Rio - Luiz Fernando da Costa, de 49 anos, conhecido como Fernandinho Beira-Mar, foi transferido da Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia na manhã desta quinta-feira. O DIA revelou um bilhete em que o traficante revelava seus planos de retomar o comércio de armas com a Nigéria. Pela primeira vez, ele admitiu que trocou drogas com traficantes nigerianos por 108 fuzis para abastecer as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
"Assim que a gente tiver caixa [dinheiro] vamos montar uma empresa nossa no Suriname e outra no Paraguai. Para a gente trazer tudo lá de fora a preço de custo. Como eu fazia para levar as armas para a guerrilha [Farc]. (...) Para comprar 108 armas na Nigéria (...) eu mandei a mercadoria no navio. Para cada quilo de pó [cocaína] eu pegava 4 bico [fuzil]", diz trecho de carta, interceptada pela Polícia Federal.
Beira-Mar comandava uma quadrilha internacional de tráfico de drogas mesmo detido em um Presídio Federal de Segurança Máxima de Rondônia. O esquema foi desmantelado ontem pela Polícia Federal, que durante as investigações identificou que Beira-Mar juntava dinheiro para expandir seus negócios para o Suriname e traficar fuzis.
Por segurança, o destino final do preso não foi informado pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e deve ser divulgado somente após seu desembarque.
Beira-Mar foi levado por uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) com cerca de 20 agentes federais. O comboio do Sistema Penitenciário Federal e da Polícia Federal chegou por volta das 9h50 ao Aeroporto Internacional Governador Jorge Teixeira, na capital rondoniense. O embarque foi por volta das 11 horas.
O traficante foi transferido após a deflagração da Operação Epístolas, que através de investigações mostrou que, mesmo do presídio, o detento ainda comandava negócios que chegaram a movimentar R$ 9 milhões nos últimos anos. A ação da PF prendeu dez parentes do detento.
Apelido de Beira-Mar: 'Psicopata'
Chamando Bolívia de ‘Brasília’ e Paraguai de ‘Cidade do Hino’, Beira-Mar, ou o ‘Psicopata’ como é chamado pela quadrilha, escrevia recados em folhas de papel que eram repassados para o seu vizinho de cela através do uso de barbantes.
Os recados saíam por visitantes em partes íntimas e entregues a um mulher, Francisca dos Santos (presa ontem) que digitava os bilhetes em computador. “O objetivo era evitar que a grafia do Beira-Mar fosse identificada”, afirmou o delegado Leonardo Marino, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes de Rondônia.
Após digitalizadas, as cartas eram passadas por Whatsapp e deixadas no rascunho de emails: quem tinha a senha em comum acessava. Nos bilhetes, além de ordens, ele também dava fórmulas de misturas para a composição das drogas e uso da pasta base de coca. Com helicópteros, hidroavião e avião próprios, a quadrilha trazia drogas do Peru, Paraguai e Bolívia. O destino final era o Rio de Janeiro.
Do lado de fora da cadeia, Beira-Mar tinha como seus principais colaboradores seus parentes. Entre os presos ontem estão cinco filhos do traficante e sua irmã Alessandra da Costa, detida no apartamento onde mora, em Caxias. Ela é apontada por administrar o patrimônio ilícito em torno de R$ 30 milhões.
Com informações do Estadão Conteúdo