipal ficaram sem estudar em 138 unidades.
O Complexo do Alemão seria o projeto-piloto de ações de cidadania, área prioritária pelos “altos índices de violência”, segundo Crivella. Além de escolas integrais, projetos culturais (como escolas de artes) e sociais (bancos de empregos) posteriormente seriam levados para outras comunidades. A ideia veio de conversas que o prefeito teve com lideranças comunitárias e moradores.
A diretora-executiva do Instituto Igarapé, Ilona Szabó, disse que o foco da ação municipal sobre segurança deve ser a prevenção qualificada, mas isso não significa apenas a universalização de políticas sociais. Segundo a especialista, é preciso a integração de secretarias para identificar as famílias vulneráveis, que devem receber atenção desde a primeira infância dos filhos até as habilidades parentais dos adultos.
“Devemos disputar cada jovem, um a um. A escola não tem sido muito atrativa. Mas não basta apenas o horário integral. Tem que ter capacitação na mediação de conflitos. A terapia cognitivo-comportamental é uma metodologia barata”, comentou.
ONG sugere intervenções urbanas
Segundo a especialista em segurança Ilona Szabó, diretora-executiva do Instituto Igarapé, um dos papéis que o poder municipal pode exercer para a diminuição dos homicídios e da violência é a intervenção urbana. Ou seja, é papel da prefeitura criar espaços de integração física e social entre as áreas mais vulneráveis à violência e o restante das cidades. Ela sugere a criação de lugares de convivência seguros.
“Na Colômbia, isso deu muito certo. Nos inspiramos muito nesse exemplo colombiano com a criação das Bibliotecas Parque e do Teleférico do Alemão, e ambos não funcionam mais. Devemos voltar a olhar para isso”, disse.
De acordo com Ilona, este tipo de política pública deve fazer parte de um plano municipal de segurança cidadã com o enfoque na prevenção de crimes violentos.
Homicídios afetaram 50 milhões no Brasil
De cada três brasileiros, um teve amigos ou parentes assassinados, revela pesquisa do Datafolha para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Segundo o estudo, divulgado ontem, cerca de 50 milhões de brasileiros (35%) maiores de 16 anos perderam pessoa próxima vítima de homicídio ou latrocínio (roubo seguido de morte).
O índice dos que tiveram familiares ou amigos mortos violentamente é maior entre os negros (38%), enquanto entre os brancos é de 27%. Além disso, 12% da população maior de 16 anos (16 milhões de pessoas) tiveram alguém próximo morto por agente de segurança. Entre jovens, de 16 a 24 anos, o percentual chega a 17%.
Quase todos os que respondentes (94%) acreditam que o índice de homicídios no Brasil é muito alto. Em 2015, segundo o FBSP, ocorreram 58.383 mortes violentas no Brasil. “Não devemos achar que é normal essa violência. As pessoas acham que não há o que fazer, mas há. Temos que cobrar das nossas lideranças que façam as coisas certas”, diz Ilona Szabó, do Instituto Igarapé, que participou do lançamento da campanha Instinto de Vida, que propõe medidas concretas para reduzir em 50% os homicídios na América Latina em dez anos. A meta requer redução de 7% ao ano , o que já foi atingido em cidades, tanto do Brasil e em outros países.
Reportagem da estagiária Alessandra Monnerat