Rio - Vindos de Miami, nos Estados Unidos, 60 fuzis estavam prestes a entrar despercebidos no Rio pelo Aeroporto do Galeão. Mas uma operação deflagrada nesta quinta-feira pela Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) e pela Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme) impediu que o armamento de guerra seguisse seu destino: as mãos de criminosos no estado. Foi a maior quantidade de fuzis já apreendida em território fluminense, e cada um seria vendido por até R$ 70 mil. Quatro suspeitos foram presos no Rio e um brasileiro é procurado no exterior. Eles são apontados como membros de uma quadrilha internacional de armas.
O carregamento chegou ao Galeão na semana passada e foi apreendido cinco dias depois no terminal de cargas durante o despacho aduaneiro. Para driblar a fiscalização, o armamento foi transportado dentro de aquecedores de piscina. Como o material não passou pelo raio-x no aeroporto, ele seria distribuído a traficantes se a Polícia Civil não tivesse intervindo, ressaltou o delegado assistente da DRFC, Tiago Dorigo. “Nem tudo passa pelos scanners”, explicou. Ciente da chegada das armas, a Civil acionou a Polícia Federal, que determinou a inspeção.
Segundo investigadores, a quadrilha já pode ter trazido outros 30 carregamentos como este para o Rio. Ou seja, 1.800 fuzis. A operação foi possível graças à investigação iniciada pela Polícia Civil em 2015 , após o assassinato de um policial militar vítima de um assalto com pistola em São Gonçalo. “A polícia seguiu o rastro da arma que matou esse policial. A investigação começou focada em associação ao tráfico das comunidades de lá. Ela evoluiu e a gente identificou também o tráfico de armas”, resumiu Dorigo.
O delegado informou ainda que unidades da Civil passaram a perceber o uso de fuzis AR-10 calibre 762 em algumas ações criminosas na capital e na Baixada Fluminense. “Havia um link entre a investigação em curso em Niterói e a utilização dessas armas. Mesmo modelo, mesmo calibre...”, acrescentou.
Entre os fuzis apreendidos, a maioria com a numeração raspada, havia 14 AR-10 (usado pela Core e pelo Bope), 45 AK-47 e um G3, de alto poderio bélico. Segundo a polícia, a apreensão foi avaliada em R$ 4 milhões. Segundo o delegado titular da DRFC, Maurício Mendonça, dois dos presos moravam em Niterói, um na Baixada e outro em Jacarepaguá. Eles foram capturados em locais diferentes. Dois eram responsáveis pelo recebimento e distribuição das armas, um, pelo desembaraço aduaneiro, e outro, pelo transporte do aeroporto até o galpão da organização criminosa, que a polícia não informou onde fica. Os delegados não esclareceram quais quadrilhas ou facções seriam abastecidas pelas armas.
Polícia Civil vai pedir autorização para usar as armas
Foram presos preventivamente Marcio Pereira e Costa (despachante), Luciano Andrade Faria (motorista), João Victor Silva Roza (dono da carga) e José Carlos dos Santos Lins. O nome do brasileiro procurado nos Estados Unidos não foi divulgado. Segundo a Polícia Civil, ele é dono de uma empresa regularizada que atua no mercado de importação e exportação com uma atividade criminosa semioficial. Os delegados explicaram que o despachante Marcio Pereira e Costa é credenciado no aeroporto para “desembaraçar mercadorias” que chegam ao país.
A Polícia Civil vai solicitar que as armas apreendidas sejam destinadas para uso da corporação. “Quantas pessoas vão deixar de morrer com a apreensão desses fuzis? Me sinto enxugando gelo, mas ‘ai’ da sociedade se a gente não exugasse gelo dia dia após dia”, comentou o secretário de Segurança Pública, Roberto Sá.