Rio - Vigilantes levantaram a hipótese de que o assassinato de dois seguranças que faziam a escolta armada do caminhão de cigarros no Arco Metropolitano, na manhã desta quarta-feira, foi uma retaliação das quadrilhas especializadas nesse tipo de crime, que agem na rodovia.
Um segurança que trabalha com escolta armada contou que na semana passada, uma equipe de outra empresa, mas que também faz escolta para a Souza Cruz, conseguiu evitar um assalto. Houve tiroteio e os vigilantes conseguiram tomar as armas dos bandidos. “O problema é que eles (vigilantes) postaram fotos com os fuzis recuperados. Foi retaliação. A intenção era arrebentar com a escolta. Foram mais de 20 tiros no vidro da frente do carro”, afirmou.
Em nota, a Souza Cruz informou que nos últimos cinco anos a quantidade de assaltos a cargas da empresa em todo o estado do Rio subiu 127% — a média Brasil, nesse mesmo período, foi de 21%. “É um número muito preocupante. O impacto financeiro destas ocorrências, só em 2016, foi da ordem de R$ 20 milhões”, explicou Giovanni Oliveira, gerente nacional de Operações da empresa.
Outra preocupação da Souza Cruz diz respeito à punição dos diferentes perfis de infratores desta modalidade criminosa. “Na nossa legislação, o intermediário do roubo de carga não é preso, mas apenas aquele que rouba a carga, o que acaba por não inibir, e às vezes até incentivar, esta prática criminosa. Se o comerciante que vende carga roubada corresse o risco de perder, por exemplo, o alvará de funcionamento, ele seria mais consciente”. Sobre a morte dos vigilantes, a empresa alegou que “está buscando alternativas para reduzir a ostensividade de escoltas armadas na operação, visando à preservação dessas vidas”.
Reforço da Força Nacional não inibe ataques
Foram meses de apelo por ajuda, dias gastos com reuniões de autoridades definindo estratégias e treinamento específico para combater o roubo de cargas na Região Metropolitana do Rio. Contudo, o reforço da Força Nacional aparenta ser mais uma das soluções decorativas para o problema da criminalidade no estado. Nesta quarta-feira, dois vigilantes de uma escolta armada da empresa Seculus foram assassinados por uma quadrilha de ladrões de carga quando faziam a proteção de um caminhão que transportava cigarros.
O crime ocorreu no Arco Metropolitano, em Japeri, na Baixada Fluminense, um conhecido ponto de assaltos. Tanto que uma das vítimas, o vigilante Jones de Souza da Silva, de 28 anos, já havia sofrido um ataque no mesmo lugar, em fevereiro. Na ocasião, um colega de Jones, Yago Aguiar Sant’anna, 24, foi morto com tiro no rosto. Além de Jones, que morreu no local, Benedito Charles da Silva, 46, atingido na cabeça, tórax e mão, faleceu quando deu entrada no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu.
O terceiro vigilante, Reginaldo dos Santos Aragão, 31, foi atingido por tiros na mão direita e precisou passar por uma cirurgia de emergência de reconstrução. Ele também foi atingido na cabeça e costas e seu estado de saúde é estável, segundo boletim divulgado pelo Hospital da Posse nesta quinta-feira. Não há previsão de alta.
Os criminosos, de acordo com a Polícia Militar, seriam da comunidade do Guandu, a poucos metros de onde o crime aconteceu. Mais de 25 disparos acertaram o carro da escolta. Os assaltantes, segundo testemunhas, estavam fortemente armados. O motorista do caminhão contou que os bandidos usavam três carros. Além do caminhão com a carga de cigarros, os criminosos levaram um automóvel que passava pelo local.
Após o crime, policiais do 24º BPM (Queimados), 15º BPM (Duque de Caxias), 39º BPM (Belford Roxo) e do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) fizeram uma operação na favela do Guandu para localizar os criminosos e recuperaram o material. Conseguiram recuperar o caminhão e parte da carga de cigarros. Um suspeito foi preso e foram apreendidas uma espingarda, rádios transmissores, baterias para os aparelhos e três fardas camufladas.
Em outro ataque, bandidos roubaram três carretas da Coca-Cola na Avenida Brasil, mas policiais do 41º BPM (Irajá) conseguiram recuperar os produtos. Os criminosos, que escoltavam a carga, conseguiram fugir.
A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) foi acionada para o local do crime e uma perícia foi realizada. Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública explicou que o Arco Metropolitano não faz parte da região policiada pela Força Nacional.
Entretanto, não informou quantas pessoas foram presas ou quantos roubos foram evitados pela corporação. “Eles passam o dia inteiro parados na Estrada do Rio do Pau, em Anchieta”, contou um morador. Para o especialista em segurança pública, Vinicius Cavalcante, o efetivo da Força Nacional enviado pelo governo federal (300 homens) para o Rio de Janeiro não é a solução ideal. “Mas qualquer ajuda é bem vinda”.
Seguranças usam carros sem blindagem
Segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP), nos dois primeiros meses deste ano foram feitos 1.145 registros de roubos de carga no estado, o que representa um aumento de 180% deste crime em quatro anos. Levantamento da Federação das Indústrias do Rio (Firjan) indica que a cada hora e 10 minutos um roubo de cargas é registrado no Rio.
Todas as ações são extremamente violentas, com dezenas de bandidos armados de fuzis que param os caminhões a tiros. Apesar dos riscos, os seguranças da escolta armada usam carros que não são blindados.
Em abril, durante audiência pública na Alerj, que debateu o aumento do índice de roubo de cargas, o presidente do Sindicato dos Vigilantes, Antonio Carlos, reclamou que a legislação que rege o setor da segurança privada está atrasada. “Com o armamento extremamente defasado, carros sem blindagem e de baixa potência, evidentemente que o resultado são muitas mortes de vigilantes de escolta”
Para o especialista em segurança, Vinicius Cavalcante, a legislação não evolui para não atrapalhar o “bico de policiais que, eventualmente, atuam clandestinamente nas escoltas de maior risco”.
Reportagem de Adriano Araújo e Wilson Aquino, com o estagiário Rafael Nascimento, sob supervisão dos repórteres