Rio - Mães, parentes e amigos de vítimas da violência institucional de diferentes estados do país entregaram nesta sexta-feira, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), uma carta à Comissão de Direitos Humanos da Casa. A carta pede justiça e a responsabilização do Estado por chacinas em favelas, alegando que aumenta a cada ano o número de homicídios de pessoas pobres e negras. Dentre as demandas do manifesto, estão a criação de um fundo de reparação econômica, psíquica e social a parentes de vítimas, a autonomia das perícias e a aprovação do Projeto de Lei 182/2015, tramitando na Alerj, que determina afastamento imediato de policiais que já respondam a processos na Justiça.
Fundadora do movimento Mães de Maio, grupo formado de parentes de vítimas da onda de violência ocorrida em São Paulo no ano de 2006, Débora Maria da Silva saiu da Baixada Santista, São Paulo, ontem à noite, para participar do movimento. Seu filho foi um dos mortos do episódio, que contabilizou 564 assassinatos e ficou conhecido como Crimes de Maio.
- Professores aposentados do estado vão à Alerj pedir pagamento em dia
- Informe do DIA: Morte de ex-deputada movimenta Alerj para vaga na Agetransp
- Alerj vota nesta terça projeto que estende calamidade financeira do Rio até 2018
- Sem acordo, Alerj adia votação que antecipa receitas de ICMS
- Alerj aprova projeto que obriga Supervia e Metrô Rio a instalar rampas de acesso
- Manifestantes da 'Greve Geral' se reúnem em frente à Alerj
“Menos de 2% dos meninos mortos tinham passagem na Polícia, mas mesmo se todos tivessem passado, no Brasil não há pena de morte”, disse ela. Debora lembrou que, quando perdeu o filho, entrou em depressão profunda. “Estava na cama do hospital, quando tive uma visão do meu filho, pedindo para eu lutar pelos que estão vivos, que eu não devia me deprimir, porque para ele só existia a justiça, já que não voltaria mais”.
Hoje, ela é pesquisadora pela Universidade de São Paulo, participa de encontros em outros países para falar sobre o tema e dá oficinas de empoderamento para mães de vítimas da violência. “Estamos criando vários núcleos em luta pela desmilitarização das Américas. Não parimos filhos para que eles sejam mortos pelo Estado”.
Deborah e outros militantes do grupo que esteve na Alerj participam do 2º Encontro da Rede Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo do Estado, que termina amanhã. Os dois dias lembram o assassinato de Johnatha de Oliveira, em Manguinhos, em 2014, os Crimes de Maio e os homicídios de Vitor Hugo da Cunha, em Acari, em 2004, e Maxwill de Souza dos Santos, em Brás de Pina, em 2009, dentre outros casos.
De acordo com os organizadores do encontro, entre 2009 e 2015, 17.688 pessoas foram mortas pelas polícias de todo o país. Em 2016, no Rio de Janeiro, agentes de segurança mataram 920 pessoas. Nos três primeiros meses deste ano, mais de 300 pessoas foram mortas, o equivalente a três mortos por dia pelas forças do Estado.
“Acredito que esses projetos de lei vão passar porque políticos também são seres humanos e o clamor das mães em nível nacional tem que ser ouvido por essa Casa, que é a casa do povo”, declarou Débora. “Enquanto não votarem os projetos de lei, vamos pressionar, porque a força das mães está nas ruas. Nossos mortos têm voz”.
O encontro é promovido pelos movimentos de vários estados do país, como o Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, Mães de Maio de São Paulo, Mães de Manguinhos, Centro dos Direitos Humanos de Nova Iguaçu, Fórum Grita Baixada, Fórum de Juventudes RJ, Mães do Ceará, Associação de Mães do Espírito Santo e Mães de BH.
Neste sábado, o grupo vai se concentrar a partir das 14h no Campo do Society, na favela de Manguinhos, zona norte da capital fluminense. A programação inclui roda de conversas, exibição de vídeos, oficina para crianças sobre cultura afro e oficina sobre uso das ervas e plantas medicinais, entre outras atividades.