Rio - Vassouras, frutas, legumes, papel, refeições. Tudo recebido a partir de doações de comerciantes, moradores e prefeituras. Assim muitos batalhões da Polícia Militar conseguem tocar o dia a dia em meio à crise financeira do estado.
A conservação dos prédios das 39 unidades de policiamento ostensivo e as doações que 22 unidades recebem para manter os serviços básicos aparecem em anotações de vistorias realizadas pelo Ministério Público, ao qual O DIA teve acesso com exclusividade. Esse é o sexto tema da série ‘Rio Sem Polícia’.
No batalhão da Maré, a Ceasa é responsável por fornecer frutas e hortaliças. A mesma central fornece hortifrutigranjeiros ao batalhão de Rocha Miranda e, a Fábrica Piraquê, os biscoitos. Na Maré, um acordo foi fechado com o Hospital de Bonsucesso para higienizar os coletes balísticos. Em Bangu, o Exército faz a manutenção das armas.
No interior do estado, os batalhões também contam com ajuda da iniciativa privada ou dos municípios. Em Campos dos Goytacazes, o Shopping Boulevard doa mensalmente material de escritório e a empresa Farinha Rosa fornece farinha, sal, fubá e canjiquinha.
No 38ºBPM (Três Rios), um supermercado oferece as refeições para os policiais administrativos. Em Belford Roxo a prefeitura é a responsável por dedetizar a cozinha e fornecer material de escritório. Enxadas, pás, tesoura de grama, carrinho de mão são doados por empresas privadas.
Em Volta Redonda, o Ministério Público anotou que “algumas prefeituras contribuem com doações e serviços para a manutenção das viaturas e reformas das instalações”. No mesmo batalhão, também há a doação de comerciantes para o material de limpeza.
Em Itaperuna, “existe a doação de moradores e comerciantes para reformas e, por vezes, as prefeituras locais também ajudam”. Macaé recebe auxílio de comerciantes e terceirizados para serviços de reformas e reparos.
Já em Magé, a manutenção das viaturas é feita pela prefeitura e por empresários locais, assim como em outras 21 unidades. Em Teresópolis moradores fazem doações de legumes, verduras e frutas.
Os promotores que realizaram a fiscalização em maio afirmaram que “o restante dos custos da unidade é arcado com a verba destinada mensalmente à unidade, que é insuficiente”. Procurada, a Polícia Militar não comentou sobre os auxílios concedidos.
‘Um mal menor’, diz promotor
Para o promotor Paulo Roberto Mello, da Auditoria Militar, a situação “trata-se de um mal menor”. “Não é a situação ideal, havendo sempre o risco da expectativa de alguma contrapartida por parte do doador. Mas não há como deixar de reconhecer a posição difícil de um comandante de batalhão: responsável pela segurança de toda uma comunidade e não tendo os recursos mínimos necessários. Desde que haja o cuidado de não vincular a doação a alguma contrapartida, trata-se de um mal menor”.
Segundo o promotor, há ainda policiais que atuam como eletricistas ou pedreiros, fugindo da atividade-fim do serviço policial. Pelo menos cinco unidades da PM fizeram acordos com o Ministério Público para receber verbas de transações penais — quando uma pessoa paga uma multa por uma infração leve.